Macroeconomia

Pandemia e economia entram em nova fase

23 set 2021

Queda de confiança, alta da inflação, crise energética e piora das condições financeiras explicam por que o Brasil, ainda que tirando proveito do cenário mundial moderadamente otimista, mostra indicadores antecedentes menos favoráveis do que o de outras grandes economias.

Apesar de todos os percalços, o desempenho da atividade econômica neste segundo semestre continua favorável. O processo de reabertura econômica segue avançando, conforme a mobilidade urbana se normaliza sem aumentar o número de novos casos e de mortes por COVID-19. Ao contrário, o avanço da vacinação tem permitido uma abertura mais segura da economia, sem que se perca o controle da pandemia.

Em 19 de setembro, a média móvel de sete dias de novos casos girava em torno de 19 mil por dia, enquanto a de mortes estava em 560, de acordo com o Worldometer, um nível relativamente baixo, similar ao observado em novembro de 2020. Também a taxa média de ocupação de UTIs continua a cair, indicando uma superação da pandemia, mesmo com riscos relacionados à variante Delta. Pelos menos por enquanto, todos os sinais são favoráveis e os riscos parecem contidos. A pandemia também segue sob controle nas economias avançadas, contribuindo para que a  economia mundial continue se recuperando neste semestre.

Como destacado na edição anterior do Boletim, o mundo está entrando em uma nova fase, menos assustadora que a do auge da pandemia, mas menos brilhante que a do primeiro semestre. E cada etapa dessa longa jornada tem novos desafios e, consequentemente, há muita volatidade e incerteza nessas transições. Aqui se combinam o desafio de desmontar os enormes e inovadores programas de estímulo adotados pelas autoridades fiscais e monetárias com o de lidar com os problemas que atrapalhavam a economia antes da pandemia, e que ganham outra vez proeminência, conforme a pandemia sai de cena.

O tamanho dos desafios nessa nova fase explica por que, ainda que o Brasil siga a tendência mundial e o cenário seja moderadamente otimista, os indicadores antecedentes da economia brasileira são menos favoráveis que os de outras grandes economias. É o caso dos indicadores compostos avançados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)[1], que mostram que o Brasil é a única grande economia que já entrou em desaceleração, em que pese o indicador continuar superior a 100, o que significa que está acima da tendência de longo prazo. A OCDE também aponta que países emergentes, como China e Rússia, terão crescimento constante acima da média mundial. No entanto, com relação à China, é importante ressaltar que o processo de desaceleração continua, devido à exaustão das políticas de estímulos, o aperto das políticas regulatórias e as restrições impostas pelo avanço da variante Delta no país e na Ásia como um todo. [2]

Para o Brasil, as prévias das Sondagens do FGV IBRE de setembro também apontam na mesma direção. Houve queda generalizada da confiança de empresários e consumidores, tanto na avaliação da situação atual como no componente das expectativas. Outro destaque negativo das pesquisas foi o Indicador de Incerteza, com destaque para o componente relacionado à Incerteza Política. (Ver Seção sobre as Expectativas de empresários e consumidores).

Enquanto o impacto da pandemia retrocede, outros fatores contribuem para aumentar as preocupações com o desempenho da economia. O primeiro deles é a inflação, que segue muito elevada e tem surpreendido sistematicamente para cima.  A alta nos preços internacionais de commodities, da ordem de 40% desde o início da pandemia, com uma taxa de câmbio sistematicamente depreciada, jogou para cima os preços de alimentos, derivados de petróleo e outros bens comercializáveis, ainda que tenha beneficiado os setores exportadores, o que contribuiu para a recuperação mais rápida da economia doméstica. Além disso, com o expressivo aumento mundial da demanda por bens, em um contexto de desorganização de cadeias de suprimentos, devido à pandemia, a indústria tem sido afetada, contribuindo para as pressões inflacionárias nesse setor.

Leia aqui o artigo completo na versão digital do Boletim Macro.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

[1] OECD (2021), Composite leading indicator (CLI) (indicator). doi: 10.1787/4a174487-en (Accessed on 16 September 2021).

[2] Ver “Sinais de alerta na China?” de autoria de Livio Ribeiro, Boletim Macro IBRE de agosto de 21 (http://www.fgv.br/mailing/2021/ibre/boletim-macro-agosto/16/).

Deixar Comentário

To prevent automated spam submissions leave this field empty.