Cenários

Quais os grupos mais beneficiados com o bom desempenho do mercado de trabalho em 2024?

14 out 2024

A criação de empregos manteve a trajetória de crescimento em agosto, com aumento do saldo feminino (45,2%) acima do masculino (10,1%), expansão de trabalhadores temporários e novo recorde de demissões a pedido.

Nos últimos oito meses o mercado de trabalho tem apresentado um bom desempenho, com geração de postos formais acima das expectativas. A seguir, analisamos quem está se beneficiando mais com essa melhora do mercado de trabalho, considerando dois aspectos demográficos: gênero e faixa etária. Observa-se que no acumulado de 2024, o aumento saldo dos empregos formais para homens e mulheres contribuíram positivamente para a expansão do saldo total, conforme mostra a Tabela 1. O saldo entre os homens passou de 841.273 em 2023 para 926.290 em 2024, representando um aumento de 10,1%. No entanto, o destaque é o crescimento do saldo para as mulheres, que passou de 551.237 em 2023 para 800.269 em 2024, um aumento significativo de 45,18%.

Esse crescimento expressivo no saldo feminino gerou uma mudança na composição do saldo total, o tornando menos desigual, conforme mostra Tabela 1 e Gráfico 2. No acumulado de janeiro a agosto de 2023, cerca de 60,4% do saldo de empregos criados no Brasil foram ocupados por homens e apenas 39,6% por mulheres. Já no acumulado deste ano a participação das mulheres no saldo total subiu para 46,4%. Ou seja, ocorreu um incremento de quase 7 p.p. (pontos percentuais). A composição do saldo acumulado de 2024 também ficou mais equilibrada do que em 2022, ano de bom desempenho devido à forte recuperação da economia. Em 2022 56% das vagas foram preenchidas por homens e 44% por mulheres.

Tabela 1: Saldo acumulado de 2023 e 2024
– Por gênero. Brasil. 

Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados
do Novo CAGED. Dados com ajustes.

Em relação aos grupos etários, todas as faixas apresentaram crescimento em seus saldos em 2024 quando comparado a 2023. Contudo, ocorreu uma expansão mais forte entre os grupos etários mais avançados. A faixa de 40 anos ou mais registrou o maior aumento percentual no saldo, com uma alta de 116,71%, passando de 65.869 em 2023 para 142.747 em 2024. A faixa de 30 a 39 anos também se destacou, com um crescimento de 60,19%, passando de 124.336 para 199.179. Entre os mais jovens, o saldo aumentou 13,50% para aqueles com 17 anos ou menos e 12,03% na faixa de 18 a 24 anos. Já a faixa de 25 a 29 anos teve um aumento de 38,60% no saldo, passando de 130.120 em 2023 para 180.341 em 2024.

O aumento do saldo de empregos entre os 40 ou mais, 30-39 e 25-29 resultou em ganhos de participação. A participação do saldo de vínculos de 40 anos ou mais passou de 4,7% para 8,3%. Para os 30-39 anos, a participação aumentou de 8,9% para 11,5% e para os de 25-29 passou de 9,3% para 10,4%. Vale ressaltar que embora as pessoas pertencentes a um desses três grupos etários tenham se beneficiado relativamente mais, a faixa etária de 18-24 anos ainda permanece sendo a de maior peso.

Tabela 2: Admissões, Demissões e Saldo acumulado de 2023 e 2024
– Por faixa etária. Brasil.

Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados
do Novo CAGED. Dados com ajustes.

Em 2023, a maior parte do saldo (50%) foi composto por trabalhadores de 18 a 24 anos, seguido pelas faixas de 17 anos ou menos (10%) e 40 anos ou mais (12%), conforme mostra o Gráfico 2. Em 2023, a participação dos jovens de 18 a 24 anos aumentou para 62%, enquanto as demais faixas etárias perderam participação. Já em 2024, a faixa de 18 a 24 anos representou 56% do saldo total, com a faixa de 17 anos ou menos contribuindo com 14%, e as faixas de 25 a 29 anos, 30 a 39 anos e 40 anos ou mais representando percentuais menores. Portanto, a faixa etária de 18 a 24 anos segue sendo a mais representativa no saldo de empregos ao longo dos três anos analisados.

Gráfico 2:  Composição dos Saldos Acumulados (janeiro a agosto).
2022 a 2024 – Brasil.

Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados
do Novo CAGED. Dados com ajustes.

A Tabela 3 apresenta o saldo acumulado de 2024 para as 10 categorias de ocupação com maior saldo anual, desagregado por gênero. A partir dessa tabela é possível compreender em quais ocupações houve aumentos de postos e mudanças de composição. No agregado, observa-se que dos mais de 1,7 milhão de postos líquidos criados no acumulado de janeiro a agosto de 2024, 84% deles (ou 1,5 milhão) foram nas 10 ocupações listadas na Tabela 3. Embora “Trabalhadores dos Serviços” continue sendo o grupo ocupacional de maior peso e até tenha crescido 6,1% em relação ao mesmo período do ano passado, os grupos “Vendedores e prestadores de serviços do comércio” e “Trabalhadores de atendimento ao público” cresceram mais acentuadamente, cerca de 85,5% e 154% respectivamente.

O saldo entre as mulheres registrou um incremento de 198 mil (ou 38,8%) no acumulado de 2024 quando comparado ao mesmo período de 2023. Observa-se que ocorreu uma forte absorção da mão de obra feminina em pelo menos quatro das dez ocupações listadas abaixo. Em “Vendedores e prestadores de serviços de comércio” e “trabalhadores de atendimento ao público” ocorreu incrementos de 32.507 (270%) e 35.184 (255,1%) vínculos, respectivamente. Entre os homens, os maiores crescimentos ocorreram nas categorias “Escriturários” (33,4%), “Trabalhadores de funções transversais” (27,3%) e “Vendedores e prestadores de serviços do comércio” (23,6%).  Além disso, em sete ocupações o incremento de postos feminino foi maior que de postos masculinos.

Vale ressaltar que a participação das mulheres no saldo de “trabalhadores dos serviços” passou de 54,8% para 61,5%. Já no saldo de “vendedores e prestadores de serviços do comércio” dobrou, passando de 25,1% para 50,1%. Em Trabalhadores de atendimento ao público, a participação das mulheres cresceu de 58,6% para 81,9%.

Tabela 3: Saldo acumulado janeiro a agosto de 2024 por ocupação e gênero. Brasil.

Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados
do Novo CAGED. Dados com ajustes declarados até ago/24.

Em relação aos postos por vínculo, o grande destaque deste ano, em termos de variação percentual, é a expansão do saldo dos trabalhadores contratados temporariamente, conforme mostra o Gráfico 3. 

O texto completo pode ser acessado no Observatório da Produtividade Regis Bonelli.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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