Taxa de mal estar econômico bate novo recorde no Brasil
Brasil ingressou, em abril de 2021, em território de recorde histórico no ‘índice de mal estar’, que combina desemprego e inflação. Para os próximos meses, expectativa é de novas altas da inflação e de manutenção do elevado desemprego, devido à maior taxa de participação.
O Brasil se vê atualmente em momento econômico delicado. Apesar da recuperação rápida do PIB, choques de oferta têm elevado à inflação, enquanto o mercado de trabalho continua a mostrar, apesar do crescimento recente do emprego, uma alta taxa de desemprego. No gráfico abaixo, nota-se o padrão discrepante da relação entre desocupação e crescimento do PIB no ano de 2020. No primeiro trimestre de 2021, apesar de um crescimento trimestral de 1,2% do PIB, a taxa de desemprego se manteve estável.
Fonte: Elaboração Própria com dados do IBGE.
Em post recente neste Blog, mostrei, com João Santos Sousa e João Victor Duarte, que o Brasil se encontra em situação internacionalmente desfavorável no índice de mal estar, que combina inflação e desemprego. Considerando o primeiro trimestre de 2021, o Brasil perde apenas para a Turquia na OCDE em relação ao nível do indicador.
Em termos mensais, o índice de mal estar, até recentemente, tinha como máxima o mês de agosto de 2016, momento no qual a desocupação tinha chegado a um altíssimo nível, e a inflação em 12 meses apenas começava a ceder. No entanto, nos períodos mais recentes da pandemia, após a nova elevação da desocupação ocorrida no ano passado, junto à aceleração recente da inflação, o país registrou um novo recorde no indicador a partir de abril de 2021, continuando a aumentar no mês seguinte, como mostra o gráfico abaixo.
Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE; mensalização da taxa de desemprego usando metodologia desenvolvida pelo Banco Central.
As perspectivas para os próximos meses, adicionalmente, não são favoráveis. A taxa de desemprego, apesar da recuperação do nível de ocupação ocorrendo desde o final do ano passado, deve se manter pressionada por uma taxa de participação em alta – e ainda assim muito inferior ao nível pré pandemia, como mostra o gráfico abaixo.
Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE; mensalização da taxa de desemprego usando metodologia desenvolvida pelo Banco Central.
No caso da inflação, o aumento de preços tem sofrido aceleração devido aos alimentos e administrados, influenciados pela alta internacional das commodities sem compensação na taxa de câmbio. Enquanto, tomando-se a expectativa do IPCA para os próximos 12 meses, no início de abril havia expectativa de convergência para a meta estabelecida pelo Banco Central, nos meses seguintes o mercado passou a esperar inflação acima desse nível.
Fonte: Banco Central
Desse modo, o Brasil não apenas se encontra em posição desfavorável no índice de mal estar, mas também ultrapassou seu recorde histórico anterior. Para piorar, as tendências recentes são de alta de preços e manutenção de um alto nível de desemprego nos próximos meses, devido ao retorno de trabalhadores que, até recentemente, estavam fora da força de trabalho.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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