Macroeconomia

PIB do primeiro tri: economia estagnada, investidores e consumidores em compasso de espera

30 mai 2019

O resultado do PIB do primeiro trimestre, divulgado pelo IBGE nesta manhã, mostrou que a atividade econômica do país retraiu 0,2% no primeiro trimestre do ano, acendendo um sinal de alerta a respeito da cambaleante evolução econômica no pós-recessão.

Os dados divulgados confirmaram a situação dramática do setor industrial, que se retraiu 0,7%. A indústria de transformação, que já vinha em trajetória de desaceleração desde meados do ano passado, recuou 1,7% na comparação interanual e 0,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior. A situação econômica crítica na Argentina, nosso principal parceiro comercial de bens manufaturados, tem contribuído para a deterioração do crescimento deste setor. Segundo dados da Anfavea, as exportações de automóveis chegaram a se retrair 40% no primeiro trimestre do ano, quando comparadas ao mesmo período do ano anterior, sendo o quarto trimestre consecutivo de retração nessa base de comparação.

O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho e sua repercussão sobre outras unidades produtivas atingiu em cheio a indústria extrativa nesse primeiro trimestre, que chegou a cair 6,3%. Nossos estudos mostram que os desdobramentos do desastre devem tirar cerca de 0,3 p.p. de crescimento do PIB este ano.

Além disso, a construção civil se retraiu 2,2% ante mesmo trimestre do ano anterior, representando o vigésimo trimestre de queda consecutiva nessa base comparação. O setor vem acumulando quedas trimestre a trimestre desde o início da recessão[1], chegando a acumular retração de 32% quando comparado ao nível pré-crise. Ademais, a perspectiva futura não é nada animadora. No artigo recentemente publicado no Blog do IBRE “Construção: o difícil caminho da recuperação”, Ana Maria Castelo, Iuri Viana e Lucas Braz alertam que o período de lua de mel dos empresários, especialmente aqueles do ramo da construção, com o novo governo chegou ao fim diante do aumento das incertezas. Segundo eles, houve uma piora generalizada nas expectativas das empresas do setor da construção, indicando que a percepção vigente na virada do ano deu lugar ao pessimismo e desencadeou dúvidas sobre o processo de recuperação.

Por outro lado, os serviços contribuíram para amenizar a retração verificada na indústria, expandindo-se 1,2% em termos interanuais e 0,2% ante o trimestre anterior. Contudo, o resultado poderia ter sido melhor se a indústria tivesse ajudado.

Pelo lado da demanda, o investimento retraiu-se 1,7% no trimestre e encontra-se 27% abaixo do nível pré-recessão. Desde o fim do período recessivo o investimento cresceu apenas 4%, isto é, estamos longe demais de recuperar tudo que perdemos. O crescimento econômico sustentado depende em grande medida do retorno da confiança e, consequentemente, do investimento.

A situação atual da economia é de estagnação, empresários e consumidores parecem estar em compasso de espera. O alto nível de incerteza a respeito da condução da agenda política tem gerado dúvidas a respeito da capacidade de crescimento do país. Para se ter ideia, o Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br), publicado pela FGV, chegou a avançar 8 pontos em abril.

Portanto, não há dúvidas de que o desafio do governo é grande. Sem reformas estruturais profundas, não vamos conseguir reequilibrar as contas públicas e aumentar a produtividade, elementos fundamentais para elevar o nosso abatido crescimento potencial.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 
 


[1] Segundo datação do CODACE, a última recessão se estendeu do segundo trimestre de 2014 até o quarto trimestre de 2016.

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