Mercado de trabalho no Brasil: evolução, efeitos da pandemia, perspectivas e propostas
A vulnerabilidade dos trabalhadores foi exacerbada pela pandemia, logo políticas que melhorem as perspectivas de inserção produtiva, como aumento da escolaridade dos trabalhadores e melhorias na intermediação e capacitação no mercado de trabalho, são fundamentais.
1. Introdução
O mercado de trabalho brasileiro é caracterizado por uma crônica dificuldade de inserção produtiva de grande parte da população. Isso se manifesta de diversas formas, como taxas elevadas de desemprego e informalidade, além de um baixo nível do rendimento do trabalho, que cresce pouco ao longo do tempo.
Essa vulnerabilidade dos trabalhadores foi exacerbada pela pandemia de Covid-19, que teve um impacto profundo no mercado de trabalho brasileiro, afetando principalmente os trabalhadores informais e de baixa escolaridade, especialmente no setor de serviços. Outra consequência da pandemia foi a queda sem precedentes da força de trabalho.
A pandemia também teve forte impacto em outras medidas de vulnerabilidade da inserção no mercado de trabalho. O grupo de pessoas subutilizadas, formado por desalentados, indisponíveis, subocupados por insuficiência de horas trabalhadas e desocupados, cresceu de forma substancial na crise, assim como o desemprego de longa duração.
Em 2021 houve uma recuperação do mercado de trabalho, mas com predomínio da geração de postos de trabalho informais e uma parcela significativa de trabalhadores ainda fora da força de trabalho. Embora alguns indicadores, como a taxa de desemprego, tenham retornado ao patamar pré-pandemia, isso não necessariamente é uma boa notícia, pois o mercado de trabalho já se encontrava muito fragilizado em relação à situação que prevalecia antes da recessão de 2014-2016.
Projeções da equipe do Boletim Macro do FGV IBRE indicam uma lenta redução da taxa de desemprego nos próximos anos devido ao baixo crescimento da economia. Para 2022 e 2023, a previsão do FGV IBRE é de uma taxa de desemprego de 11,9% e 12,6%, respectivamente. A queda da taxa de desemprego para níveis próximos da média entre 1995 e 2019 (9,8%) depende de uma aceleração mais forte da economia brasileira. Para se atingir a faixa dos 10% em 2026, seria necessário um crescimento de 3,5% entre 2024 e 2026, algo bastante improvável dado o baixo desempenho atual da economia brasileira e as revisões para baixo das projeções de mercado para o crescimento do PIB nos próximos anos.
Diante desse quadro, políticas que melhorem as perspectivas de inserção produtiva no mercado de trabalho são fundamentais. Além do crescimento econômico, é primordial aumentar a escolaridade dos trabalhadores. A melhoria da composição educacional da mão de obra pode contribuir para um comportamento mais favorável do mercado de trabalho nos próximos anos, em particular para a redução do desemprego e da informalidade e para o aumento da remuneração do trabalho. No entanto, esta tendência favorável pode ser negativamente afetada pela grande perda de aprendizagem observada durante a pandemia.
Outra forma muito importante de inserção no mercado de trabalho é por meio da melhoria da intermediação do emprego e da capacitação da mão de obra. Programas bem desenhados de intermediação do emprego e qualificação profissional podem dar uma contribuição importante para o aumento da empregabilidade e dos salários.
O objetivo deste artigo é analisar a evolução de alguns importantes indicadores do mercado de trabalho brasileiro nas últimas décadas e discutir como foram afetados pela pandemia. Também mostramos a importância da educação para uma inserção mais produtiva no mercado de trabalho. Com base neste diagnóstico, apresentamos propostas de políticas de intermediação do emprego e capacitação da mão de obra.
Além desta introdução, este artigo está organizado da seguinte forma. A segunda seção discute brevemente a evolução desde o início da década de 1990 de três variáveis fundamentais do mercado de trabalho brasileiro: taxa de desemprego, taxa de informalidade e rendimento do trabalho. A terceira seção analisa os efeitos da pandemia em diversos indicadores do mercado de trabalho. A quarta seção analisa as perspectivas do mercado de trabalho. Em uma abordagem macroeconômica, apresentamos algumas projeções da evolução da taxa de desemprego nos próximos anos. Em seguida, discutimos a possível contribuição da educação para a redução da taxa de informalidade e de desemprego, assim como para o aumento do rendimento do trabalho. Na quinta seção analisamos duas modalidades de políticas ativas de emprego. A primeira trata dos programas de intermediação de emprego e a segunda aborda políticas de qualificação profissional. Para cada uma delas, faremos recomendações de política.
O artigo completo pode ser acessado no site do Observatório da Produtividade Regis Bonelli.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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