Metodologia

A distribuição da renda na economia brasileira - parte 3: Consumo final e poupança das famílias, Brasil 2000-2021

13 set 2024

Este texto complementa duas publicações anteriores, procurando analisar, com base nos dados do Sistema de Contas Nacionais do Brasil, a dinâmica das Famílias. Tratamos aqui do seu consumo, poupança e capacidade de financiamento.

(Links para a primeira e para a segunda publicação que antecedem este artigo)

  1. Valores Correntes

Os SCN registram o que as Famílias consomem, a despesa de consumo final total, em três grandes categorias: a despesa de consumo final das Famílias (C), o valor total gasto na compra de bens e serviços nos mercados, e as despesas de consumo do governo (G) e das IPSFL, que produzem serviços não mercantis, gratuitos ou a preços não significativos, que são destinados às Famílias e consumidos como serviços individuais ou coletivos.

A Tabela 01 apresenta, em valores correntes, o consumo final das Famílias nessas três categorias, o produto Interno Bruto (PIB), a Renda Nacional Disponível Bruta (RND), total da economia e das Famílias, e as relações entre essas variáveis.

Durante o período de 2000 até 2021, a despesa de consumo final total foi em média de 81,5% do PIB, com a despesa de consumo final respondendo por 60,7%, a despesa das IPSFL por 1,5% e a de governo por 19,3%. Em 2000, a despesa de consumo final das Famílias era de 62,9% do PIB, se reduz para a faixa do 58% até 2012 quando volta a aumentar chegando a 63,7% em 2019 sua maior participação. Em 2020 cai a 61,8% e, em 2021 a 60,1%.

Os serviços das IPSFL variam pouco no período com a menor participação, 1,5% do PIB em 2011/12 e a maior em 2006 com 1,6%. As despesas de consumo do Governo também não têm grande variabilidade se situando em torno da média durante o período. O coeficiente de variação para todas as despesas em relação à média é muito pequeno para as três, indicando uma invariância grande durante o período.

Se estimarmos as correlações entre as variações nominais do PIB e da RND com o C se observa que o C tem uma correlação de 0,99 com a RND e de 0,88 com o PIB, mostrando a importância dos benefícios sociais para as despesas de consumo das Famílias.

O Gráfico 01 mostra as participações das categorias de despesa sobre o PIB para o período de 2000 até 2021.


Fonte: Contas Econômicas Integradas, 2021, CONAC/IBGE

Se considerarmos as participações em relação à RND as despesas de consumo das Famílias representam, em média, 90% da RND das Famílias e 69% da RND total.

Em valores correntes o C passa de 62,9% do PIB, em 2000, para 60,1% em 2021, as IPSFL de 1,7% para 1,3% e o G de 18,8% para 18,5%.

  

A Tabela 02 mostra os resultados da Conta de Uso da RND com a participação das Famílias no total da economia. A participação das Famílias na RND total cai de 72,8% e, 2000 para 67,9% em 2021, essa participação sofreu uma queda entre 2000 e 2015, ficando em torno de 66%, se recupera a partir de 2015. Em 2020 com a pandemia chega a seu ponto máximo com 75,4%, efeito do aumento dos benefícios sociais.

A despesa em consumo final em relação ao total da RND não sofre variações significativas, no entanto a poupança das Famílias em relação ao total tem uma variação alta no período, resultado da variação da poupança total, atingindo sua maior participação durante a pandemia. De uma participação na RND de 64,1% em 2000, a participação das Famílias chega a 38,7% em 2010, chega a 86,5% durante a pandemia e volta a 38,3% em 2021.

  1. Consumo das Famílias a preços constantes

O Sistema de Contas Nacionais Trimestrais (SCNT) estima os valores da despesa de consumo final em valores correntes e constantes; na série atualmente disponível os valores até 2021 são ajustados àqueles nas contas anuais.; desta forma, podemos complementar a análise da evolução do consumo com os valores constantes.

A Tabela 03 apresenta os valores constantes, a preços de 1995, de 2000 até 2021, para o PIB, as categorias de despesa de consumo final e a respectiva participação no PIB.

Em valores constantes a participação das despesas de consumo final total no PIB é em média de 64,7% no período. O C responde por 44,4%, as IPSFL por 1,6% e o G por 18,7%. Comparando com a estrutura em valores correntes se nota que as participações para o G e as IPSFL são aproximadamente as mesmas, no entanto a participação do C é bastante diversa, enquanto encontramos 44,4% a preços constantes temos 60,7%, essa diferença é reflexo da diferença entre os índices de preço do PIB e do C, entre 2021 e 2000 a variações do índice de preços do PIB, em relação a 2000 igual a 100, foi de 509,45 enquanto para o C foi de 449,85.

O Gráfico 02 mostra como a participação das despesas de consumo no PIB a preços constantes evoluíram, mostrando o aumento da participação do C no período.


 

  1. Formação Bruta de Capital das Famílias (Conta de Capital)

A Tabela 04 mostra a Formação Bruta de Capital Fixo, a Variação de Estoques e a Capacidade de Financiamento das Famílias, última conta da CEI que mostra a geração e distribuição da renda.

As Famílias são responsáveis, em média, por 32,8% da Formação Bruta de Capital Fixo do país, em 2000 respondiam por 37,1%, atingindo 30,9% em 2021, com sua menor participação em 2010 com 29,2%.

As Famílias apresentam capacidade de financiamento ao país; em 2020, com o impacto da pandemia de Covid, sua capacidade de financiamento que passa de 184 Bilhões de Reais em 2019 para 557 em 2020, é explicada pelo aumento dos benefícios, e com o Governo tendo sua necessidade de financiamento aumentada de 370 para 918 Bilhões entre 2019 e 2020. Em 2021, há redução forte na capacidade de financiamento das Famílias com redução para 82 Bilhões com o governo necessitando 199 Bilhões de financiamento.

Observando por setor institucional, Tabela 05, as Empresas Não Financeiras aumentam sua participação de 49,0% em 2000 para 58,3% em 2021, sua maior participação, todos os demais SI perdem participação na FBCF do país.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

IBGE (2016), Sistema de Contas Nacionais Brasil – Ano de Referência 2010, Série Relatórios Metodológicos, Volume 24, 3ª Edição. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv102039_notas_tecnicas.pdf

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