Setor Externo

Setor externo: encontros e desencontros

2 set 2022

Ao reconhecer que valor de importações será bem mais alto, Ministério da Economia reduziu projeção de saldo comercial em 2022. Mas Banco Central não fez o mesmo, o que resulta em estimativa de saldo comercial excessivo pelo BC.

No Boletim Macro de jun/22, deixamos claro o nosso desconforto com as projeções oficiais para o saldo da balança comercial em 2022. Em narrativa acompanhada por muitos agentes de mercado, defendia-se que o resultado comercial deste ano seria impulsionado por uma explosão dos termos de troca – a diferença entre os preços de exportação e de importação – derivada, principalmente, do efeito positivo gerado, pela guerra na Ucrânia, nos valores exportados brasileiros. Com saldo comercial recorde, o Banco Central chegava a projetar, inclusive, superávit em conta corrente, o que seria o primeiro resultado positivo desde 2007.

Um acompanhamento mais cuidadoso do comportamento recente dos termos de troca desmonta rapidamente essa narrativa (gráfico 1). No acumulado do ano (incorporando dados do ICOMEX/FGV até jul/22), os termos de troca estão caindo -9,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Para que ocorra uma forte elevação no acumulado até dezembro deste ano, precisaríamos de um desempenho não menos do que fantástico durante os próximos cinco meses. Não parece ser o caso.

Gráfico 1: Termos de troca (2006=100)

Fonte: FGV ICOMEX

Do lado das exportações, a tese defendida pelo governo possui, de fato, respaldo nos dados. Ainda que os sinais mais recentes sejam de moderação nos preços, com perspectivas crescentes de desaceleração mais pronunciada do crescimento global, resulta claro que houve forte aceleração dos preços de exportação nos últimos dois anos – chegando, em 2022, a se superar o pico histórico anterior, registrado em meados de 2011.

O grande problema da narrativa oficial estava do lado das importações, cujos preços aceleraram de forma vigorosa durante os últimos 12 meses. Note-se que, aqui, o efeito-composição importa: as tensões geopolíticas na Europa e uma série de outros choques que não fizeram parte da narrativa oficial (longa desorganização das cadeias produtivas globais, choques climáticos diversos e questões sanitárias na Ásia) acabaram por afetar mais do que proporcionalmente os preços dos bens importados pelo Brasil, em movimento que é, de fato, pouco usual.


Leia aqui o artigo completo na versão digital do Boletim Macro de agosto/2022.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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