Trabalho

Mais pessoas empregadas e mais renda nas regiões brasileiras

30 dez 2024

Acompanhando o bom desempenho da atividade econômica, o mercado de trabalho no Brasil surpreendeu este ano. Além da redução no desemprego, a PO vem batendo recordes, a renda melhorando e a subutilização caindo sistematicamente.

O mercado de trabalho brasileiro apresentou um bom desempenho ao longo deste ano, com seus indicadores registrando níveis de destaque na série histórica da PNAD Contínua, iniciada no primeiro trimestre de 2012. No 3º trimestre deste ano, a taxa de desemprego foi de 6,4%, a segunda menor da série histórica, e a população ocupada bateu recorde, com mais de 103 milhões de trabalhadores. A situação atual do mercado de trabalho brasileiro também é reflexo da melhora dos indicadores nas cinco regiões brasileiras. Portanto, nesta edição, analisaremos a performance do mercado de trabalho em nível regional.

A taxa de desemprego caiu significativamente nas cinco regiões brasileiras, conforme mostra o Gráfico 1. Comparando o 3º trimestre de 2024 com o 4º trimestre de 2019, as regiões que mais reduziram o desemprego foram o Sudeste (-5.3 p.p.) e o Nordeste (-5.1 p.p). Ainda assim, o Nordeste permaneceu sendo a região com a maior taxa de desemprego (8,7%). Embora se observe a manutenção das clássicas disparidades regionais, as diferenças entres as regiões têm se atenuado. Além disso, as taxas do Centro-Oeste e Sul, atualmente, são as menores, com 4,9% e 4,1%, respectivamente, e tem se aproximado uma da outra desde o início do ano passado.

Gráfico 1 – Taxa de desemprego trimestral. 2019q4 a 2024q3. Regiões.

Fonte: elaboração FGV IBRE com base nos microdados da PNAD Contínua.

A trajetória recente da taxa de desemprego está relacionada à dinâmica atual da economia brasileira. Os indicadores de atividade econômica apontam uma elevação do aquecimento em diversos setores da economia. Consequentemente, os empregadores têm ofertado mais vagas e a população brasileira tem encontrado mais oportunidades para se inserir efetivamente no mercado de trabalho, ou seja, conseguir um emprego formal.

No último ano (2023q3-2024q3), a população ocupada registrou um incremento de mais de três milhões de pessoas e atualmente está na sua máxima histórica (103 milhões), conforme mostra o Gráfico 2.A. As regiões que apresentaram os maiores incrementos foram o Sudeste e o Nordeste, com respectivamente 1,3 milhão e 898 mil pessoas a mais ocupadas. Já as regiões Norte, Sul e Centro-Oeste tiverem incrementos de 337 mil, 455 mil e 194 mil pessoas, respectivamente. A composição da população ocupada permanece similar ao observado em outros trimestres, com 45% dos trabalhadores residindo na região Sudeste e 22,7% no Nordeste. Portanto, essas duas regiões concentram mais de dois terços da população ocupada do país.

Gráfico 2 – Evolução da População Ocupada e Crescimento
no período 2019q4 a 2024q3. Regiões.

Fonte: elaboração FGV IBRE com base nos microdados da PNAD Contínua.

Já o Gráfico 2.B. mostra o crescimento da população ocupada em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Observa-se que, no último ano, as regiões registraram um aumento mais sustentado do número de trabalhadores. Na margem, essa tendência permanece, mas de forma menos expressiva no Centro-Oeste. O Nordeste, por exemplo, apresentou nos últimos quatro trimestres consecutivos expansão sustentada, e atualmente sua população ocupada está 4,0% maior do que o registrado no mesmo trimestre do ano anterior. Esse crescimento ficou acima do observado para o Sudeste (2,9%), Sul (2,9%) e Centro-Oeste (2,2%), mas inferior ao do Norte (4,2%).

O avanço da atividade econômica também pode estar contribuindo para a melhora de outros indicadores do mercado de trabalho, tais como taxas de subutilização e de desalento das regiões brasileiras[1]. O indicador de subutilização ganhou destaque no Brasil durante a pandemia, pois neste período atingiu níveis muito elevados. Contudo, após a fase mais aguda da pandemia, com a recuperação da atividade econômica e melhora das expectativas das empresas e pessoas, o indicador passou a apresentar trajetória declinante e hoje está em 15,7%, menor valor da série iniciada no 4º trimestre de 2015.

Nota-se que todas as regiões apresentaram declínio expressivo em suas taxas de subutilização nos últimos quatro anos, conforme mostra o Gráfico 3.A. Atualmente, as taxas se encontram nos menores patamares da série iniciada no 4º trimestre de 2015, exceto na região Nordeste. O Sul continua reportando a menor taxa de subutilizados (9,0%), seguido do Centro-Oeste (11,2%) e Sudeste (12,7%). Embora o Nordeste tenha conseguido reduzir sua taxa pela metade, quando comparada ao seu pico no 3º trimestre de 2020, ainda é a região com a maior proporção de subutilizados (25,8%).

Gráfico 3 – Taxas de Subutilização e Desalento nas Regiões. Período 2019q4 a 2024q3.

Fonte: elaboração FGV IBRE com base nos microdados da PNAD Contínua.

Já o Gráfico 3.B. mostra forte redução na taxa de desalento. Embora ainda haja grande heterogeneidade regional, com Nordeste e Norte apresentado as maiores taxas, é inegável que houve uma melhora considerável neste indicador após o seu pico durante a pandemia. Em particular, no terceiro trimestre de 2024 a taxa de desalento das regiões Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste foram de 3,4%, 6,7% 1,2%, 0,8% e 1,2%, respectivamente. No Brasil, essa taxa foi de 2,7%.

Outro indicador que mostra o bom desempenho do mercado de trabalho ao longo dos últimos trimestres é o aumento do rendimento do trabalho, um componente importante da renda domiciliar. O Gráfico 4 mostra a evolução do rendimento médio real do trabalho desde o final de 2019.[2] Observa-se que as regiões apresentaram trajetórias semelhantes no período 2019-2024, pois em todas elas ocorreu aumento da renda ao longo de 2020, seguido de forte queda em 2021. No entanto, desde o final de 2021 temos notado melhora no rendimento do trabalho, que tem sido disseminada em todas as regiões do país.

Em particular, no 3º trimestre de 2024, o rendimento das regiões Norte (R$ 2.482), Nordeste (R$ 2.216), Sudeste (R$ 3.656), Sul (R$ 3.577) e Centro-Oeste (R$ 3.683) superaram o observado no último trimestre de 2019 em 9,0%, 4,6%, 3,7%, 6,5% e 9,8%, respectivamente. No Brasil o rendimento real do trabalho no terceiro trimestre deste ano (R$ 3.227) estava 5% maior do que o observado no final de 2019.[3]

Gráfico 4 – Rendimento Médio Real Habitual do Trabalho. Período 2019q4 a 2024q3. Regiões.

   Fonte: elaboração FGV IBRE com base nos microdados da PNAD Contínua.

Como visto anteriormente, vários indicadores têm apontado melhora considerável no mercado de trabalho. No entanto, existe um indicador que ainda merece atenção – a taxa de participação. O Gráfico 5 mostra a evolução da taxa de participação desde o final de 2019 para o Brasil e regiões. Esse indicador é muito importante para a economia, pois sinaliza o grau de inserção da população no mercado de trabalho e é medido pela razão entre a força de trabalho (ocupados mais desocupados) e população em idade ativa.

A taxa de participação no Brasil ainda está abaixo da observada no período pré-pandemia. A queda registrada em nível nacional em 2020 foi disseminada em todas as regiões, de modo que, em 2020, esse indicador atingiu o menor nível da série histórica em todas as regiões brasileiras. Com a recuperação da atividade após a reabertura da economia, a taxa de participação voltou a apresentar forte crescimento até meados de 2022, dando sinais de que retornaria ao nível pré-pandemia, mas não foi o que ocorreu.

Gráfico 5 – Taxas de Participação das Regiões. Período 2019q4 a 2024q3.

Fonte: elaboração FGV IBRE com base nos microdados da PNAD Contínua.

Mesmo tendo voltado a crescer desde o início de 2023, a taxa de participação registrada no 3º trimestre de 2024 ainda ficou abaixo do observado no período pré-pandemia. No 3º trimestre deste ano, as taxas de participação das regiões Norte (60,5%), Nordeste (54,7%), Sudeste (65,1%), Sul (66,4%) e Centro-Oeste (67,8%) ainda estavam abaixo do observado no último trimestre de 2019 em 0,2 p.p., 1,2 p.p., 1,8 p.p., 0,4 p.p. e 0,1 p.p., respectivamente. A taxa de participação do Brasil no terceiro trimestre deste ano (62,4%) ficou 1,2 p.p. abaixo do patamar pré-pandemia.[4]

A presente análise mostra que o bom momento do mercado de trabalho brasileiro está relacionado ao fato de que as regiões conseguiram melhorar seus indicadores e isso contribuiu para a média nacional. Esse bom momento é fruto, dentre outros fatores, de uma economia mais aquecida, devido à maior aceleração da atividade econômica. Vale salientar que alguns setores já têm encontrado dificuldades para preencher vagas, devido à escassez de mão de obra especializada. Dado que a oferta da mão de obra não tem acompanhado a demanda, isso tende a gerar pressão para elevação dos salários. A trajetória da taxa de participação também precisa ser acompanhada com atenção, pois a expansão da força de trabalho é um componente importante para que a economia consiga crescer de forma sustentada.

Esta é a seção Em Foco do Boletim Macro FGV IBRE de dezembro de 2024.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

[1]A taxa de subutilização da força de trabalho é a porcentagem que o grupo de pessoas desempregadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas ou que integram a força de trabalho potencial representa dentro da força de trabalho ampliada (pessoas na força de trabalho somadas à força de trabalho potencial). Já a taxa de desalento é a porcentagem que o grupo de pessoas que gostariam de trabalhar e estariam disponíveis, porém não procuraram trabalho por acharem que não encontrariam, representa dentro da força de trabalho ampliada. Em particular, vários são os motivos que levam as pessoas a desistirem de procurar trabalho, entre eles: não encontrar trabalho na localidade, não conseguir trabalho adequado, não conseguir trabalho por ser considerado muito jovem ou idoso, ou não ter experiência profissional ou qualificação.

[2] Os dados de rendimento estão deflacionados a preços do terceiro trimestre de 2024.

[3] Veloso et. al (2024) mostraram através de simulações contrafactuais que uma parcela significativa da recuperação da renda real do trabalho no Brasil no pós-pandemia, em particular em 2023, pode ser explicada pela melhora da composição educacional da população ocupada. Os autores mostraram que, caso a composição educacional da população ocupada observada no quarto trimestre de 2019 tivesse se mantido constante ao longo dos últimos anos, o crescimento da renda teria sido bem menor. Acesse o estudo completo no Observatório da Produtividade Regis Bonelli através do link: https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/mercado_de_trabalho_no_brasil_no_pos-pandemia_final.pdf

[4] A partir dos dados da Pnad Contínua, Veloso et. (2024) analisaram os determinantes estruturais da taxa de participação brasileira. Os autores observaram que a melhora da composição educacional da PIA contribuiu de forma positiva para a variação acumulada da taxa de participação desde 2012. Já o envelhecimento populacional contribuiu de forma negativa para a variação da taxa de participação ao longo do período. Os resultados mostram, no entanto, que embora o envelhecimento populacional tenha tido efeito negativo na variação da taxa de participação, isso foi mais do que compensado pelo efeito positivo da melhoria da composição educacional. Desta forma, os autores concluíram que, como a escolaridade média da população brasileira continua sendo relativamente baixa e ainda possui bastante margem para aumento, é possível que sua elevação ao longo do tempo seja capaz de compensar os efeitos negativos do envelhecimento populacional sobre a taxa de participação no mercado de trabalho brasileiro. Acesse o estudo completo no Observatório da Produtividade Regis Bonelli através do link: https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/determinantes_estruturais_da_taxa_de_participacao_-_final_-_observatorio.pdf

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