Blog do IBRE

Setembro registrou um saldo positivo forte, acima das projeções. Embora as demissões a pedido tenham sofrido uma leve queda na margem, a taxa de demissões a pedido e o acumulado anual atingiram recordes históricos.

O ano de 2024 tem se destacado não apenas pelo forte saldo positivo de novos postos de trabalho, mas também pelo crescimento contínuo das demissões a pedido, um indicador importante do aquecimento do mercado de trabalho. Em setembro, foram registradas 737.510 demissões voluntárias, uma queda de 2,9% em relação a agosto, quando o número atingiu o pico da série com 759.395 demissões. Ainda assim, o valor de setembro permanece entre os mais altos desde o início da série, em janeiro de 2020, como mostra o Gráfico 2. Além disso, a taxa de demissões a pedido em setembro de 2024 — a proporção de demissões voluntárias em relação ao total de demissões — alcançou seu recorde histórico, chegando a 38,5%.

Em relação ao acumulado de janeiro a setembro, o aumento foi expressivo entre 2020 e 2024. Em 2020, o total de demissões a pedido nesse período foi de 2,6 milhões, correspondendo a uma taxa de 22,0%. Em 2024, esse número subiu para 6,5 milhões, com a taxa atingindo 36,6% do total de demissões. Comparando-o com os anos anteriores, o acumulado de 2024 representa um crescimento de 16,1% em relação a 2023 (5,6 milhões) e um aumento ainda mais expressivo de 22,8% em relação a 2022 (5,3 milhões). Esses números mostram uma tendência de alta nas demissões a pedido, sinalizando uma busca crescente dos trabalhadores por melhores oportunidades de trabalho.

Gráfico 2: Evolução das demissões a pedido (voluntárias)

Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados do Novo CAGED. Dados com ajustes declarados até setembro/24.

Como as demissões a pedido têm se destacado como um fenômeno relevante em 2024, analisamos a sua composição sob quatro aspectos demográficos: escolaridade, faixa etária, região e gênero. A Tabela 1 apresenta o total acumulado de demissões voluntárias de janeiro a setembro, de 2020 a 2024, segmentado por escolaridade e faixa etária.

Considerando a composição educacional, observa-se que todas os grupos apresentaram crescimento acima de 10% entre 2023 e 2024. O maior crescimento percentual foi entre os trabalhadores com Ensino Médio Completo ou Superior Incompleto, que cresceu 17,6% em relação ao acumulado de janeiro a setembro de 2023 e que registrou o maior número absoluto de desligamentos, com 4,44 milhões em 2024. Trabalhadores com Ensino Fundamental Completo ou Médio Incompleto também tiveram um crescimento expressivo no acumulado deste ano em relação ao do ano anterior (15,9%).

No recorte por faixa etária, as demissões voluntárias cresceram em todas as faixas no período 2023-2024. Embora as demissões a pedido tenham crescido 29,9% entre os com 17 anos ou menos, esse grupo detém o menor número absoluto de demissões e consequentemente a menor participação. Entre os jovens de 18 a 24 anos, o total de desligamentos passou de 1,6 milhão no acumulado de 2020 para 1,91 milhão em 2024, ou seja, registrou um crescimento de 15,3%. A segunda faixa com maior valor absoluto é a de 30 a 39 anos. As demissões a pedido nesse grupo passaram de 1,5 milhão em 2023 para 1,74 milhão em 2024, o que representa uma alta de 14,2%.

Tabela 1: Demissões a pedido por escolaridade e faixa etária.
Acumulado no período janeiro a setembro.

Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados do Novo CAGED.
Dados com ajustes declarados até setembro/24. O total considera as demissões
voluntárias não identificadas.

O Gráfico 3 apresenta a composição do acumulado das demissões a pedido entre janeiro e setembro, segmentada por escolaridade e faixa etária, de 2020 a 2024. Na parte referente à escolaridade, observa-se que no acumulado de 2024 mais de 2/3 (68,1%) das demissões a pedidos ocorreram entre trabalhadores com Médio Completo ou Superior Incompleto. A participação desse grupo tem crescido consistentemente desde 2020. O segundo grupo com maior participação é o de Fundamental Completo ou Médio Incompleto, que correspondeu a cerca de 13,4% das demissões a pedido no acumulado de 2024 e manteve-se relativamente estável ao longo dos anos.

Gráfico 3: Composição das demissões a pedido
por escolaridade e faixa etária

Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados do Novo CAGED.
Dados com ajustes declarados até setembro/24.

No que diz respeito à faixa etária, os trabalhadores entre 18 e 24 anos são os que mais se demitem voluntariamente. Eles têm representado cerca de 29% das demissões a pedido total nos últimos anos. Embora os trabalhadores de 30 a 39 anos detenham a segunda maior participação (26,7%), seu peso tem caído gradualmente ao longo do tempo, passando de 29,5% em 2020 para 26,7% em 2024. Tais resultados mostram que as demissões a pedido se concentram em faixas etárias mais jovens.

O texto completo pode ser acessado no Observatório da Produtividade Regis Bonelli.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva das autoras, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.