Práticas sustentáveis avançam entre as empresas brasileiras
Práticas sustentáveis (ESG) se tornaram essenciais à competitividade e aceitação de empresas no mercado, trazendo eficiência e menores custos. SEBRAE e FGV IBRE mostram práticas mais adotadas pelas empresas, incluindo MEI e MPE.
Neste contexto, a lucratividade, embora essencial, deixou de ser o único parâmetro indicativo de sucesso no longo prazo. Cada vez mais, empresas se destacam das demais por práticas sustentáveis em termos ambientais, sociais e de governança, conhecidas pela sigla ESG (do inglês, Environmental, Social, and Corporate Governance).
Em uma economia global com recursos cada vez mais escassos, a dimensão ambiental das práticas ESG deixou de ser apenas um “cartão de visitas” empresarial para a sociedade, tornando-se uma prática fundamental para a aceitação no mercado, promoção de um sentimento de inclusão e propósito entre colaboradores, e aumento da competitividade. Embora a literatura sobre o assunto seja ainda limitada, há indícios de que o investimento em sustentabilidade promova ganhos em redução dos custos de capital e contribua para o aumento da eficiência operacional[1]
Medidas como o controle do consumo de água, energia e papel, o uso de energias alternativas (como a energia solar), a coleta seletiva de lixo, a destinação adequada de resíduos tóxicos, e a reciclagem e reutilização de materiais, demonstram a capacidade de empresas em alcançar eficiência operacional e gerar novas fontes de receita para os negócios.
No Brasil, empresas de todos os portes vêm percebendo a importância dessas práticas. Pesquisa realizada pelo SEBRAE e pelo FGV IBRE em março deste ano revela que o controle do consumo de energia é a prática sustentável mais difundida no meio empresarial, inclusive, entre Micro e Pequenas Empresas (MPE[2]) e entre os Microempreendedores Individuais (MEI[3]). Isso se deve, principalmente, à alta dependência de energia elétrica nos processos produtivos, que vai desde grandes usinas siderúrgicas a artesãos que queimam madeira com eletricidade; e ao custo significativo deste insumo para as empresas.
Gráfico 1 – Ações de sustentabilidade mais adotadas por Micro,
Pequenas, Médias e Grandes Empresas, em % do Total (2024)
Neste contexto, os MEI apresentam uma adesão ainda maior (75%) que as MPE (70%), embora ambas estejam abaixo das Médias e Grandes Empresas (89%).
Gráfico 2 – Ações de sustentabilidade por porte, em % do Total (2024)
Fonte: Pesquisa “Ações de Sustentabilidade”, FGV-SEBRAE (mar/2024)
Nota: MGE=Médias e Grandes Empresas, MPE = Micro e Pequenas Empresas; MEI = Microempreendedores Individuais
A separação de lixo para coleta seletiva é a segunda prática de sustentabilidade mais adotada, com 64% dos MEI, 67% das MPE e 87% das MGE, tendo sido impulsionada pela ampliação dos serviços de coleta seletiva de lixo pelo poder público.
O controle do consumo de papel e de água disputam a terceira e quarta colocações, dependendo do porte, sendo o controle da água maior entre os MEI (67%) do que nas MPE (64%). Neste caso, possivelmente devido à operação em ambientes residenciais, onde o custo da água é um fator relevante.
As ações de sustentabilidade adotadas por menos de 70% das empresas brasileiras tendem a evidenciar uma maior diferença entre médias e grandes empresas e os pequenos negócios (MPE e MEI), em parte explicadas pelas especificidades de cada atividade. A destinação de resíduos tóxicos, por exemplo, é uma ação mais presente nas empresas de maior porte, que tendem a lidar com maiores volumes de materiais e matérias-primas, muitas vezes, geradores de razoável quantidade de resíduos tóxicos, como é o caso da construção, das grandes mineradoras e das atividades hospitalares. A reciclagem de pilhas, baterias e pneus, e o uso de materiais reciclados no processo produtivo também requerem infraestrutura especializada e maior escala, por isso, tendem a predominar entre as empresas de médio e grande porte.
A coleta de água da chuva e/ou reutilização de água, praticada por 18% dos MEI e MPE e 52% das MGE, é especialmente relevante para indústrias mais pesadas das MGE, que têm no consumo de água uma característica marcante de seus processos produtivos (p.ex. para limpeza e resfriamento).
O uso crescente de energia solar, impulsionado pelo barateamento dos equipamentos necessários à sua produção, tem destacado a capacidade das empresas em gerar receitas adicionais através da venda de excedentes de energia. Embora ainda tenha um grande potencial de crescimento, esta foi uma das práticas sustentáveis que mais se expandiu nos últimos anos.
Finalmente a compra e/ou venda de produtos usados é uma prática comum para 44% das MGE, 20% nas MPE e 25% nos MEI, sendo mais uma comprovação da preocupação empresarial com a reutilização de materiais que, do contrário, iriam parar nos lixões e/ou em aterros sanitários. Representa, também, um tipo de “reciclagem” que poupa o meio ambiente e as cidades.
A comparação destes resultados com os de uma pesquisa realizada dois anos atrás pelo SEBRAE sugere que todas essas práticas sustentáveis vêm se expandindo entre as MPE e MEI brasileiros. Conclui-se que a sustentabilidade ambiental está cada vez mais integrada às estratégias empresariais, demonstrando um compromisso crescente das empresas de todos os portes com a preservação ambiental. As ações de sustentabilidade não apenas favorecem a sobrevivência dos negócios, mas também desempenham um papel central na criação de valor e na mitigação dos impactos ambientais.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
Gordon L. Clark, Andreas Feiner, e Michael Viehs, From the Stockholder to the Stakeholder: How Sustainability Can Drive Financial Outperformance, Oxford University e Arabesque Partners, 2015 < https://bit.ly/4ek9rEP>
Mozaffar Khan, George Serafeim, e Aaron Yoon, Corporate Sustainability: First Evidence on Materiality, Harvard Business School Working Paper, 2015 < https://bit.ly/3XprW4V>
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