A produtividade da indústria de transformação por atividades econômicas
No período de apreciação cambial, produtividade subiu, indicando esforço competitivo da indústria da transformação – sinal claro de que apreciação beneficiou a IT, que pôde adquirir máquinas e equipamentos a preços reduzidos.
É fato aceito que a participação da Indústria de Transformação (IT) no PIB,[1] que mede o grau de desindustrialização, que chegou a representar, em 1985, 35,9% do valor adicionado (PIB), na comparação a preços correntes, declinou a partir daí chegando a 13,8% em 1998; teve uma efêmera recuperação para 17,8% em 2004 e voltou a declinar chegando às menores participações da série histórica em 2020 e 2021, com apenas 11,2% e 11,3% de participação, respectivamente. A preços constantes chegou a 20%, nos mesmos anos referidos, indicando que os preços da indústria cresceram mais do que o deflator do PIB no período da industrialização mais intensa. Seja qual for a ótica, entretanto, o cenário é de forte perda de participação da indústria no PIB do país; a preços constantes a participação da indústria no PIB é hoje de apenas 12,4%.[2]
É ainda aceito que a produtividade da IT tem declinado desde 1999 até 2021, embora se estabilizando a partir de 2015, conforme mostrado no Gráfico 5. Esse declínio foi bastante expressivo, de tal forma que o valor da produtividade em 2021 é apenas 84% do valor de 2000.
Em artigo recente (ainda preliminar), Bacha, et all[3] salientam esse desempenho medíocre e propõem uma investigação mais detalhada do que ocorreu com a produtividade, já que este problema seria o maior responsável pela desindustrialização brasileira, conforme mencionado acima.
Neste texto, vamos investigar o resultado da produtividade da Indústria de Transformação conforme estimada com as informações das Tabelas de Recursos e Usos (TRU). Isto será feito em dois períodos, tendo em vista alterações metodológicas: o primeiro período será de 1995 a 1999 (tenha acesso aos dados aqui) e o segundo período de 2000 a 2021 (tenha acesso aos dados aqui).
- Período 1995 a 1999
Para este período foi escolhido usar a Tabela de Recursos e Usos N43 (TRU N43) da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, que contém desagregação de 43 atividades, sendo 28 referentes à IT.[4]
Observa-se no Gráfico 2 que a produtividade do período tem duas trajetórias bem distintas: a preços de 1999, cresce 10,1% de 1995 a 1998 e depois cai 7,3%, sendo seu valor pouco abaixo daquele do ano de 1996.
Na comparação de todo o período, a IT cresce 2,1%, sendo que a soma das variações positivas e negativas resulta num crescimento de 2,5%.
No gráfico, 3 observa-se que, dos 28 subsetores desagregados, 9 têm variação negativa, destacando-se: material elétrico, equipamentos eletrônicos, produtos farmacêuticos, artigos do vestuário, e fabricação de calçados.
No Gráfico 4, mostra-se a correlação da evolução da taxa anual de variação da produtividade da IT com cada um dos seus subsetores A maioria dos subsetores contribuiu para a evolução positiva da IT, embora 6 deles tenham contribuído negativamente, amenizando o crescimento.
Mesmo considerando que é necessária uma investigação mais profunda, fica claro que, no período de apreciação cambial, em que a IT teria sido mais prejudicada, a produtividade subiu, indicando um claro esforço para ser competitiva com o resto do mundo; isso é um sinal evidente de que tal ocorrência foi benéfica para a IT, que eventualmente pôde adquirir máquinas e equipamentos a preços reduzidos.
- Período 2000 – 2021
Para esse, período foi escolhido usar a TRU N51, que contém desagregação de 51 atividades, sendo 29 referentes à IT.
Observa-se no Gráfico 5 que a produtividade da IT do período, a preços de 2021, tem clara trajetória de queda: inicialmente chega em 2021 caindo 15% em relação a 2000; se estabiliza e volta a cair até seu ponto mais baixo em 2021, que é apenas 82% do valor de 2000.
No Gráfico 6, observa-se que, dos 29 subsetores da IT, 19 deles têm variação negativa no período e apenas10 têm variação positiva, com destaque para máquinas de escritório, tintas e perfumaria. No Gráfico 7, esse resultado é corroborado pelo resultado da soma das variações anuais, mostrando que a variação do período não é algo fortuito da comparação entre os extremos,
No Gráfico 8, mostra-se a correlação da evolução da taxa anual de variação da produtividade da IT com cada um dos seus subsetores. A maioria dos subsetores contribuiu diretamente para a evolução negativa da IT embora 4 deles (jornais, revistas e discos; produtos farmacêuticos; perfumaria, higiene e limpeza; artigos de plástico) tenham contribuído em direção contrária, amenizando a queda.
- CONCLUSÃO
A catástrofe da IT tem sido um fenômeno puxado por todos os seus subsetores, não se tratando de um resultado isolado de alguns setores.
APÊNDICE
- SUBSETORES DA IT DA TRU N43, REFERENTES AOS ANOS DE 1995-1999
- Minerais não-metálicos
- Siderurgia
- Metalurgia de não-ferrosos
- Outros metalúrgicos
- Máquinas e tratores
- Material elétrico
- Equipamentos eletrônicos
- Automóveis, caminhões e ônibus
- Outros veículos e peças
- Madeira e mobiliário"
- Papel e gráfica
- Indústria da borracha
- Elementos químicos"
- Refino do petróleo
- Químicos diversos
- Farmacêutica e de perfumaria
- Artigos de plástico
- Indústria têxtil
- Artigos do vestuário
- Fabricação de calçados
- Indústria do café
- Beneficiamento de produtos vegetais
- Abate de animais
- Indústria de laticínios
- Indústria de açúcar"
- Fabricação de óleos vegetais
- Outros produtos alimentares
- Indústrias diversas
- SUBSETORES DA IT DA N51 REFERENTES AOS ANOS DE 2000-2021
1. Alimentos e Bebidas
2. Produtos do fumo
3. Têxteis
4. Artigos do vestuário e acessórios
5. Artefatos de couro e calçados
6. Produtos de madeira - exclusive móveis
7. Celulose e produtos de papel
8. Jornais revistas discos
9. Refino de petróleo e coque
10. Álcool
11. Produtos químicos
12. Fabricação de resina e elastômeros
13. Produtos farmacêuticos
14. Defensivos agrícolas
15. Perfumaria higiene e limpeza
16. Tintas vernizes esmaltes e lacas
17. Produtos e preparados químicos diversos
18. Artigos de borracha e plástico
19. Cimento e outros produtos de minerais não-metálicos
20. Fabricação de aço e derivados
21. Metalurgia de metais não-ferrosos
22. Produtos de metal - exclusive máquinas e equipamentos
23. Máquinas e equipamentos inclusive manutenção e reparos
24. Eletrodomésticos e material eletrônico
25. Máquinas para escritório aparelhos e material eletrônico
26. Automóveis camionetas caminhões e ônibus
27. Peças e acessórios para veículos automotores
28. Outros equipamentos de transporte
29. Móveis e produtos das indústrias diversas
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
[1] Nestas comparações, a despeito de nos referirmos a PIB, estamos falando de Valor Adicionado total a preções básicos, ou seja, exclui os impostos sobre produtos.
[2] Ver CONSIDERA, Claudio e TRECE, Juliana “À Beira da Extinção, IBRE/FGV, Texto para Discussão no. 13, 2023,
[3] BACHA, Edmar L., TERZIANI, Vitor S., CONSIDERA, Claudio M., GUIMARÂES, Eduardo G., “Why Did Brazil Deindustrialize So Much? An Empirical Investigation” acessível no blog ao Instituto Casa das Garças
[4] Devido a problemas metodológicos com a série de pessoal ocupado no período de 1994-1990 não é possível utilizar as informações desse período.
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