Novas projeções do FMI para o PIB no biênio 2020/21: Brasil e comparações internacionais
O FMI divulgou atualizações para as projeções de diversas variáveis macroeconômicas, na sua reunião (World Economic Outlook) de outubro de 2020. Entre as novas projeções, há dados sobre a taxa real do crescimento do PIB, para os quase 200 países do mundo, além dos agregados (mundo, economias avançadas, emergentes, América Latina...). De maneira geral, as projeções foram de perdas menores da atividade econômica, do que o projetado anteriormente, em junho deste ano.
O Gráfico 1 mostra, para os agregados, as projeções das taxas médias reais de crescimento do PIB ao ano, no biênio 2020/21 (crise do coronavírus e a possível recuperação). E, para o Brasil, há taxas do biênio, segundo as projeções do FMI, e de acordo com a mediana das expectativas de mercado do Boletim Focus.
Segundo as projeções mais recentes do FMI, o PIB mundial deve ficar, em média, praticamente estagnado nos dois anos analisados, com uma queda próxima de 1%, ao ano, em média, das economias avançadas (peso de 40% na economia mundial),[1] e um crescimento positivo de pouco mais de 1%, para as economias emergentes (peso de 60% na economia mundial). A América Latina, grupo regional que o Brasil pertence, deve ter uma queda de 2,5% ao ano e em média.[2] E o Brasil, segundo as projeções do FMI, deve apresentar uma queda média de 1,6% ao ano. Já com a mediana das expectativas de mercado (boletim Focus), com uma projeção de menor recuo em 2020 e crescimento mais forte no ano que vem, a taxa média ficaria em -0,9% ao ano.[3]
O Gráfico 2 mostra uma comparação das projeções da taxa média de crescimento real do PIB brasileiro, em comparação com o resto do mundo. Caso as projeções do FMI para o crescimento da atividade econômica do Brasil e dos demais países do mundo se concretizem, 66% (127, numa amostra de 193) dos países devem apresentar uma taxa média de crescimento do PIB no biênio 2020/21 maior do que o Brasil. Já ao se considerar um cenário mais otimista para o PIB brasileiro, das expectativas de mercado,[4] a taxa passa para 48% (92, numa amostra de 193).
Só para ilustrar, segundo as projeções de abril do FMI,[5] o Brasil estaria numa situação relativamente pior, na comparação com o resto do mundo. Como naquela época se projetava uma queda média de 1,3% para o PIB brasileiro no biênio 2020/21, próxima da taxa atual (-1,6%), essa “melhora relativa” da posição do Brasil foi consequência mais da piora das projeções dos demais países do que por uma melhora das projeções brasileiras.
Uma outra análise possível é observar, em nível, o quanto que a economia vai cair neste ano, e recuperar em 2021. Colocando o ano de 2019, pré-crise do coronavírus, como base 100, se o nível em 2021 tiver passado dos 100, o país já terá recuperado totalmente as perdas da recessão de 2020. Caso contrário, ainda vai precisar “zerar” as perdas posteriormente. O Gráfico 3 mostra esse exercício para o nível do PIB do mundo, das economias avançadas e emergentes e AL, segundo as projeções do FMI de outubro deste ano. Nesse cenário, o PIB mundial se recupera (0,6% acima do nível de 2019, em 2021), puxado pelos emergentes (2,6% de crescimento, nessa mesma base de comparação). As economias avançadas ainda não voltam ao mesmo patamar de 2019 em 2021, com uma perda de 2,1%. E a AL, perda de 4,8% ainda. Mas é bom frisar que a recuperação do PIB do mundo é muito puxada pela recuperação de poucos países, com um peso grande, como a China. Os EUA, por exemplo, não vão recuperar a perda de 2020 em 2021 (1,2% abaixo do nível de 2019), segundo essas projeções.
E o Gráfico 4 mostra este exercício para o Brasil, com as projeções do FMI e da Focus. No primeiro cenário, o PIB brasileiro estará em 2021, 3,0% abaixo do nível de 2019. De acordo com as expectativas de mercado, 1,5% de perda acumulada.
O Gráfico 5 mostra que somente 34% (67, numa amostra de 193) dos países do mundo, no ano que vem, vão ter recuperado totalmente as perdas da recessão de 2020, de acordo com as projeções de outubro do FMI. O peso desses 67 países na economia mundial é de 36%,[6] sendo que praticamente a metade desse peso é da China. Dentre os avançados, somente 15% (6[7] em 39). E, 40% (61 países, em 154) dentre os emergentes. Na América Latina e Caribe, somente 9% (3[8] países em 33).
E no Gráfico 5 também há a mesma análise, só que com base nas projeções do FMI de abril.[9] Naquela oportunidade, com menos informações e mais incerteza do que agora, o Fundo Monetário Internacional projetava que mais da metade dos países do mundo recuperariam as perdas de 2020 em 2021. Essa informação é importante para mostrar que a “melhora relativa” da posição do Brasil, na classificação do desempenho da economia no biênio 2020/21, foi consequência mais da piora das projeções dos demais países do que por uma melhora das projeções brasileiras. E também para mostrar que, apesar do PIB mundial, no agregado, se recuperar totalmente das perdas de 2020 em 2021, segundo o FMI, somente 1/3 dos países vão ter se recuperado.
Em resumo, com base nas novas projeções do FMI para o PIB deste ano e de 2021, 66% dos países do mundo devem apresentar um resultado melhor, em termos de crescimento econômico, do que o Brasil no biênio. Ao se considerarem as expectativas de mercado da Focus para o PIB brasileiro, a taxa seria de 48%. Em ambas as projeções (FMI e Focus), o Brasil não recupera totalmente as perdas da recessão deste ano em 2021. Somente 1/3 dos países do mundo vão zerar as perdas econômicas no ano que vem, sendo que a maior parte é de economias emergentes. Sendo assim, as consequências da recessão de 2020 ainda serão sentidas, pelo menos, até 2022.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
[1] US$, PPP, 2019.
[2] O Brasil tem um peso grande na economia latino-americana, de 31,7% (US$, PPP, 2019).
[3] Projeções do FMI de -5,8% e +2,8% para 2020 e 2021, respectivamente. Já para a Focus (16/10/20), -5,0% e +3,5%.
[4] E mantendo as projeções do FMI para os demais países.
[5] Queda pouco menor para 2020 (-5,3%), e mesma taxa para 2021 (+2,8%). Ver também Balassiano (2020), “73% dos países do mundo devem apresentar, no biênio 2020/21, um resultado pior, em termos de crescimento econômico, do que na média 2009/10”, publicado no Blog do IBRE, em maio de 2020.
[6] US$, PPP, 2019.
[7] Taiwan, Lituânia, Irlanda, Coréia, Noruega e Luxemburgo.
[8] Guiana, Guatemala e Paraguai.
[9] 53% dos países do mundo = 102, numa amostra de 192; avançados = 8% (3 países em 39); emergentes = 65% (99 países em 153); AL = 33% (11 países em 33).
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