Cenários

Saldo de fevereiro alcança recorde histórico e demissões a pedido permanecem em alta

8 abr 2025

Fev/2025 superou projeções e registrou maior saldo da série histórica (431.995), com serviços liderando (58,98% do saldo) e agropecuária com maior crescimento (+438,31%). Demissões a pedido registraram leve queda na margem (-1,6%), mas ainda alcançou o segundo maior valor da série histórica (806.014).

Nesta edição analisamos o desempenho do mercado de trabalho formal e o perfil dos brasileiros que se demitiram voluntariamente. Utiliza-se os dados mais recentes do Novo CAGED referentes a fevereiro de 2025. O saldo foi extremamente positivo, com a criação líquida de 431.995 vagas formais - um recorde da série histórica iniciada em janeiro de 2020. Esse resultado decorreu de 2.579.192 admissões e 2.147.197 desligamentos, representando um aumento de 40,5% em relação ao saldo de fevereiro de 2024 (307.544 vagas) e 71,1% superior ao registrado em fevereiro de 2023 (252.519 vagas). Comparando com janeiro de 2025 (144.086 vagas), houve um crescimento expressivo de 199,8% no saldo.

No acumulado (1º bimestre) do ano, o saldo atingiu 576.081 postos de trabalho formais, advindo de 4.874.669 admissões e 4.298.588 desligamentos. Esse número representa um aumento de 19,8% em relação ao acumulado de janeiro a fevereiro de 2024 (480.733), além de ser 68,2% maior que o registrado em 2023 (342.594) e 10,6% superior ao acumulado de 2022 (520.938). No entanto, foi 11,7% menor que o resultado obtido no mesmo período de 2021 (652.215), ano marcado pela recuperação pós-pandemia.

O desempenho de fevereiro superou as expectativas do mercado, que previa um saldo próximo a 300 mil vagas. Embora seja comum que fevereiro registre bons resultados devido à sazonalidade - sendo considerado o melhor mês do ano - este saldo ultrapassou todas as projeções, especialmente após um janeiro com desempenho mais modesto em relação ao ano anterior. Os indícios de um mercado aquecido permanecem e ainda preocupa muitos analistas, dado o risco de aumento da inflação e da taxa de juros, que já estão elevadas. Vale salientar que as políticas governamentais de crédito e incentivo à indústria podem ter contribuído para o bom resultado de fevereiro.

Gráfico 1: Admissões, demissões e saldos. Saldo Mensal –2020 a 2025 – Brasil.

Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados
do Novo CAGED. Dados com ajustes declarados até fevereiro de 2025.

Observa-se, Tabela 1, que o setor de serviços liderou a criação de empregos, com 254.812 vagas (58,98% do total), seguido pela Indústria (69.884 vagas) e pelo Comércio (46.587 vagas). A Agropecuária registrou um avanço significativo, com 19.842 vagas criadas, representando um aumento de 438,31% em relação ao mesmo mês de 2024 e mantendo o bom desempenho já observado em janeiro (+61,8% em relação a janeiro de 2024). O desempenho do Comércio também foi notável, com um crescimento de 136,03% em relação a fevereiro de 2024 e 2.536,5% em comparação a 2023. Por sua vez, a Construção alcançou um saldo de 40.871 vagas, marcando um crescimento de 17,79% frente ao mesmo período do ano anterior.

Na composição percentual, o setor de serviços manteve sua posição como principal gerador de empregos ao longo dos anos, embora sua participação tenha caído de 67,46% em 2022 para 58,98% em 2025. A Indústria e a Construção Civil apresentaram participações estáveis, enquanto a Agropecuária aumentou sua representatividade de forma notável, passando de 1,20% em 2024 para 4,59% em 2025. O Comércio também ampliou sua participação relativa no saldo total, atingindo 10,78% em 2025.

Tabela 1: Saldo de Fevereiro - Por Setor de Atividade Econômica. Brasil.

Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados do Novo CAGED.
Dados com ajustes declarados até fevereiro/2025. O total considera os saldos não identificados.

Fevereiro foi marcado por um saldo extremamente positivo e por um elevado número de demissões a pedido, um indicador relevante do aquecimento do mercado de trabalho. Essa tendência, observada ao longo de 2024, continuou em 2025, com janeiro atingindo um novo pico de 819.019 desligamentos voluntários, conforme ilustrado no gráfico 2A. Em fevereiro foram registradas 806.014 demissões a pedido, ou seja, uma leve queda de 1,6% em relação a janeiro, mas ainda sendo o segundo maior valor da série histórica. Além disso, a proporção de demissões a pedido nos desligamentos totais foi de 37,5% em fevereiro de 2025.

No 1º bimestre de 2025, o aumento das demissões a pedido entre 2020 e 2025 foi significativo. Em 2020, o total nesse período foi de 0,7 milhão, com uma taxa de 25,8%. Em 2025, esse número mais que dobrou, alcançando 1,6 milhões e uma taxa de 37,8%. Comparando com anos anteriores, o acumulado de 2025 representa um crescimento de 15,5% em relação a 2024 (1,4 milhões) e um aumento ainda mais expressivo de 32,9% frente a 2023 (1,2 milhões). Esses dados evidenciam uma tendência consistente de alta nas demissões voluntárias, indicando que os trabalhadores estão cada vez mais buscando melhores oportunidades no mercado.

Gráfico 2: Evolução mensal das demissões a pedido e participação
das demissões a pedido no total de demissões. Jan/20 a Fev/25. Brasil.

Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados do Novo CAGED.
Dados com ajustes declarados até fevereiro/25.

A seguir analisamos o fenômeno das demissões a pedido sob quatro aspectos demográficos: escolaridade, faixa etária, região e gênero. De acordo com a Tabela 2, entre 2024 e 2025, todos os grupos educacionais apresentaram crescimento superior a 10%. Os maiores aumentos percentuais foram observados entre trabalhadores com Ensino Médio Completo ou Superior Incompleto (+16,2%) e com Ensino Fundamental Completo ou Médio Incompleto (+16,3%). Esses dois grupos também registraram as maiores variações em relação a 2023, com crescimentos de 36,1% e 33,7%, respectivamente.

No recorte por faixa etária, as demissões voluntárias cresceram em todas as faixas no período 2024-2025. Embora as demissões a pedido tenham crescido 42,1% entre os com 17 anos ou menos, esse grupo detém o menor número absoluto de demissões e consequentemente a menor participação. Entre os jovens de 18 a 24 anos, o total de desligamentos passou de 217.120 no acumulado de 2020 para 478.227 em 2025, ou seja, registrou um crescimento de 120,3%. A segunda faixa com maior valor absoluto é a de 30 a 39 anos. As demissões a pedido nesse grupo passaram de 372.443 em 2024 para 424.251 em 2025, o que representa uma alta de 13,9%.

O texto completo pode ser acessado no Observatório da Produtividade Regis Bonelli.


 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

 

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