Macroeconomia

Atividade econômica do Rio cresceu 5,1% no 3º tri, após queda de 7,9% no 2º

17 dez 2020

A crise atual, que começou no final do primeiro trimestre deste ano, provocou um forte recuo da atividade econômica no Estado do Rio de Janeiro no segundo trimestre, como já esperado, em função das medidas (corretas) de distanciamento social e outros impactos provocados pela pandemia e seus efeitos na economia. E, após uma queda muito forte no trimestre mais impactado pela crise do coronavírus, o trimestre seguinte apresentou uma forte alta, em função da comparação ser em cima de uma base muito deprimida. Isso ocorreu no Rio, no Brasil e na maior parte do mundo.

O Indicador de Atividade Econômica do Estado do Rio de Janeiro (IBCR-RJ), divulgado pelo Banco Central, apresentou no terceiro trimestre de 2020 um crescimento, em termos reais, de 5,1%, em comparação com os três meses anteriores (Gráfico 1). Para o Brasil, o indicador do BC apresentou um crescimento de 9,5% no terceiro trimestre (em comparação com o trimestre imediatamente anterior), acima do dado do PIB divulgado pelo IBGE (7,7%).[1]

A indústria, cujo peso é de 23,8% na economia do Rio de Janeiro,[2] cresceu 12,7% no 3T20 na comparação com o trimestre anterior, após uma queda de 12,9% no 2T20. O setor de serviços, que tem um peso de 75,7% na economia fluminense, e o mais impactado na crise atual, apresentou um crescimento, em termos reais, de 7,3%, após uma queda de 15,8% nos três meses anteriores. O comércio, um dos itens do setor de serviços, cresceu 16,4% após o tombo de 10,4% no segundo trimestre do ano (Gráfico 2).

O Gráfico 3 indica as taxas de variação nos meses do terceiro trimestre, mostrando uma “perda de fôlego”, com taxas de crescimento menores entre julho e setembro. O forte crescimento do terceiro trimestre (média do trimestre em comparação com a média do trimestre anterior) foi em cima de uma base muito fraca do segundo trimestre. É preciso prestar atenção em como a economia vai se comportar nos meses e trimestres seguintes a esse efeito de forte queda no 2T20 com grande recuperação no trimestre posterior, principalmente com a redução e futuramente fim dos estímulos fiscais, notadamente do Auxílio Emergencial (AE), que beneficiou mais de 65 milhões de brasileiros. No Estado do Rio de Janeiro, 37,0% dos domicílios receberam o AE, segundo a Pnad Covid de setembro.

O Gráfico 4 mostra as perdas acumuladas da atividade econômica do RJ, e da indústria, serviços e comércio fluminense em decorrência da crise atual, comparando o nível de abril (“fundo do poço”) e o final do 3T20 (setembro) com fevereiro deste ano, o mês anterior ao início da crise do coronavírus. Com a recuperação nos meses seguintes a abril, as perdas acumuladas já se reduziram desde o pior momento (abril/20). No final do terceiro trimestre de 2020, a atividade econômica fluminense estava 4,0% abaixo do nível pré-crise do coronavírus, em fevereiro deste ano. A indústria, 2,6% abaixo; os serviços, segmento mais impactado, com uma perda acumulada de 12,3%; e, o comércio, único que já se recuperou totalmente, 0,3% acima do nível anterior à crise. Com a estagnação do IBCR-RJ e as quedas em setembro (na comparação com o mês anterior) da indústria, serviços e comércio, as perdas acumuladas aumentaram, em comparação com agosto. Para o Brasil, a atividade econômica, segundo o IBC-Br, estava no final do 3T20 2,5% abaixo do pré-crise; a indústria brasileira praticamente retornou ao mesmo nível do pré-crise;[3] serviços, -7,7%; e o comércio, também único que já recuperou totalmente as perdas, 7,1%[4] maior do que no nível de fevereiro deste ano. 

O Estado do Rio de Janeiro estava num processo de recuperação, lenta e gradual, da atividade econômica. Porém, assim como aconteceu com o Brasil, o ERJ ainda não tinha recuperado totalmente as perdas da recessão anterior. No Gráfico 5 há as perdas acumuladas em setembro de 2020, com os impactos da crise atual, em comparação com os respectivos picos pré-recessão 2014/16. A atividade econômica do ERJ estava, no final do 3T20, 10,3% abaixo do pico em janeiro de 2015. A indústria estava 6,0% abaixo do nível de março de 2014. O setor de serviços, principal locomotiva da economia fluminense, 29,8% abaixo do pico de junho de 2014, com o maior gap entre o nível atual e o pico pré-recessão 2014/16. E as vendas no varejo, 9,3% abaixo do pico prévio de outubro de 2014.     

Em resumo, o terceiro trimestre de 2020 apresentou uma forte recuperação, na comparação com os três meses anteriores, que foi o pior trimestre da história para a economia do Rio de Janeiro,[5] tendo o mesmo ocorrido no Brasil e em vários países do mundo, no período mais afetado pela crise. Porém, é importante sempre frisar que o forte crescimento no 3T20 foi em cima de uma base muito fraca, no 2T20. As expectativas são de uma continuação da recuperação nos próximos meses. Porém, como as perdas foram muito fortes, a queda do ano será bastante alta. E, as incertezas ainda são muitas, tanto econômicas, quanto sanitárias. Somente com o fim da pandemia, possivelmente com a descoberta de uma (s) vacina (s) eficaz (es) – o que já ocorreu!I - e a sua fabricação e distribuição completa que poderemos vislumbrar uma volta completa á normalidade da atividade econômica, principalmente do segmento dos serviços, tão importante para o Rio de Janeiro.    

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

 

[1] Sempre é bom frisar que o IBC-Br e o PIB têm metodologias diferentes, e o objetivo do dado do BC não é “acertar” o número do IBGE, mas sim ser um indicador de atividade econômica. Ambos os dados apresentam boas correlações, principalmente indicando tendências próximas, mas não com números idênticos.

[2] Dados de 2018 dos pesos no valor adicionado (VA), de acordo com o IBGE.

[3] Crescimento real de 0,2% no final do 3T20 na comparação com fevereiro.

[4] Crescimento do comércio varejista no conceito restrito. No conceito ampliado, que também incluí as atividades "Veículos, motocicletas, partes e peças" e "Material de construção", 2,8% acima.

[5] Com base nas séries históricas disponíveis do Banco Central e IBGE.

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