Contração do PIB cíclico em 2022
A deterioração do cenário macroeconômico é evidenciada nas revisões de previsão de crescimento da economia brasileira em 2022. Diante do novo cenário de mais aperto da política monetária, revisamos a previsão do PIB cíclico para -0,3%.
Recentemente os níveis de incerteza na economia têm aumentado e, com isso, consideramos necessário detalhar a nossa previsão do PIB para 2022. Por conta disso, nossa análise e perspectiva para 2022 partiu do ponto de vista que decompõe as atividades do PIB em dois componentes: i) o mais sensível a ciclos econômicos, ou seja, a parte que responde a choques e estímulos monetários; ii) o menos sensível aos ciclos, que chamaremos de componente “exógeno”. O componente mais sensível à política monetária chamaremos de PIB cíclico, que corresponde a aproximadamente 65% do Valor Adicionado. Dada a sua relevância e o momento atual de incerteza crescente, faz-se necessária uma análise particular dos setores que compõem o PIB cíclico.
A fim de fazer uma análise mais detalhada sobre o impacto das últimas medidas anunciadas pelo governo e a resposta da política monetária a elas, fizemos um exercício que mede a resposta do PIB cíclico ao novo cenário de aperto monetário. O PIB cíclico considera apenas os setores mais diretamente relacionados ao ciclo econômico, ou seja, a agropecuária, a indústria extrativa, os serviços imobiliários e aluguel e os serviços de administração pública foram excluídos da análise. Isso porque o comportamento destas atividades não é diretamente afetado pelas mudanças na taxa básica de juros, a Selic. Além disso, a administração pública está ainda muito distante do patamar pré-pandemia.
O cenário base do Boletim Macro IBRE de outubro de 2021 considerava que o Banco Central aumentaria a taxa básica de juros até alcançar o patamar de 9,25% a.a., permanecendo nesse mesmo nível durante todo o ano de 2022. Já o cenário atual considera que o ciclo termina com a taxa básica de juros em 11,50% a.a, compatível com um aumento de 1,5 p.p. na próxima reunião, depois 1,25 p.p. e, por último, um aumento de 1,0 p.p., permanecendo nesse patamar até o final de 2022.
Considerando nossos modelos, teríamos anteriormente um crescimento de 0,1% do PIB cíclico em 2022 e de 2,8% do PIB “exógeno”, que contempla os setores citados acima. A contribuição do PIB não cíclico é de 1 p.p. para o crescimento de 2022. É importante mencionar que essa previsão já considerava uma piora da indústria de transformação que começou no segundo semestre de 2021 e deve perdurar ao longo de 22. Essa piora vem sendo mais grave do que era previsto anteriormente pelo FGV IBRE, já que a falta de insumos é um grande problema ainda a ser resolvido. Consequentemente revisamos a previsão do PIB de 2021 de 4,9% para 4,8%, devido ao pior desempenho esperado para a indústria de transformação para o quarto trimestre deste ano. Com isso o carregamento estatístico para o ano que vem foi revisto de 0,9% para 0,4%. Para mais detalhes sobre a revisão do PIB de 2021, ver a edição de novembro do Boletim Macro, que será divulgado em 22/11.
Aplicando o exercício citado anteriormente, chegamos à conclusão de que um choque mais austero de política monetária teria um impacto de 0,4% sobre o PIB cíclico. Tal impacto reduziria o PIB cíclico para -0,3%. Agregando-se ambas as partes, teríamos um PIB total de 0,7% em 2022. Mais fraco do que era previsto no Boletim Macro de Outubro, porém ainda acima do carregamento estatístico de 0,4% estimado para 2022.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
Esta análise foi publicada pelas plataformas do Valor Econômico.
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