Macroeconomia

Construção: uma luz no fim do túnel?

12 dez 2017

A estabilidade do PIB da construção no terceiro trimestre alimentou as expectativas de que tenha chegado ao fim a crise que atingiu o setor e contribuiu para trazer a taxa de investimento do país para meros 16% do PIB – o PIB setorial (da construção) encolheu 24% entre o primeiro trimestre de 2014 e o terceiro de 2017.

Mas em que medida o resultado do terceiro trimestre pode ser entendido como o início de um movimento consistente de recuperação?

Antes de tudo, é importante lembrar que o PIB da construção é o resultado tanto da produção de empresas formalmente constituídas quanto das obras realizadas pelas famílias e por pequenos empreiteiros, muitas vezes não formalizados.

Confrontando os dados das Contas Nacionais de 2015, recém divulgados, com as informações da Pesquisa Anual da Indústria da Construção, vê-se que as empresas responderam por 58% do Valor Adicionado total do setor – esta participação superou 60% na fase de crescimento entre 2007 e 2013. No entanto, as famílias e pequenos empreiteiros são responsáveis por 50% do consumo intermediário, o que mostra sua importância na determinação da demanda da indústria e do comércio de materiais.

Por isso, favorecidas pelos recursos das contas inativas do FGTS e pela melhora da renda das famílias, as pequenas reformas e obras contribuíram decisivamente para o fim da queda da atividade. Houve crescimento expressivo do volume de vendas do comércio varejista de materiais no ano – 7,5% até setembro, conforme registrado pelo IBGE.

Por outro lado, o emprego com carteira na construção civil, que registra retração de mais de 11% no ano, mostra que em 2017 a atividade formal continuou a declinar e deve responder pela maior parte da queda esperada para o PIB do setor no ano.

Mas os ventos também começaram a mudar para o segmento formal. A Sondagem da Construção, ao longo do ano, foi apontando a melhora gradativa do ambiente para as empresas. O indicador que capta a percepção em relação ao ambiente corrente de negócios (Índice de Situação Atual – ISA-CST) cresce há seis meses consecutivos.

Dessa forma, embora os números acumulados continuem a mostrar um cenário ainda muito severo no setor, o ano termina melhor que em 2016 e o ano de 2018 parece se mostrar mais favorável.

Em 2018, as famílias e pequenos empreiteiros deverão continuar puxando as vendas do comércio. Mas as empresas também deverão ter resultados positivos.

As contratações realizadas pelo Minha Casa Minha Vida, que ganharam maior velocidade no segundo semestre de 2017, deverão repercutir favoravelmente no início de 2018. Ou seja, o ISA das empresas que estão no âmbito do Programa deverá se manter acima da média do setor. Por outro lado, a queda na taxa de juros e a captação positiva da poupança irão favorecer o crédito para o mercado imobiliário de médio padrão. Depois de recuar 38% em 2016, a concessão de crédito, com base nos recursos da poupança, vem andando de lado em 2017 e deverá crescer em 2018. As construtoras e incorporadoras começaram a preparar lançamentos. 

No que diz respeito à infraestrutura, as dificuldades fiscais da União e dos Estados continuaram a comprometer a execução dos orçamentos em 2017. Estimativa da Consultoria Inter.B indica que os investimentos em infraestrutura deverão retroceder de 1,95% para apenas 1,37% do PIB em 2017. Porém, para 2018, as projeções com base nos dados disponíveis até o momento apontam uma pequena melhora – algo em torno de 1,43%.

No todo, o cenário que se desenha, embora longe do período pulsante de 2007 a 2013, permite uma projeção positiva para o PIB da construção em 2018, mas não há não elementos que permitam falar de um novo ciclo de crescimento.

Tudo pode mudar já nos primeiros meses de 2018, se o principal agente financeiro do mercado imobiliário, a Caixa Econômica, que responde por cerca de 70% das operações, não tiver um aporte de capital de, pelo menos, R$ 5 bilhões, que permita o cumprimento das regras prudenciais de Basileia 3.   Caso contrário, a CEF ficará desenquadrada e não haverá recurso para o Programa MCMV e o crédito para média renda sofrerá uma grande retração.  Por hora, esse não é um cenário provável, uma vez que já está em tramitação o Projeto de Lei que dará fôlego à instituição no próximo ano. Mas esse problema traz à cena outras discussões, particularmente importantes para a recuperação sustentada, como a importância da instituição e do funding FGTS para a habitação. Que devem ficar para outro artigo.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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