Economia Global

Sobre o irrealismo das visões (otimistas) dos mercados financeiros americanos

21 set 2022

Participantes de mercado têm visão excessivamente otimista sobre comportamento da inflação nos EUA, e não têm percebido integralmente que o atual quadro inflacionário exigirá do Fed medidas monetárias duras e persistentes.

Uma característica marcante dos atuais tempos de inflação elevada nos Estados Unidos tem sido o otimismo dos participantes de mercado, de modo geral. Isso é verdade, por exemplo, tanto no tocante ao comportamento futuro da inflação, quanto no que diz respeito aos níveis dos juros reais e nominais necessários ao seu combate.

O gráfico abaixo ilustra o primeiro caso. Ele mostra a evolução recente das expectativas de inflação para um ano, obtidas por meio de pesquisas realizadas junto ao público não especializado, e o comportamento da chamada inflação implícita, também para um ano, estabelecida pelas ações dos participantes de mercado.

As mais recentes leituras dos respectivos números indicam expectativas de inflação apuradas pelo Federal Reserve Bank of New York para os próximos 12 meses da ordem de 5,7%, e de 4,8% de acordo com a apuração feita pela Universidade de Michigan. A inflação implícita de um ano, por seu turno, encontra-se em 2,0% (na média do mês; na ponta, 2,4%), ou seja, cerca de metade, ou menos da metade, dos números constatados nos mencionados surveys. Em poucas palavras, o mercado tem uma visão mais otimista acerca da inflação futura do que o público de modo geral.

Expectativas de Inflação e Inflação Implícita de 1 ano – EUA

Nota: mediana um ano à frente = dados mensais; inflação implícita de 1 ano = média do mês.
Últimos dados: mediana um ano à frente = agosto/22; inflação implícita de 1 ano = setembro/22.
 Última atualização: 14/09/22. Fontes: Bloomberg; New York Fed Survey of Consumer Expectations; University of Michigan.

Otimismo comparável também se nota quando observamos o comportamento dos juros de mercado. No começo deste ano, por exemplo, medida pelo CPI, a inflação anual corrente já havia chegado a 7,1% a. a. (dado referente ao ano fechado de 2021, conhecido em janeiro). A taxa nominal de juros de dois anos, porém, determinada fundamentalmente pelas expectativas de evolução da taxa básica de juros no referido período, inicialmente em 0,8%, terminaria o mês de janeiro em 1,2%.

Na mesma época, a taxa real forward de um ano, ou seja, a taxa real média esperada para os 12 meses posteriores aos próximos 12 meses, era negativa, pouco acima de -2,0% ao ano. (Gráfico número ...). E a taxa real dos papéis do Tesouro indexados à inflação, conhecidos por TIPs, para cinco anos, era também negativa, pouco superior a -1,6% ao ano.


Leia aqui o artigo completo na versão digital do Boletim Macro de setembro/2022.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Deixar Comentário

To prevent automated spam submissions leave this field empty.