Escassez de mão de obra eleva custos na construção
Quesitos especiais introduzidos na Sondagem da Construção de junho de 2024 mostraram que a maioria das empresas da construção teve dificuldades em contratar trabalhadores qualificados nos últimos 12 meses.
Em junho de 2021, a Sondagem da Construção do FGV IBRE apontava que os principais fatores limitativos aos seus negócios eram a alta dos preços dos materiais e a falta de demanda, assinalados por 38,1% e 35,9% das empresas, respectivamente. As dificuldades refletiam um período em que os investimentos apenas começavam a reagir às baixas taxas de juros e em que a economia sofria ainda severamente os impactos da brusca redução da oferta resultante da quebra das cadeias produtivas observada no período da pandemia.
Por outro lado, nesse cenário de atividade ainda enfraquecida, apenas 10,7% das empresas tinham problemas com a escassez de mão de obra qualificada.
Passados três anos, o quadro mudou bastante, tanto no que diz respeito aos custos dos materiais quanto à demanda e à escassez de mão de obra.
No que diz respeito à demanda, os investimentos na infraestrutura e no mercado imobiliário reverteram o quadro apontado na sondagem de junho de 2021, de tal modo que as dificuldades das empresas com a falta de trabalhadores qualificados assumiram a primeira posição entre os quesitos que mostram as limitações empresariais.
Sondagem da construção, Fatores limitativos, em % de assinalações, mm3
Fonte: FGV IBRE
Quesitos especiais introduzidos na Sondagem da Construção de junho de 2024 mostraram que 71,2% das empresas da construção tiveram dificuldades em contratar trabalhadores qualificados nos últimos 12 meses, sendo que 39% relataram muita dificuldade. Os segmentos de serviços especializados, mais intensivos em mão de obra, são os mais afetados pela escassez, especialmente aqueles que estão na fase final do ciclo produtivo – as empresas de Obras de Instalações e de Acabamento estão com os maiores percentuais de “Muita Dificuldade”.
Quesito Especial: Nos últimos 12 meses, na comparação com os
12 meses anteriores, a empresa teve dificuldade
em contratar trabalhadores qualificados?
Fonte: FGV IBRE
A pesquisa também indagou sobre as ações para mitigar o problema. A principal tem sido realizar treinamentos, ou seja, qualificar pessoas. O deslocamento de trabalhadores entre obras e/ou regiões do país vem em seguida.
Vale observar que a dificuldade com a falta de trabalhador ainda não se mostra uma grande ameaça ao andamento das obras, o que significa que, apesar das dificuldades, as empresas estão conseguindo superá-las.
Também chama a atenção que essa escassez não é uma grande indutora de mudança para processos construtivos industrializados, que poderia reduzir a necessidade de pessoal nos canteiros. Talvez, porque a mudança de processo represente uma ação de mais longo prazo, ou seja, não pode ser realizada no decorrer da obra.
Quesito Especial: Quais as ações que a empresa
está adotando para superá-las*?
* Comporta mais de uma assinalação
Fonte: FGV IBRE
É importante notar ainda que o aumento da remuneração tem sido outra ação bastante assinalada pelas empresas para tentar resolver a questão.
De fato, o INCC tem captado a alta dos custos com mão de obra: o componente mão de obra do INCC-DI acumula em 2024 até junho variação de 7,26%. Em algumas capitais como Belo Horizonte, São Paulo e Recife as taxas estão ainda mais elevadas, mas em todas a evolução do custo da mão de obra superou o IPCA no mesmo período.
INCC-DI Mão de obra x IPCA, taxa acumulada em 12 meses até junho, em %
Fonte: FGV IBRE/IBGE
Por outro lado, após a pior fase de desequilíbrio das cadeias produtivas, com a regularização da oferta, alguns itens do orçamento de obra devolveram parte da alta anterior – em 2023, o componente Materiais e Equipamentos do INCC-DI fechou com variação negativa (-0,06%) e acumula em 2024 até junho alta de 1,55% em 12 meses.
A despeito das oscilações observadas desde o início do ano, as empresas continuam otimistas em relação à demanda e, portanto, sinalizando que vão continuar contratando.
A pesquisa de emprego com carteira (Caged) apontou que, nos primeiros cinco meses do ano, o saldo líquido de contratação está 7% superior ao do mesmo período do ano passado. O ritmo de alta do estoque tem diminuído: nos últimos meses, a infraestrutura tem reduzido mais fortemente o ritmo de crescimento, o que pode estar relacionado ao fim do ciclo de obras ligadas às eleições, mas a reconstrução pós-desastre climático do Rio Grande do Sul deve voltar a demandar mais pessoal nesse segmento.
Por outro lado, as vendas de imóveis continuam superando as expectativas, alavancadas pelo Minha Casa Minha Vida, o que aponta um novo ciclo de obras à frente.
Enfim, não há indicações de que o quadro de escassez possa ser aliviado no curto prazo, principalmente porque essa é uma situação que atinge também outros setores de atividade.
Emprego na construção, taxa 12 meses
Fonte: Caged
Construção, emprego previsto, percentual de assinalações, mm3
Fonte: FGV IBRE
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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