Economia Regional

Relações comerciais extraterritoriais por região e UF: Região Norte

18 nov 2025

Um perfil da relevância das transações comerciais extraterritoriais para a composição da oferta de produtos da região Norte e de seus estados, no caso das importações, e na composição da demanda total desses produtos, no caso das exportações.

Introdução

Neste texto, terceiro da série de seis textos[1] sobre a corrente de comércio regional, aborda-se a relevância das transações comerciais da Região Norte com as demais regiões do país e com o resto do mundo. Além da região, foram analisadas, as transações comerciais extraterritoriais de cada um de seus estados: Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá e Tocantins.

A maior parte da análise refere-se a 2018, pois as Tabelas de Recursos e Usos por Unidades da Federação (TRU-UF), foram divulgadas pelo IBGE unicamente para este ano[2]. Mescla-se esses dados com informações de comércio internacional da base de dados do ICOMEX, que permitiu, além da ampliação da granularidade das informações em 2018, por CNAE 2 dígitos, analisá-los para 2024, último ano completo com informações disponíveis nesta base de dados.

O texto busca mostrar a relevância das transações comerciais extraterritoriais para a composição da oferta de produtos da região Norte e de seus estados, no caso das importações, e na composição da demanda total desses produtos, no caso das exportações.

A análise se concentrou em quatro grupos de produtos: (i) produtos característicos da agropecuária, (ii) produtos característicos da extrativa, (iii) produtos característicos da transformação e (iv) outros produtos[3]. Pela própria característica de menor comercialização exterior deste último grupo, este texto não analisará as suas transações extraterritoriais.

O trabalho está estruturado em nove partes: (i) transações extraterritoriais da Região Norte; (ii) transações extraterritoriais de Rondônia; (iii) transações extraterritoriais do Acre; (iv) transações extraterritoriais do Amazonas; (v) transações extraterritoriais de Roraima; (vi) transações extraterritoriais do Pará; (vii) transações extraterritoriais do Amapá; (viii) transações extraterritoriais do Tocantins e; (ix) conclusão.

Transações extraterritoriais da Região Norte

As importações na oferta da Região Norte

O Gráfico 1 mostra que as importações representaram 30,4% da oferta da região Norte, em 2018, sendo 6,6% proveniente de outros países e 23,9% de outros regiões.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Observa-se que, à exceção das importações de produtos característicos da extrativa, as importações de outras regiões foram mais importantes para complementar a oferta do Norte do que as importações vindas de outros países.

Chama a atenção a importação de produtos característicos da transformação que representou 53% da oferta total, isto é, a região Norte importa mais do que produz desse grupo de produtos. É importante ressaltar este padrão, visto que, de modo geral, produtos característicos da transformação tendem a apresentar maior valor agregado e a gerar empregos com maiores salários.

Na análise da pauta de importações internacionais, apresentada no Gráfico 2, destaca-se que os principais países fornecedores permaneceram os mesmos em cada grupo de produtos analisados, entre 2018 e 2024.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

Nos produtos característicos da agropecuária, a Argentina destacou-se como fornecedora para a região Norte nos dois anos analisados, mas reduziu consideravelmente sua participação em 2024 devido ao aumento da relevância do Chile (era 2%, em 2018, e passou a ser 15%, em 2024) no fornecimento de produtos referentes a pesca e a aquicultura.

Nos produtos característicos da extrativa, os destaques foram os Estados Unidos e a Colômbia. No primeiro caso, pelo fornecimento de petróleo e de gás natural, enquanto no segundo, pelo carvão mineral.

Nos produtos característicos da transformação, a China e os Estados Unidos foram protagonistas nos dois anos analisados, respondendo por cerca de metade da pauta. Ressalta-se que, em 2024, a Rússia também passou a ter participação mais significativa (10%). A relevância chinesa na pauta é fortemente associada aos produtos eletrônicos, principal produto característico da transformação importado internacionalmente pela região. Dos Estados Unidos, o principal fornecimento foram os produtos químicos e, da Rússia, referente a coque, derivados do petróleo e biocombustíveis.

As exportações na demanda da Região Norte

O somatório das exportações para outros países e outras regiões do país representaram 24,4% da demanda por produtos da região Norte em 2018, como mostra o Gráfico 3.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Destacam-se as exportações de produtos característicos da extrativa por terem representado cerca de 80% da demanda por esses produtos, sendo cerca de 75% destinada a outros países, com destaque para o minério de ferro. Isto é justificado pelo fato do Pará, principal estado produtor de minério de ferro no país, naquele ano[4], pertencer a região Norte.

Na transformação e na agropecuária também se observam elevados percentuais de exportação. No caso da transformação, a existência da Zona Franca de Manaus colabora para estimular as exportações desses tipos de produtos, principalmente relacionados a equipamentos eletrônicos.

No caso dos produtos característicos da agropecuária, as exportações podem estar associadas a expansão da fronteira agrícola do Centro-Oeste para a região Norte e a produtos específicos com produção concentrada nessa região do país, como são os casos do açaí, do dendê, da juta e da malva, que segundo a Produção Agrícola Municipal do IBGE (PAM) de 2024, são produzidos no país exclusivamente na região Norte. Além deles, em 2024 o abacaxi (34%), o cacau (54%) e o guaraná (53%), também estiveram bastante concentrados na região. A estatística “Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura” do IBGE (PEVS), também mostrou elevado percentual de extração vegetal do país, em 2024, naquela região (52%); enquanto, pela Pesquisa da Pecuária Municipal do IBGE (PPM), identificou-se que 27% do efetivo dos bovinos brasileiros está na região Norte. Essas informações ajudam a explicar o potencial exportador de produtos característicos da agropecuária da região Norte.

Pela análise da pauta internacional de exportações, apresentada no Gráfico 4, nota-se que a China é um mercado de destinação relevante de produtos característicos da agropecuária e da extrativa. No caso da agropecuária, observa-se que a Turquia e a Espanha também tem percentuais relevantes nas exportações nortistas.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

Nos produtos característicos da transformação, identifica-se que há grande concentração de exportação de alimentícios e de produtos da metalurgia e, isso vem se acentuando ao longo do tempo (em 2018 esses produtos respondiam por 69% das exportações internacionais da transformação, enquanto em 2024, passou para 80%). A principal destinação de produtos alimentícios foi para a China, enquanto a de produtos da metalurgia, foi para a Noruega.

Transações extraterritoriais de Rondônia

As importações na oferta de Rondônia

O Gráfico 5 mostra que pouco mais de 30% da oferta de produtos de Rondônia, em 2018, foi atendida por importações, sendo a maior parte, provenientes de outros estados (30,2%).

A maior parte dos produtos característicos da transformação foram importados (65%), principalmente de outros estados (58,5%) e uma pequena parcela (6,5%) de outros países, o que mostra elevada dependência do estado pela aquisição externa desses produtos.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

A pauta de importações internacional de Rondônia, apresentada no Gráfico 6, mostra que a Argentina é o principal parceiro do estado em produtos característicos da agropecuária e, que a China também tem relevância. Nos dois casos, isto deve-se a aquisição de produtos da agricultura e da pecuária. Com relação ao Chile, o considerável aumento de sua participação nessa pauta de importações do estado, em 2024 (27%), foi devido ao fornecimento de produtos da pesca e da aquicultura.

Nos produtos característicos da extrativa, destaca-se o fato de que houve consideráveis modificações na pauta internacional de Rondônia entre 2018 e 2024. A Itália que era a principal parceira do estado, em 2018 (48% da pauta), perdeu o protagonismo para o México, em 2024, que registrou o mesmo percentual que tinha a Itália.

Nos produtos característicos da transformação, a China e a Argentina foram os principais destaques da pauta internacional, em ambos os anos. A principal importação argentina foi de produtos alimentícios, enquanto a chinesa foi mais diversificada. Cabe pontuar que, no total da pauta internacional desse grupo de produtos, os alimentícios e os químicos responderam por cerca de 41%, em 2024, cerca de 10 p.p. a mais do que representavam em 2018.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

As exportações na demanda de Rondônia

Embora apenas cerca de 25% da demanda total de Rondônia referiu-se as exportações, em 2018, como apresentado no Gráfico 7, houve percentuais elevados em determinados grupos analisados, como os de produtos característicos da extrativa (51%) e da agropecuária (37,3%).

Nos produtos característicos da extrativa, como 88% da produção do estado no setor, em 2021 foi devida a minerais metálicos, de acordo com a PIA, supõe-se que a maior parte das exportações do estado desse tipo de produtos seja referente a minerais metálicos.

 Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Nos produtos característicos da agropecuária, Rondônia tem relevância no cenário nacional na produção de café canephora (16%)[5], o látex líquido (41%)[6], óleo de copaíba (19%)[7], além de ser relevante no rebanho de bovinos brasileiro (8%)[8], o que ajuda a entender o potencial exportador do estado nesse grupo de produtos.

Já nos produtos característicos da transformação, como 78% do valor da produção do estado deveu-se a fabricação de produtos alimentícios,[9] é provável que produtos alimentares sejam o principal foco das exportações dos produtos característicos da transformação.

Na análise da pauta internacional de exportações, ilustrada no Gráfico 8, embora os Países Baixos tenham sido a principal destinação dos produtos característicos da agropecuária, em 2018 (26%), isto não se repetiu em 2024. China e Espanha, em contrapartida, mostraram percentuais estáveis nos dois anos, pouco superior a 20% devido a exportações de produtos referentes a agricultura e a pecuária.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

Nos produtos característicos da extrativa, o principal destaque é a exportação de produtos minerais metálicos para a China, que, inclusive, praticamente dobrou de participação na pauta internacional entre 2018 e 2024. Destaca-se que, em ambos os anos, a pauta exportadora desses produtos foi altamente concentrada em alimentícios.

Transações extraterritoriais do Acre

As importações na oferta do Acre

O Acre importou mais de 30% da sua oferta de produtos, em 2018, sendo 29,5%, proveniente de outros estados e, 3,5%, de outros países, como mostra o Gráfico 9. As importações de produtos característicos da extrativa (85,6%) e da transformação (79,2%) foram bastante expressivas nas suas respectivas ofertas, sendo, em ambos os casos, a principal origem em outros estados. Nesse sentido, ressalta-se que o maior fornecimento da produção própria do estado na composição de sua oferta foi em produtos característicos da agropecuária.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Das importações de outros países, apresentada no Gráfico 10, o único fornecedor de produtos agropecuários para o Acre foi o Peru, tanto em 2018, quanto em 2024.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

Nos produtos característicos da transformação, o principal produto importado pelo estado foram os químicos. O Acre tinha a Itália e a China como principais fornecedores em 2018, porém, em 2024, já diversificou para Estados Unidos e Tailândia.

As exportações na demanda do Acre

As exportações do Acre são principalmente de produtos característicos da agropecuária com destino para outros estados do país. Segundo o Gráfico 11, quase não há exportação acreana para outros países.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

O Acre destaca-se na produção nacional de borracha (63%) e castanha-do-pará (30%), de acordo com dados da PEVS de 2024, o que pode ajudar a explicar seu percentual elevado de exportações de produtos da agropecuária (33,5%) no total demandado desse grupo de produtos.

Nos produtos característicos da extrativa, a exportação é devida a minerais não metálicos, uma vez que este é o único produto característico da atividade produzido no estado, segundo dados da PIA de 2023.

Em relação a produtos característicos da transformação, a principal produção do setor foi de alimentícios (cerca de 80% entre 2016 e 2023, conforme a PIA), o que sugere que seja o principal produto característico da transformação exportado pelo estado.

A pauta exportadora internacional, apresentada no Gráfico 12, mostra que o Peru e a Bolívia figuram como importantes destinações das exportações de produtos característicos da agropecuária, devido aos produtos florestais. Em 2024, o Peru seguiu com a mesma relação comercial, porém a Espanha também passou a figurar como um parceiro relevante para o estado nesta categoria, devido a produtos da agricultura e da pecuária.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

Nos produtos característicos da transformação, houve bastante diversificação na destinação da pauta acreana entre 2018 e 2024, com grande protagonismo dos produtos alimentícios para a Tailândia e Hong Kong, em 2018, e para os Emirados Árabes, o Peru e a Turquia, em 2024. Cabe pontuar que além desses produtos, a exportação internacional de produtos de madeira foi a segunda principal do estado, embora com destinações variadas.

Transações extraterritoriais do Amazonas

As importações na oferta do Amazonas

        A maior parte da oferta de produtos do Amazonas deve-se a própria produção do estado (70,8%). Da parcela importada, a principal origem são os demais estados do país, como pode ser visto no Gráfico 13. Os produtos que apresentaram as maiores parcelas de importações nas suas ofertas foram os característicos da extrativa (acima de 50%).

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

As importações internacionais do estado, referente a produtos característicos da agropecuária, tiveram como origem principal a Argentina. Nos produtos característicos da extrativa, embora a França, a Espanha e o Japão tenham sido parceiros importantes, em 2018, isto não se repetiu em 2024. Neste ano, os Estados Unidos e o Peru foram responsáveis por praticamente toda a importação internacional desses tipos de produtos do Amazonas.

Nos produtos característicos da transformação, destacaram-se as importações de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos nos dois anos analisados. Ressalta-se a importação desses produtos da China e, também, a de produtos químicos dos Estados Unidos.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

As exportações na demanda do Amazonas

No que tange as exportações, a produção do Amazonas direciona-se, majoritariamente, para outros estados do país, tendo pouca relevância no comércio internacional, como pode ser observado no Gráfico 15.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

A maior participação das exportações na demanda refere-se aos produtos característicos da transformação e, neste setor, o Amazonas se destaca na produção nacional de determinados produtos que podem justificar esse elevado percentual, tais como equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (43%), equipamentos de transporte (42%) e bebidas (8%), segundo dados da PIA de 2023.

Em termos de parceiros internacionais, destaca-se a relevância da destinação desses produtos para a Argentina e a Colômbia, em 2018, padrão que se alterou para a China e os Estados Unidos, em 2024, como destacado no Gráfico 16. 

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

Transações extraterritoriais de Roraima

As importações na oferta de Roraima

Roraima importou cerca de 30% da sua oferta de produtos, em 2018, com origem, principalmente, em outros estados (24,3%), seguida de outros países (3,3%). A principal importação do estado refere-se aos produtos característicos da transformação, em que mais de 90% da oferta foi gerada fora do estado, conforme mostra o Gráfico 17.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Embora a maior parte da importação de produtos característicos da transformação seja de outros estados do país, cerca de 11,1% da demanda desses produtos no estado deve-se a importação internacional, onde nota-se, pelo Gráfico 18, que a China e Israel foram os principais fornecedores para o estado. No caso da China, destaca-se principalmente a importação de produtos de borracha, de máquinas e de equipamentos, enquanto no de Israel, a de produtos químicos.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

As exportações na demanda de Roraima

        Nota-se, pelo Gráfico 19, que as exportações são pouco relevantes na demanda de Roraima. O maior destaque foram os produtos característicos da agropecuária, onde a principal destinação foi para outros estados do país (41,8%). Cabe destacar, segundo a PAM de 2024, que a soja foi responsável por metade do valor da produção agrícola de Roraima.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Como mostra o Gráfico 20, a China, que em 2018 quase não era uma destinação das exportações internacionais roraimenses, passou a ser, em 2024, em produtos característicos da agropecuária e da extrativa.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

Nos produtos característicos da transformação, destacam-se as exportações de produtos alimentícios, principalmente para a Venezuela e a Guiana, países que fazem fronteira com Roraima.

Transações extraterritoriais do Pará

As importações na oferta do Pará

        No caso do Pará, praticamente 70% de sua oferta foi produzida no próprio estado, e a maior parte das importações (25%) foi proveniente de outros estados do país. A importação de produtos característicos da transformação chama atenção por representar mais de 60% do total ofertado desses produtos no estado.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

A Argentina se destaca como a principal fornecedora internacional de produtos característicos da agropecuária para o Pará, tanto em 2018 (94%), como em 2024 (64%).

Nas importações internacionais de produtos característicos da extrativa, a Colômbia foi responsável por praticamente toda a pauta, em 2018, altamente concentrada na importação de carvão mineral, enquanto em 2024, além da importação desse produto colombiano, também tiveram destaque a importações estadunidenses de petróleo e gás natural.

Nos produtos característicos da transformação, os Estados Unidos, a Rússia e a China tiveram destaque, nos dois anos. Em termos de produtos, destacaram-se as importações de coque, produtos derivados do petróleo, biocombustíveis, químicos, e máquinas e equipamentos.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

As exportações na demanda do Pará

Pelo Gráfico 23, nota-se que os principais produtos exportados pelo Pará são os característicos da extrativa, com principal destinação para outros países (85,7% da demanda total desses produtos). Isto é explicado pela relevância do estado na produção nacional de produtos minerais metálicos (minério de ferro), tendo respondido, segundo a PIA de 2018, por 43% do valor produzido nacionalmente desses produtos.

Embora em menor percentual, os produtos característicos da agropecuária paraense tiveram, em 2018, cerca de 20% de destinação para outros locais, devido a relevância do estado no valor da produção de ampla gama de produtos agropecuários. De acordo com a PAM de 2024, o Pará foi destaque nacional na produção do dendê (98%), do açaí (96%), do cacau (51%), da pimenta-do-reino (34%) e do abacaxi (25%). Com base na PEVS de 2024, também foram identificados destaques nacionais no valor produzido de cumaru (94%), palmito (82%), pequi (62%), buriti (44%) e castanha-do-pará (32%). Além disso, segundo a PPM de 2024, o Pará foi o segundo estado com o maior efetivo de rebanhos do país (11%), ficando atrás apenas do Mato Grosso. Todos esses fatores contribuíram para as exportações paraenses de produtos agropecuários.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Das exportações internacionais do Pará, a China apresenta relevância tanto na análise de produtos característicos da agropecuária, quanto na dos característicos da extrativa, como pode ser observado no Gráfico 24.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

As exportações internacionais de produtos característicos da transformação já foram menos concentradas em destinações, embora tenham sido bastante concentradas em produtos. Na atividade de transformação do estado, segundo a PIA de 2023, 70% do valor produzido no estado foi em produtos alimentícios e metalúrgicos, o que, consequentemente, explica a pauta exportadora ser concentrada nesses produtos; em 2024, 87% das exportações internacionais do Pará deveram-se a eles.

A análise da pauta de 2024, mostra que a China foi a principal responsável pela exportação internacional de produtos alimentícios. Já dos produtos metalúrgicos, Noruega, Canadá, Estados Unidos e Japão responderam por cerca de 80% da pauta exportadora da transformação.

Transações extraterritoriais do Amapá

As importações na oferta do Amapá

        O Amapá produziu internamente 73,1% de sua oferta de produtos, em 2018 e, importou a outra parte, principalmente, de outros estados brasileiros (23,6%). Chama atenção o baixo percentual da produção de produtos característicos da extrativa e da transformação em suas respectivas ofertas, cujas importações foram responsáveis por mais de 60% de suas ofertas, como mostra o Gráfico 25.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Na análise internacional da pauta importadora do Amapá, destaca-se o fato de ter havido mudanças significativas nos países fornecedores entre 2018 e 2024. Nos produtos característicos da agropecuária, toda a importação, em 2018, veio da França e dos Estados Unidos, já em 2024, a China foi a fornecedora internacional exclusiva desses produtos.

Nos produtos característicos da extrativa, embora os Estados Unidos ainda sejam o principal fornecedor (63%) em 2024, perderam a participação que tinham, em 2018, para a Rússia no fornecimento do mesmo produto (petróleo e gás natural).

A Rússia, inclusive, tornou-se protagonista na importação de produtos característicos da transformação em 2024 (87%), tendo ultrapassado a posição de relevância que, em 2018, era da China e da Austrália.

Destaca-se que, em 2018, a pauta importadora era também mais diversificada em termos de produtos, com os principais destaques (76%) sendo as máquinas, equipamentos, produtos de metal e químicos, por exemplo. Já em 2024, 90% da pauta importadora internacional foi referente a coque, derivados do petróleo e biocombustíveis.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

As exportações na demanda do Amapá

Em relação as exportações, o Amapá é um estado com baixo percentual, sendo de apenas cerca de 10% da sua demanda, como mostra o Gráfico 27.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Os produtos característicos da extrativa são os que apresentaram maior percentual de exportação de sua demanda (cerca de 35%), sendo destinados tanto para outros estados quanto para outros países. Essas exportações referem-se a produtos minerais, dado que, segundo a PIA de 2023, de produtos característicos da extrativa, o Amapá produz, apenas estes.

Na análise da pauta exportadora internacional amapaense, ilustrada no Gráfico 28, observa-se relevância da China como destinação de produtos agropecuários e da extrativa, tanto em 2018, quanto em 2024, embora este país tenha reduzido a sua participação nos dois grupos de produtos.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

Nos produtos característicos da transformação, a totalidade da pauta é explicada por três tipos de produtos: alimentícios, de madeira e metalúrgicos. Nos produtos característicos da transformação, a totalidade da pauta é explicada por três: alimentícios, de madeira e metalúrgicos. Em 2018, Reino Unido e Suíça foram protagonistas na pauta do Amapá devido à exportação de produtos metalúrgicos. Nas exportações para os Estados Unidos, em 2018, além dos metalúrgicos, também houve exportações de alimentícios; em 2024, as destinações para este país foram apenas de alimentícios. No caso de Portugal as exportações amapaenses foram de produtos de madeira, tanto em 2018, quanto em 2024.

Transações extraterritoriais do Tocantins

As importações na oferta do Tocantins

As importações representaram pouco mais de 30% da oferta de produtos do Tocantins, em 2018. Esse percentual é, principalmente, explicado pela dependência do estado por importações de produtos característicos da transformação (73,8% da oferta, sendo 65,7% de outros estados e 8,1% de outros países), como mostra o Gráfico 29.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Embora os mercados fornecedores tenham ficado parecidos, entre 2018 e 2024, houve significativa alteração de produtos característicos da transformação na pauta importadora. Em 2018, 70% da pauta deveu-se a importação de coque, derivados do petróleo, biocombustíveis e a produtos químicos. Já em 2024, 68% da pauta concentrou-se, em além dos dois mesmos grupos de produtos de 2018, nos alimentícios, equipamentos de informática, eletrônicos, ópticos, máquinas, aparelhos, e materiais elétricos. As principais origens foram a China, os Estados Unidos e a Rússia, sendo as importações provenientes da China diversificadas em vários produtos, enquanto no caso dos Estados Unidos, foram concentradas em coque, derivados do petróleo, biocombustíveis e, no caso da Rússia, em produtos químicos.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

As exportações na demanda do Amapá

Em relação as exportações tocantinenses, elas representaram cerca de 23% da demanda total do estado, em 2018, sendo a maior parte destinada a outros estados do Brasil (16,3%), como mostra o Gráfico 31.

A maior parcela de exportações do Tocantins, por grupos de produtos são a dos caraterísticos da agropecuária, em que quase 70% da demanda total é exportado. De acordo com a PAM de 2024, a soja e o arroz representam cerca de 70% do valor agrícola produzido no Tocantins, o que ajuda a compreender os tipos de produto provavelmente exportados neste grupo.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Os produtos característicos da extrativa também mostraram elevado percentual de exportação e, dado o perfil de produção do estado em que quase a totalidade do valor produzido na extrativa foi de produtos minerais não metálicos, segundo a PIA de 2023, supõe-se que o estado exporte esses tipos de produtos.

A pauta internacional de exportações do estado, apresentada no Gráfico 32, mostra que a China passou a ser o principal parceiro internacional do Tocantins, em 2024, nos três grupos de produtos analisados.

Fonte: SECEX e FGV IBRE (ICOMEX). Elaboração própria.

No caso dos produtos característicos da transformação, a principal exportação foi de produtos alimentícios. Segundo a PIA de 2023, esse é o principal produto característico da transformação produzido no estado, tendo representado 76% do valor produzido na atividade, em 2023.

Conclusão

A Região Norte mostrou elevada dependência da importação de produtos característicos da transformação para compor sua oferta de produtos, principalmente originados em outras regiões do país. A exceção do Amazonas, que tem forte presença da indústria de transformação em sua estrutura econômica, todos os demais estados da região importaram mais de metade da oferta de produtos da transformação, o que indica, além de elevada dependência externa da região, sua pouca inserção na produção de produtos que tendem a apresentar maior valor agregado em comparação a média da economia.

Nas exportações da região, o grande destaque são os produtos característicos da extrativa, principalmente explicado pela mineração no Pará. Essas exportações têm destinação principal os outros países, onde o protagonismo chinês prevalece. Além da extrativa, cabe mencionar que o perfil exportador de produtos característicos da agropecuária é bastante particular, já que há produções brasileiras que são majoritariamente realizadas em solo nortista, como é o caso do açaí, do dendê, do cumaru, do pequi, do cacau e do guaraná, por exemplo. Novamente a China mostra uma forte relação comercial com a região nestes tipos de produtos, sendo ela a principal destinação internacional dessas exportações.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

 

[1] 1º texto disponível em: https://blogdoibre.fgv.br/posts/transacoes-comerciais-entre-regioes-do-b...

2º texto disponível em: https://blogdoibre.fgv.br/posts/relacoes-comerciais-entre-regioes-e-seus...

[2] Segundo o IBGE, as TRU-UF são estatísticas experimentais, desenvolvidas para avaliação da relevância da informação para a sociedade, sendo dados em fase de testes.

[3] Somatório de construção, eletricidade, comércio, transporte, informação e comunicação, atividades financeiras, atividades imobiliárias, outros serviços e administração pública.

[4] Segundo dados da PIA do IBGE, em 2018 o Pará respondeu por cerca de 43% do valor bruto da produção da atividade de extração de minerais metálicos nacional. Em 2023, esse percentual foi de 38% e o estado ficou atrás de Minas Gerais (45%) como principal estado produtor do país.

[5] Segundo a PAM de 2024.

[6] Segundo a PEVS de 2024.

[7] Segundo a PEVS de 2024.

[8] Segundo a PPM de 2024, detendo o sexto maior rebanho entre todas as unidades da federação.

[9] Segundo a PIA de 2023.

Deixar Comentário

To prevent automated spam submissions leave this field empty.
Ensino