Macroeconomia

Economia brasileira deve ter um recuo médio de 0,3% no biênio 2020/21, em linha com a maior parte dos países do mundo

4 mar 2021

O FMI divulgou em janeiro deste ano atualizações para as projeções do crescimento real do PIB para 2020 e 2021. Há atualizações para os agregados (mundo, economias avançadas, emergentes, América Latina...), e para 30 países, cujo peso é de 85% no PIB mundial (US$, PPP).[1] 

O Gráfico 1 mostra as projeções das taxas reais de crescimento do PIB para 2020, 2021 e o biênio 2020/21 para os agregados. Segundo o FMI, o PIB mundial deve ter recuado 3,5% no ano passado, e deve crescer 5,5% neste ano, com um crescimento positivo médio de 0,9% por ano, no biênio 2020/21. Esse resultado é impactado pelo menor recuo previsto das economias emergentes no ano passado (-2,4%) e um crescimento mais robusto em 2021 , do grupo de países que tem um peso de 60% na economia mundial. As economias avançadas, muito impactadas pelo coronavírus, e cujo peso na economia mundial é de 40%, devem apresentar um recuo médio de 0,4% no biênio, fruto de uma queda de quase 5% em 2020, e um crescimento de 4,3% projetado para 2021. A situação da América Latina e Caribe é pior, com um recuo estimado de 7,4% no ano passado, com um crescimento de 4,1% posterior. Com isso, uma queda média anual de 1,8% no biênio 2020/21.

O Gráfico 2 mostra a taxa efetiva de crescimento (negativo) do PIB do Brasil e as projeções do FMI para o comportamento da economia em 2020, para os demais 29 países com projeções atualizadas pelo FMI, e que correspondem a 85% do PIB mundial. Dentre essa amostra, somente três países devem ter apresentado um crescimento positivo do PIB no ano passado (Turquia, China e Egito). Para a China, que tem um peso de quase 20% do PIB mundial (em US$, PPP), o crescimento de 2,3% é muito baixo. Segundo dados do Banco Mundial, a taxa média anual de crescimento do PIB chinês dos últimos 60 anos foi próxima de 8%. O Brasil ficou exatamente no meio desses 30 países, com 14 países com quedas projetadas do PIB maiores do que do Brasil. A mediana das taxas desses países da amostra é de -4,3%, próxima da taxa de recuo do Brasil, divulgada pelo IBGE (-4,1%). Vale frisar que o auxílio emergencial, que beneficiou quase 70 milhões de brasileiros no ano passado, teve um forte impacto na economia brasileira. Caso não tivesse ocorrido o AE, a queda do PIB seria maior do que o dado efetivo.

O Gráfico 3 mostra as projeções do FMI para o crescimento do PIB neste ano. A mediana do crescimento desses 30 países é próxima da taxa projetada para o Brasil (3,5% e 3,6%,[2] respectivamente). China e Índia são os países que devem apresentar as maiores taxas de crescimento em 2021.

Já o Gráfico 4 mostra as taxas médias reais anuais previstas de crescimento do PIB no biênio 2020/21, sendo que a Itália é o país, dentro dessa amostra, com o pior desempenho nos dois anos, com um recuo médio de 3,3% do PIB em cada ano. Do lado oposto, a China com um crescimento médio anual de 5,2% no biênio. O Brasil, segundo essas projeções, teria um leve recuo de 0,3% em cada ano, ficando com a economia praticamente estagnada nesses dois anos. A mediana das taxas dos 30 países no biênio 2020/21 é de -0,6%, taxa próxima do resultado previsto para o Brasil.

Em resumo, este artigo procurou mostrar uma comparação do desempenho do PIB brasileiro (dado efetivo já divulgado pelo IBGE), com os demais países do mundo, para 2020, o ano de recessão mundial, e 2021, o de uma possível recuperação da economia, segundo as últimas projeções do FMI. No biênio 2020/21, a economia brasileira deve ficar estagnada, com um leve recuo (-0,3%), em linha com a mediana de 30 países da amostra, que correspondem a 85% do PIB mundial.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

 

[1] Dados estimados para 2020. África do Sul,  Alemanha,  Arábia Saudita,  Argentina,  Austrália, Brasil, Canadá, Cazaquistão, China, Coréia, Egito, Espanha, EUA, Filipinas, França, Índia, Indonésia, Irã, Itália, Japão, Malásia, México, Nigéria, Holanda, Paquistão, Peru, Polônia, Reino Unido, Rússia e Tailândia.

[2] Para 2021, as projeções do FMI estão em linha com as expectativas de mercado do Boletim Focus (3,3%, segundo o relatório de 26/02/21).

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