Macroeconomia

Expectativas dos consumidores sobem e acendem sinal amarelo

27 out 2021

A expectativa de inflação dos consumidores para os próximos 12 meses sobe há oito meses e acumula alta de 3,7 pontos percentuais, atingindo 8,9% em outubro. A inflação tem se “democratizado” com alta da energia e gasolina, que pesam mais para famílias de maior renda.

A expectativa dos consumidores para a inflação nos 12 meses seguintes vem subindo continuamente há oito meses, acumulando uma alta de 3,7 pontos percentuais no período, sendo mais da metade dela nos dois últimos meses. Entre setembro e outubro, a expectativa de inflação aumentou de 7,7% para 8,9% para os próximos 12 meses. A alta de 1,2 ponto percentual é a maior desde dezembro de 2016.

Surpreende também o fato de a inflação prevista pelos consumidores de maior poder aquisitivo supere a dos de baixa renda em outubro, algo que só aconteceu 5 vezes nos últimos 16 anos, excluindo os últimos três meses. Assim como em muitos países, as previsões de inflação dos consumidores costumam ser mais altas que as dos especialistas, mas elas tendem a ser menores quanto maior for o acesso à informação, um fator muito relacionado à renda das famílias.

Expectativas mediana dos consumidores para inflação nos próximos 12 meses (em %)

Segundo Viviane Seda, responsável pela pesquisa, os consumidores tendem a formar suas expectativas olhando, dentre outras coisas, para o passado recente, por isso, é natural existir um carregamento natural da inflação passada em suas projeções. Mas estas projeções incluem também uma importante informação subjetiva sobre as perspectivas econômicas futuras, se tornando extremamente úteis como instrumento de monitoramento da conjuntura e para o processo decisório de agentes públicos e privados.

A expectativa dos consumidores com renda familiar mensal acima de R$ 9.600 subiu de 6,8% 9,0% entre agosto e outubro, período em que a previsão consumidores com renda familiar até R$ 2.100 passou de 6,7% para 8,2%.

Segundo Andre Braz, coordenador dos índices de preços do FGV IBRE, a perspectiva de evolução da inflação nos próximos 12 meses é incerta, com muitos fatores de pressão, como nos preços de energia e da gasolina, itens que pesam mais nos orçamentos de famílias de maior renda. Isto está de certa “democratizando“ a inflação, que no início do ano era mais percebida pelas famílias de baixa renda uma vez que os vilões eram os preços dos alimentos, uma despesa que pesa pouco na cesta de consumo das famílias de alta renda.

No ano passado, o IPCA fechou com alta de 4,52%, acima da meta de 3,75% estabelecida para 2020, mas a pressão inflacionária era imposta pela alta repentina dos preços dos alimentos, que segundo o IPCA, comprometem 21% do orçamento familiar e, cujos preços subiram em média 14%, pressionando o orçamento doméstico de famílias de baixa renda.

Em 2021, ainda que os alimentos permaneçam com alta acumulada acima da inflação média, os energéticos roubaram a cena e passaram a ser os vilões da inflação. A gasolina e a energia elétrica subiram respectivamente 39,6% e 28,8%, nos últimos 12 meses. Com estes movimentos, estes energéticos respondem por quase 50% da inflação acumulada em 12 meses, que acumula até setembro, alta de 10,25%.

Entre os energéticos, a gasolina em especial, afeta diretamente o orçamento de famílias com renda mais alta, o que faz a inflação ser percebida por todos, como aponta a Sondagem de Expectativas dos Consumidores.

Expectativas consumidores para a inflação nos 12 meses seguintes por faixa de renda (mediana, em %)


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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