Macroeconomia

Taxa de desconforto mostra situação econômica deteriorada do país

21 jun 2021

A taxa de desconforto, que combina desemprego com inflação, mostra o Brasil em posição ruim relativamente ao restante do mundo. País fica atrás apenas da Turquia na OCDE. Dados mensais revelam piora acelerada, com o indicador a ponto de passar máxima de agosto de 2016. 

Tendo em vista as projeções de alta inflacionária nos próximos meses (a inflação em maio de 2021 já foi a maior para mês em 25 anos, com o IPCA tendo atingido 8,06% em 12 meses), e o grande contingente de trabalhadores ainda fora da força de trabalho, que tendem a voltar a procurar emprego nos próximos trimestres, a Taxa de Desconforto tende a passar a sua máxima desde 2016. Adicionalmente, potencialmente veremos o país piorando significativamente sua posição em relação aos demais países, tendo em vista que em muitos locais, a Taxa de Desemprego tem mostrado sinais de retração, ainda que a inflação tenha acelerado de forma mais generalizada. 

 

A Taxa de Desconforto é um indicador, criado por Arthur Okun, que busca medir o grau de estresse econômico sofrido pela população, devido ao risco de perder emprego combinado com um aumento do custo de vida. O índice é calculado somando a taxa de desemprego à taxa de inflação.

Uma vez que o desemprego e a inflação são considerados prejudiciais ao bem-estar econômico de uma pessoa, seu valor combinado é útil como um indicador da saúde econômica geral. O indicador foi popularizado na década de 1970 nos Estados Unidos, devido ao desenvolvimento da estagflação, ou simultaneamente inflação alta e desemprego.

Desse modo, é útil avaliar a situação do Brasil e do mundo em relação a tal indicador, de modo a entender como têm sido os impactos econômicos da pandemia sobre a população no geral. Na média do mundo, segundo o Banco Mundial, a Taxa de Desconforto se elevou de 7,5 para 8,4%, seu maior nível desde 2013. O Gráfico abaixo mostra a Taxa de Desconforto tanto em 2019 (eixo x) quanto em 2020 (eixo y), mostrando que, na grande maioria dos países, houve aumento do indicador, incluindo o Brasil, que já estava em situação relativamente ruim (126º lugar de 158 países em 2019).

Fonte: Elaboração própria com dados do Banco Mundial

Quando se analisa a Taxa de Desconforto por componente, no Gráfico abaixo, vê-se que a alta na maioria dos países foi induzida por aumentos do desemprego – ainda que a inflação tenha também se feito presente. No Brasil, devido ao baixo aumento de preços no primeiro semestre, acabou por registrar ter a alta do indicador impulsionado apenas pela alta do desemprego.

Fonte: Elaboração própria com dados do Banco Mundial

Quando são analisados apenas países da OCDE, é possível analisar as tendências da Taxa de Desconforto por trimestre, incluindo o primeiro de 2021, como mostra o Gráfico abaixo. O indicador mostra que o Brasil se encontra, nesse último período, na segunda pior posição em uma amostra de 38 países, atrás apenas da Turquia. A última vez em o país esteve nessa situação foi no primeiro semestre de 2016.

Fonte: Elaboração própria com dados da OCDE

Olhando mais atentamente para o Brasil, é possível analisar a Taxa de Desconforto a cada mês, combinando a Taxa de Desemprego mensalizada (segundo a metodologia do Banco Mundial) dessazonalizada e o acumulado em 12 meses do IPCA. Como se vê no Gráfico abaixo, apesar de não termos chegado ainda à máxima dos últimos 10 anos, em agosto de 2016, o último mês com dado disponível foi o quinto pior da série, e mostra uma trajetória de rápida piora.

Fonte: Elaboração própria com dados da IBGE e metodologia de mensalização do Banco Mundial

Tendo em vista as projeções de alta inflacionária nos próximos meses (a inflação em maio de 2021 já foi a maior para mês em 25 anos, com o IPCA tendo atingido 8,06% em 12 meses), e o grande contingente de trabalhadores ainda fora da força de trabalho, que tendem a voltar a procurar emprego nos próximos trimestres, a Taxa de Desconforto tende a passar a sua máxima de 2016. Adicionalmente, potencialmente veremos o país piorando significativamente sua posição em relação aos demais países, tendo em vista que em muitos locais, a Taxa de Desemprego tem mostrado sinais de retração, ainda que a inflação tenha acelerado de forma mais generalizada. 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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