A pandemia e a saúde pública e privada
O surgimento da pandemia de COVID-19 no Brasil e a consequente necessidade de adoção das recomendações de isolamento social para diminuir o ritmo de contágio do vírus têm impactos diretos e indiretos na economia, afetando, praticamente, todas as atividades econômicas. Neste texto, que amplia a seção especial sobre a saúde do Monitor do PIB-FGV, busca-se compreender como duas das principais atividades econômicas diretamente afetadas pela COVID-19, a saúde pública e a saúde privada, foram, e devem continuar sendo impactadas pelo avanço da pandemia no país. Para isto, serão analisados os impactos em duas desagregações da atividade de saúde: (i) produção hospitalar e (ii) produção ambulatorial. A produção hospitalar é medida pela quantidade de dias de permanência das internações, enquanto a ambulatorial é medida pela quantidade de atendimentos.
Essas duas atividades, em conjunto, representavam 4,3% do PIB brasileiro em 2017, de acordo com as informações das Contas Nacionais divulgadas pelo IBGE, sendo a saúde pública responsável por 2,0p.p. desse montante e a saúde privada pelos demais 2,3p.p.
Ambas as atividades compõem o setor de serviços do PIB. Na desagregação da economia em 12 atividades, conforme das Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, a saúde pública representava, em 2017, 13% da atividade de Administração Pública, enquanto a saúde privada representava 15,1% da atividade de Outros serviços.
Saúde pública
Conforme ilustrado no Gráfico 1, abaixo, em maio, a atividade de saúde pública recuou 26,0%, na comparação interanual, com recuos expressivos tanto na produção ambulatorial (-28,9%) quanto na produção hospitalar (-23,7%). Com isso, nesse mês, a produção hospitalar contribuiu com aproximadamente -11,5 p.p. para o recuo da atividade de saúde pública, enquanto a produção ambulatorial foi responsável por -14,5 p.p. na retração da atividade.
Essas fortes quedas no segmento de saúde pública contribuíram negativamente (-3,4 p.p.) para a retração de 2,0% registrada na atividade de Administração pública, conforme apontada no Gráfico 2.
Apesar da atividade de saúde pública ter baixa representatividade, em termos de ponderação, o expressivo recuo deste setor foi o responsável por tornar negativa a variação da atividade de Administração Pública em maio, tendo em vista que a contribuição dos demais componentes do setor foi positiva.
Saúde privada
A saúde privada, que representa 15,1% da atividade de Outros Serviços, retraiu 37,7% em maio na comparação interanual. Destaca-se nesta atividade que, embora tanto a produção ambulatorial quanto a produção hospitalar tenham recuado significativamente, a retração interanual da produção ambulatorial foi duas vezes maior do que a da produção hospitalar em maio, conforme ilustrado no Gráfico 3. Por esta razão, pouco mais de 70% da queda da atividade é explicada pelo recuo de 49,9% da produção ambulatorial.
Essa forte retração da atividade de saúde privada, ilustrada no Gráfico 4, resultou em uma contribuição negativa de 5,7 p.p. para a retração de -24,6% da atividade de Outros Serviços. Embora essa contribuição de -5,7 p.p. seja muito expressiva, representou apenas pouco mais de 20% do recuo da atividade de Outros Serviços, sendo a terceira maior contribuição negativa dentre os setores que compõem esta atividade. A atividade de Outros Serviços é composta por outras atividades que também têm sido muito impactadas pela atual recessão como as atividades de alojamento, alimentação e os serviços prestados às empresas.
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Essas quedas da atividade de saúde, tanto pública como privada, estão associadas principalmente ao adiamento de consultas eletivas e exames laboratoriais devido ao isolamento social.
Cabe destacar que a atividade de saúde pública vem ampliando suas retrações na comparação interanual desde fevereiro deste ano. A atividade de saúde privada, por sua vez, apresenta reduções desde janeiro, e parece ter alcançado sua maior variação negativa em abril deste ano (-40%). Apesar de ter apresentado uma retração menor em maio (-37,7%) do que aquela observada em abril, a variação continua ainda sendo muito negativa.
É importante destacar que estas estimativas realizadas do impacto direto sobre a saúde pública e privada não abrangem toda a composição do que seria considerado o setor de saúde da Conta Satélite de Saúde do Brasil, divulgada pelo IBGE. Além das atividades exclusivas de saúde pública e privada, a Conta Satélite abrange outras atividades da cadeia de saúde, tais como fabricação e comércio de produtos farmacêuticos, entre outras atividades relacionadas à saúde, todas mensuradas nas suas atividades principais.
Outro ponto importante de destacar é que essas estimativas são calculadas com base nos dados disponibilizados no DataSUS, base de dados do Ministério da Saúde. Essas informações, por serem constantemente atualizadas, podem sofrer grandes alterações entre as divulgações.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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