Economia Regional

Um sumário de “História econômica da cidade do Rio de Janeiro: da fundação ao século XXI”, de André Villela

22 set 2025

Obra do pesquisador André Villela (FGV EPGE) reinterpreta o declínio econômico do Rio de Janeiro como um processo gradual, multifatorial e tardio, com revisão crítica do timing da perda da liderança industrial para São Paulo.

Principais Conclusões e Contribuições da Obra

Reinterpretação do “declínio” econômico do Rio de Janeiro como um processo gradual, multifatorial e tardio

Ao contrário do senso comum que associa o declínio com o período logo após a mudança da capital para Brasília ou à fusão com o estado do Rio, o livro demonstra que a divergência do PIB per capita e do desempenho econômico só ficaram evidentes a partir da década de 1990. O declínio é resultado de um conjunto complexo de fatores históricos e institucionais, cujos efeitos se manifestam com defasagens prolongadas.

Revisão crítica do timing da perda da liderança industrial para São Paulo

Com base em dados per capita e produtividade do trabalho, o livro sustenta que a supremacia industrial paulista em relação ao Rio se consolidou apenas após 1949, deslocando interpretações tradicionais que apontavam o início da perda ainda no início do século XX. Essa nuance metodológica corrige avaliações históricas anteriores e enriquece o debate sobre a divisão regional do industrial brasileiro.

Resumo

A centralidade do Rio de Janeiro se construiu historicamente por fatores geográficos e contingências internacionais

A localização privilegiada do Rio, aos pés de uma baía protegida e bem-posicionada para o comércio atlântico, somada a contingências históricas marcantes como o ciclo do ouro nas Minas Gerais, a Revolução Haitiana e a transferência da Corte portuguesa durante as Guerras Napoleônicas, consolidou o papel da cidade como principal polo econômico, político e cultural do Brasil por pelo menos dois séculos.

As dinâmicas econômicas do Rio foram marcadas por ciclos de expansão e crise, com períodos de dependência de produtos-chave

Desde o açúcar colonial, passando pelo ouro, depois o café e, finalmente, a hegemonia dos serviços, a economia carioca mostrou grande capacidade adaptativa, mas também intensa vulnerabilidade a choques externos e mudanças de rumos políticos e institucionais.

O livro demonstra que a perda de centralidade econômica do Rio ocorreu de forma mais recente e gradual do que o senso comum sugere

Embora o discurso da “decadência” seja recorrente desde a mudança da capital para Brasília e a fusão da Guanabara com o antigo Estado do Rio, os dados mostram que o PIB per capita e outros indicadores só realmente passaram a divergir nacionalmente após 1990. Transições institucionais e de base produtiva são apresentadas como processos de longa maturação e sem rupturas imediatas.

Enfatiza o papel das instituições e da estrutura regional na perda de dinamismo econômico

Além da desindustrialização, que foi nacional e não exclusividade carioca, destaca-se que a falta de uma base regional forte e o “isolamento” do Rio em relação a um entorno imediato mais pobre limitaram os potenciais efeitos de aglomeração e especialização produtiva, em contraste com o papel polarizador exercido por São Paulo em um estado notadamente mais rico.

Aborda o conceito de “capitalidade” para explicar uma cultura política singular que privilegiou temas nacionais em detrimento de questões locais

O livro reforça a ideia – desenvolvida por diversos autores – de que, após perder a condição de capital, o Rio enfrentou uma certa ambiguidade institucional que reduziu sua capacidade de reflexão e resposta a desafios próprios, agravando problemas de governança e planejamento estratégico.

Traz novas perspectivas para o debate sobre o “declínio relativo” do Rio, relativizando explicações baseadas apenas na migração da capital ou eventos pontuais

As explicações privilegiam interpretações históricas de longa duração e destacam contingências, escolhas institucionais e transformações da estrutura econômica global, indo além do fatalismo ou de diagnósticos simplistas.

A obra se destaca pelo uso criterioso de dados e metodologias atuais de história econômica

Ao relativizar ideias pré-concebidas com séries históricas detalhadas sobre população, renda, emprego industrial e terciário, câmbio e arrecadação, o livro oferece uma narrativa rigorosa, baseada em evidências sólidas, e recupera debates clássicos com olhares revisionistas e metodologia contemporânea.

Para ler um resumo maior e mais completo do livro “História econômica da cidade do Rio de Janeiro: da fundação ao século XXI”, do professor André Villela, clique aqui.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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