Cenários

Sinais de melhora da produtividade

2 out 2023

Após quedas sucessivas ao longo de 2022, a produtividade tem crescido em 2023. Não está claro se essa melhora vai continuar nos próximos trimestres diante da incerteza fiscal que persiste, mas existem alguns sinais promissores. 

Desde 2020 os dados da atividade econômica têm surpreendido favoravelmente, com revisões significativas para cima das projeções de crescimento do PIB. No entanto, até o final de 2022 o bom desempenho da economia não foi acompanhado de uma melhora da produtividade. Após a disrupção resultante da pandemia, no quarto trimestre do ano passado a produtividade do trabalho estava de volta à trajetória de queda observada entre 2017 e 2019.

Em 2023, no entanto, surgiram alguns sinais de uma mudança positiva na trajetória da produtividade. Os dados divulgados em junho pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE já tinham revelado que a produtividade por hora efetiva cresceu no primeiro trimestre de 2023, tanto em comparação com o mesmo período do ano passado (1,3%) quanto em relação ao quarto trimestre de 2022 (2,2%).

No entanto, este bom desempenho decorreu do crescimento extraordinário da produtividade da agropecuária, com elevação de 23,5% em relação ao primeiro trimestre de 2022. Já o setor de serviços, que concentra cerca de 70% das horas trabalhadas, teve queda de produtividade de 1,1% na mesma base de comparação.

A boa notícia é que os indicadores divulgados esta semana pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli mostram que a produtividade do trabalho voltou a crescer no segundo trimestre. Em particular, a produtividade por hora efetiva teve aumento de 2,6% em comparação com o mesmo trimestre do ano passado e de 0,6% em relação ao primeiro trimestre deste ano.

A produtividade da agropecuária teve novamente grande relevância, com elevação de 21,8% em relação ao mesmo período de 2022. Mas, desta vez, a indústria e o setor de serviços também registraram aumentos, de 3,0% e 0,3%, respectivamente. Embora modesta, essa foi a primeira variação positiva da produtividade por hora efetiva dos serviços desde o primeiro trimestre de 2021.

Os dados também mostram que, após quedas sucessivas desde o quarto trimestre de 2020, a produtividade total dos fatores (PTF) cresceu este ano. Após um aumento de 1,7% no primeiro trimestre de 2023 em relação ao mesmo período de 2022, a PTF cresceu 1,0% no segundo trimestre em bases interanuais.

Com exceção de 2020, quando a evolução do indicador foi influenciada pela pandemia, esta foi a primeira sequência de dois trimestres consecutivos de aumento da produtividade do trabalho desde 2017. Embora ainda seja prematuro estabelecer se houve uma reversão da tendência de queda, algumas evidências indicam que pode estar ocorrendo uma mudança de natureza mais duradoura.

Primeiro, embora o crescimento da produtividade da agropecuária tenha sido muito importante, podemos observar que, dentre os demais setores, aqueles de produtividade mais elevada têm tido excelente desempenho, como a indústria extrativa mineral, intermediação financeira e serviços industriais de utilidade pública (SIUP). Mesmo atividades de produtividade média mais baixa, como construção, tiveram aumento expressivo de produtividade este ano.

Segundo, a formalização do trabalho nos últimos anos pode ter contribuído para o aumento da produtividade. Em julho de 2023, as ocupações formais estavam 8,7% acima do período pré-pandemia (fevereiro de 2020), enquanto as informais estavam apenas 1,7% acima.

Entre os trabalhadores formais, o grupo com maior crescimento foi o dos trabalhadores por conta própria com CNPJ (15,0%). Os trabalhadores com carteira também tiveram crescimento expressivo (9,9%) e, levando-se em consideração seu peso maior na população ocupada, foram responsáveis pela maior parcela da geração de ocupações neste período.

Esse padrão é muito diferente do observado entre 2017 e 2019, que foi caracterizado por aumento da informalidade e crescimento elevado do número de trabalhadores por conta própria sem CNPJ. Isso ajuda a explicar a queda da produtividade que ocorreu naquele período.

Um terceiro fator que pode contribuir para o crescimento sustentado da produtividade é o aumento da escolaridade média da população ocupada. Entre 1995 e 2022, o Índice de Capital Humano (ICH) do FGV IBRE cresceu em média 2,2% ao ano (a.a.), refletindo a mudança na composição da mão de obra em favor de grupos mais qualificados e de maior produtividade. Após mudanças abruptas provocadas pela pandemia, o ICH retornou para sua tendência de crescimento observada no pré-pandemia e registrou aumento nos dois primeiros trimestres de 2023.

Não está claro se essa melhora dos indicadores de produtividade vai continuar nos próximos trimestres, diante da piora do cenário internacional e das incertezas fiscais que persistem. Mas existem alguns sinais promissores.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Este artigo foi originalmente publicado pelo Broadcast da Agência Estado em 29/09/2023.

Deixar Comentário

To prevent automated spam submissions leave this field empty.