Macroeconomia

O susto com a alta dos alimentos deve durar pouco

2 abr 2020

A expansão da pandemia de Covid-19 por todo o país ao longo de março mudou a rotina de famílias e empresas provocando uma tempestade na economia. No âmbito da inflação, a despeito da forte desaceleração do nível de atividade, chamou atenção a alta dos preços de alimentos, motivada em grande parte por uma corrida aos supermercados para formação de estoques, mas também por gargalos de oferta.

No nível mais agregado da cesta média de consumo do brasileiro, o repique nos preços de alimentos foi compensado pelo bom comportamento de outros itens. A inflação continua baixa e relativamente estável, com o IPCA passando de 0,25% em fevereiro para algo em torno de 0,2% em nossas projeções para março, cujo número final será conhecido no dia 09 de abril.

O que causa certa preocupação na alta dos preços dos alimentos é o fato de que este grupo de produtos pesa muito na cesta de consumo das famílias de baixa renda, exatamente aqueles que podem sofrer mais com o tombo da economia. O gráfico abaixo mostra o peso relativo da alimentação no consumo das famílias por decis de renda com base em dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2018-19, do IBGE.

                  Fonte: Elaboração própria com base nos dados da POF/IBGE 2017-2018

O impacto nos preços de alimentos ocorreu em todos os níveis, com uma transmissão rápida dos preços ao produtor para o consumidor. Em março, o IPA-M/FGV registrou aumento médio de 7,3% nos preços de alimentos in natura, ante 0,5% em fevereiro. Houve aceleração também nos preços de alimentos processados, em menor magnitude, de -1,6% para 1,3% entre fevereiro e março. 

Tanto no segmento in natura quanto no de processados, os preços de quase todos os itens subiram em relação a fevereiro, com destaque para itens da cesta básica.

Ao nível do consumidor, o Monitor da Inflação da FGV também captou uma alta expressiva de preços de itens básicos em março, com uma forte aceleração entre a primeira e a segunda quinzena. No início do mês, vinte alimentos componentes na cesta básica apresentavam neutralidade em seus preços, ao variar apenas 0,02%. Já no dia 27 de março, o mesmo conjunto de produtos subia em média 1,6%. O gráfico abaixo apresenta a trajetória seguida pelos preços desses produtos no mês de março.

Var.% média de itens componentes da cesta básica

                  Fonte: Monitor da Inflação FGV IBRE

Para o IPCA fechado de março a principal contribuição para a inflação virá do grupo Alimentação e Bebidas, para o qual aguarda-se alta de 1,2%. No IPCA-15, com coleta de preços até a metade do mês, a variação média deste grupo havia sido de apenas 0,35%.

O isolamento social e a subsequente corrida para formação de estoques são os principais fatores a explicar a aceleração do grupo Alimentação e Bebidas, com destaque para alimentação no domicílio.

Apesar do susto, não parece haver espaço ou condições para que este movimento de aceleração nos preços dos alimentos persista em abril. Após o período mais difícil de isolamento social é provável até que eles recuem um pouco. A aceleração, portanto, não muda nossa expectativa para a inflação no ano, que seria uma das menores já registradas no país, de 2%, aproximando-se da inflação de 1998, que foi de 1,7%.  
 

Alimentos

Var.% estimada com preços coletados entre

03/fev e 02/mar

28/fev e 27/mar

Var.% média de itens básicos

0,19

1,64

          ARROZ

1,17

1,74

          FEIJÃO-CARIOCA

-2,16

0,58

          FEIJÃO-PRETO

-2,61

2,24

          BATATA-INGLESA

-1,76

5,20

          TOMATE

14,02

13,34

          BANANA-PRATA

4,61

4,14

          FARINHA DE MANDIOCA

-1,18

1,50

          FARINHA DE TRIGO

-0,57

0,52

          PÃO FRANCÊS

0,55

0,27

          AÇÚCAR REFINADO

1,36

0,58

          AÇÚCAR CRISTAL

1,57

2,52

          LEITE EM PÓ

0,11

1,30

          LEITE TIPO LONGA VIDA

-1,13

1,50

          MANTEIGA

-0,26

-0,03

          FRANGO EM PEDAÇOS

-0,16

0,16

          FRANGO INTEIRO

-1,47

-2,20

          OVOS

5,04

9,04

          CARNES BOVINAS

-2,31

0,25

          CARNES SUÍNAS

-0,40

0,00

          CAFÉ EM PÓ

-0,44

0,15

                      Fonte: Monitor da Inflação FGV IBRE

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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