Macroeconomia

Impacto da redução da produção da Vale sobre a atividade econômica

15 abr 2019

O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), no dia 25 de janeiro, gerou impactos imensuráveis sobre a vida humana e ambiental, e os prejuízos provocados ficarão marcados na história do país. Além disso, a tragédia também implicará em perdas econômicas, uma vez que a empresa anunciou uma redução da produção de minério de ferro na ordem de 92,8 milhões de toneladas por ano, volume equivalente a 23,2% das 400 milhões de toneladas previstas para serem produzidas em 2019 antes do desastre.

Os impactos da catástrofe foram determinantes no resultado da produção industrial no mês de fevereiro, divulgada pelo IBGE na última terça-feira. Apesar do crescimento expressivo da indústria de transformação, que foi intensificado pelo maior número de dias úteis em relação a fevereiro do ano passado, a indústria extrativa registrou queda de 14,8% em relação ao mês anterior, a queda mais intensa de toda a série histórica, iniciada em 2002, superando a queda sofrida em dezembro de 2008, que até então havia sido o pior período para a indústria extrativa nessa base de comparação.  Com relação a fevereiro de 2018, a retração da indústria extrativa foi de 10%, a maior desde o fim da última recessão.

A repercussão do desastre afetou as atividades em outras unidades produtivas, uma vez que questões de segurança, da vida humana e ambiental, passaram a ter mais notoriedade. O rompimento da barragem de Brumadinho configura mais um obstáculo no processo de retomada do setor industrial, já que os efeitos não ficaram restritos à região da Mina Córrego do Feijão. Tendo em vista a dimensão dos acontecimentos, buscamos estimar os possíveis impactos da redução produtiva da Vale sobre a PIM e o Valor Adicionado (VA)[1].

Segundo os dados das contas nacionais anuais (referência de 2016 do IBGE), a extração de minério de ferro corresponde a 39% do valor adicionado da indústria extrativa, e grande parte da extração de minério de ferro no Brasil é feita pela Vale. A extrativa, por sua vez, tem um peso estimado de 13,8%[2] no valor adicionado da indústria total. Sendo assim, supondo que o IBGE considere apenas a produção da Vale no cálculo da produção de minério de ferro, o peso da Vale na indústria do PIB é de aproximadamente 5,4%. Portanto, uma redução da extração de minério de ferro na ordem de 20% acarretaria em uma redução do valor adicionado da indústria extrativa de 7,8 p.p., e de 1,1 p.p. da indústria total. A indústria total possui um peso estimado de 21,6% no VA da economia, e, portanto, o impacto em termos de VA seria de cerca de 0,2 p.p.

A mesma análise pode ser generalizada para a PIM. Nesse caso, o peso da extração de minério de ferro na indústria extrativa da PIM é estimado em cerca de 53,3% e o peso da indústria extrativa na PIM total é estimado em 11%. Deste modo, uma redução de 20% na produção de minério de ferro acarretaria em uma redução de 11p.p. na extrativa e de 1,2p.p. na PIM total.

Se por um lado há o efeito da queda da produção da Vale, por outro a Petrobrás divulgou que a expectativa é de que a produção de petróleo cresça 10%[3] em 2019, em virtude da entrada em operação de 5 novos sistemas em 2018 e mais 3 em 2019, o que compensa parte da perda sofrida pela indústria em decorrência do desastre em Brumadinho. Em particular, a perda da extrativa é consideravelmente menor, visto que o peso da extração de petróleo e gás no VA desta atividade é de 40% (referência 2016). Desse modo, uma redução de 20% na extração de minério de ferro acompanhada de um aumento de 10% na produção de petróleo e gás reduz as perdas do setor para 3,9 p.p., o que representa 0,5 p.p. com relação à toda atividade da indústria. Desse modo, ainda utilizando os mesmos pesos, a redução em termos de VA é de 0.1 p.p. Com relação ao reflexo na PIM para 2019, visto que o peso estimado do petróleo é de cerca de 35,5%, a perda da extrativa é estima em 7,1 p.p., o que em termos de indústria total significa produzir 0,8 p.p. a menos.

Contudo, é importante ressaltar que esta análise se baseou em pesos que ainda não são conhecidos e, portanto, foram estimados. Ademais, possíveis paralizações em outras barragens ou aumentos de produção em unidades produtivas com capacidade ociosa poderão alterar as estimativas realizadas neste estudo à medida que novas informações forem disponibilizadas.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

[1] O Valor Adicionado da economia corresponde ao PIB excluindo-se os impostos.

[2] Peso referente à participação no da indústria extrativa no VA das Contas Nacionais Trimestrais de 2018.

[3] Essa expectativa é referente à produção de petróleo no Brasil, e foi divulgada no ‘Plano Estratégico 2040 e Plano de Negócios e Gestão 2019-2023’

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