Vendas online do comércio acima dos 15% pelo quarto trimestre seguido
Indicador de vendas online da Sondagem do Comércio do FGV IBRE mostra a evolução da digitalização das vendas. O setor se sustenta em patamar superior a 15% pelo quarto trimestre seguido, superior ao do período pré-pandemia.
A Sondagem do Comércio do FGV IBRE vem monitorando o comércio online no Brasil desde o terceiro trimestre de 2020 com o Indicador de Vendas Online (IVO), que mede a participação das vendas realizadas por canais digitais, como websites, aplicativos e e-mails, no total de vendas do Comércio.
No segundo trimestre de 2024, a participação das vendas online no volume total de vendas do comércio recuou 0,7 ponto percentual (p.p.), após quatro trimestres consecutivos de alta, passando a 15,3% do total. Apesar da queda no trimestre, o resultado supera em 2,2 p.p. a participação do mesmo período do ano passado e se sustenta em patamar superior a 15% pelo quarto trimestre seguido.
Gráfico 1 – Percentual de vendas da empresa obtido
por vendas online (vendas online em relação ao total de vendas,
em % - sem ajuste sazonal)
Comparações
Embora no nível agregado do Comércio não seja possível ainda se identificar algum padrão sazonal no volume de vendas online, a análise desagregada por setores sugere uma sazonalidade que ainda não pode ser controlada em função do tamanho limitado das séries de IVO. Por isso, a análise desta nota será realizada com base na evolução interanual (trimestre sobre mesmo trimestre do ano anterior).
O desempenho favorável das vendas online no segundo trimestre de 2024 frente ao mesmo período de 2023 ocorreu em dois dos quatro principais segmentos do Varejo Restrito. No Varejo Ampliado, houve aumento expressivo das vendas online no segmento de Veículos, motos e peças e em menor medida em Material para Construção.
Gráfico 2 – Evolução do percentual de vendas da empresa obtido
por vendas online – por segmentos (vendas online
em relação ao total de vendas, em %)
Ao analisar os segmentos de acordo com a categoria de uso dos produtos em duráveis, semi-duráveis e não duráveis, observa-se que todas as categorias registram aumento interanual na participação das vendas online. Entre os segmentos de revenda de bens duráveis, destaca-se o de Veículos, motos e peças, que no segundo trimestre de 2024 apresentou um expressivo crescimento nas vendas online frente ao mesmo período de 2023. As vendas digitais do segmento têm sido beneficiadas recentemente por ações do Governo Federal, como o Registro Nacional de Veículos em Estoque (Renave), o que permitiu e impulsionou as transações via canais digitais. Excluindo o segmento de Veículos, motos e peças, no entanto, o indicador de produtos duráveis apresentaria redução do IVO na mesma base de comparação.
A participação das vendas online de produtos semi-duráveis e não duráveis também aumentou em relação ao mesmo período do ano passado, embora em menor escala, refletindo a tendência geral de digitalização no varejo. Essa transição, ainda que influenciada por fatores sazonais e recentes mudanças de mercado, aponta para uma consolidação das vendas online em diversas categorias de produtos.
Gráfico 3 – Evolução do percentual de vendas da empresa obtido
por vendas online – por categoria de uso (vendas online
em relação ao total de vendas, em %)
Evolução de vendas online considerando apenas as empresas com canais digitais
O IVO é um indicador de participação de vendas online sobre o total de vendas do comércio que inclui todas as empresas do varejo, ou seja, seu denominador representa o total de vendas em todas as modalidades, inclusive das que não possuem canais digitais de vendas. E se excluirmos as empresas com este perfil, como ficaria o resultado? Para analisar esta possibilidade criamos um indicador alternativo, o IVO*[1], que mede a evolução das vendas online sobre o total de vendas do comércio considerando apenas as empresas que já dispõem de canais digitais de vendas.
Os resultados do IVO* sugerem uma trajetória geral semelhante ao indicador original, com picos em períodos de restrições de circulação e estabilidade nos últimos trimestres, mantendo-se acima dos níveis observados antes da pandemia de covid-19. As empresas que possuem participação digital chegaram a alcançar um volume de vendas online próximo a 30% no auge das restrições da pandemia e recentemente mostram uma estabilização em um percentual próximo a 20%. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, houve alta de 3,3 pontos percentuais, sugerindo que as empresas que já dispõem de participação digital significativa vêm conseguindo expandir sua presença digital ao mesmo tempo em que enfrentavam aumento da concorrência de novos entrantes no mercado digital, estatística apresentada na próxima seção desta nota.
Gráfico 4 – Evolução do percentual de vendas
online em relação ao total de vendas – comparação com indicador
sem empresas que operam de forma exclusivamente presencial, em %
Proporção de empresas com vendas exclusivamente presenciais
Confirmando a tendência de expansão do comércio online, a proporção de empresas com vendas exclusivamente em lojas físicas caiu 2,5 p.p. no segundo trimestre de 2024 em relação ao mesmo período do ano passado, para 29,0%. Esse percentual, que já foi de 49,7% no período anterior à pandemia, vem mostrando certa resistência no patamar próximo aos 30%.
Gráfico 5 – Percentual de empresas sem nenhuma venda online
– sem ajuste sazonal
Resumo
Em síntese, a participação das vendas online no volume total de vendas do varejo no segundo trimestre de 2024 avançou 2,2 pontos percentuais na comparação com o mesmo trimestre de 2023 e se manteve acima dos 15% pelo quarto trimestre consecutivo, um nível bem superior ao do período anterior à pandemia. Este é o quarto trimestre consecutivo de alta nesta base de comparação, embora tenha ocorrido uma redução da alta entre o primeiro (4,1 p.p.) e o segundo trimestres deste ano (2.2 p.p.). Entre o segundo trimestre de 2023 e o segundo trimestre de 2024, nota-se também avanço da participação orgânica das vendas online nas empresas que dispõem de vendas online assim como uma diminuição da proporção de empresas que não dispõem de canais digitais de vendas. A alta do IVO ocorre em quase todos os segmentos do Comércio. Apenas na categoria de bens duráveis nota-se que a alta foi sustentada apenas pelo segmento de Automóveis, enquanto os outros registram queda.
Tabela 1 – Indicador de Vendas Online (IVO) – principais segmentos, em %
Tabela 2 – Diferença interanual do Indicador de Vendas Online (IVO)
– principais segmentos, em %
*Os dados gerados neste relatório não são ajustados sazonalmente devido ao curto
período de amostra. Informações mais detalhadas sobre a Sondagem do Comércio
estão disponíveis no site www.fgv.br/ibre.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
[1] O IVO* permite analisar, a cada momento, se a evolução da participação de vendas online sobre o total está mais relacionada a um ganho orgânico de e-commerce das empresas que já vendem online ou por um aumento da proporção de empresas que dispõem de canais digitais.
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