Resultados dos indicadores de produtividade do trabalho no segundo trimestre de 2025

No segundo tri de 2025, a métrica de produtividade do trabalho que considera as horas efetivamente trabalhadas apresentou queda na margem de 0,4%. Já as métricas que consideram as horas habituais e a PO recuaram 0,6% e 0,5%.
Uma das medidas amplamente utilizadas em análises de produtividade é a produtividade do trabalho, que consiste no valor adicionado gerado por trabalhador ou por hora trabalhada. Esta variável, no entanto, não permite avaliar o grau de eficiência com que são utilizados os recursos produtivos. Um indicador que permite esta análise é a produtividade total dos fatores (PTF), que leva em consideração não somente a produtividade da mão de obra, mas também a eficiência do uso de capital.
No Brasil, com base na divulgação das Contas Nacionais Trimestrais e da Pnad Contínua, por parte do IBGE, bem como da Sondagem da Indústria, pelo FGV IBRE, é possível construir um indicador de PTF de periodicidade trimestral para a economia brasileira, que permite uma análise conjuntural deste que é o principal motor do crescimento econômico.1
Desde 2019 o Observatório da Produtividade Regis Bonelli tem divulgado estatísticas de PTF usando como medida do fator trabalho duas medidas do total de horas trabalhadas2. A primeira são as horas habitualmente trabalhadas em todas as ocupações, obtidas da PNAD Contínua, que têm como referência uma semana em que não haja situações excepcionais que alterem a duração rotineira do trabalho, ou seja, uma semana típica de trabalho. A PNAD Contínua também fornece informações sobre as horas efetivamente trabalhadas na semana de referência, que podem incluir reduções por motivo de doença, feriado, falta voluntária, atraso ou por outra razão, bem como aumentos por conta de pico de produção e compensação de horas não trabalhadas em outro período.
Até o início da pandemia, os resultados obtidos a partir das duas medidas de horas trabalhadas eram semelhantes. No entanto, em função das medidas de distanciamento social necessárias para conter os efeitos da pandemia, desde o primeiro trimestre de 2020 os dados da PNAD Contínua passaram a revelar um descolamento entre as duas medidas de horas trabalhadas, o qual foi particularmente forte no segundo trimestre, com redução muito mais pronunciada das horas efetivamente trabalhadas que das horas habitualmente trabalhadas. Esta discrepância diminuiu a partir de 2021 devido ao processo que se iniciou de normalização da economia e, consequentemente, das horas efetivamente trabalhadas.3
Em 2023 incorporamos no cálculo da PTF o Índice de Capital Humano (ICH) trimestral, que capta a mudança na composição das horas trabalhadas decorrente do acúmulo de anos de estudo e experiência da população ocupada. Para a construção do ICH, adaptamos ao caso brasileiro a metodologia adotada por diversas organizações internacionais para a mensuração do capital humano do fator trabalho, como o Conference Board, o Bureau of Labor Statistics (BLS) dos Estados Unidos, o Office for National Statistics (ONS) do Reino Unido e a OCDE.4
O Gráfico 1 mostra a trajetória do ICH desde 2012, com base nas horas efetivas e habituais. Entre o segundo trimestre de 2012 e o quarto trimestre de 2019, houve um crescimento acumulado de 17,2% no ICH efetivo e de 17,6% no ICH habitual.
Gráfico 1: Taxa de crescimento das horas efetivamente trabalhadas, das horas habitualmente trabalhadas e da população ocupada para o agregado da economia – (Em % e em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Brasil²
Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli. Elaboração FGV IBRE com base nos dados das Contas Nacionais Trimestrais e da Pnad Contínua (IBGE).
Com a eclosão da pandemia e a forte queda das horas trabalhadas dos trabalhadores de menor escolaridade, houve uma mudança significativa na composição da mão de obra, que elevou consideravelmente o ICH em 2020. Entre o quarto trimestre de 2019 e o quarto trimestre de 2020, houve uma alta acumulada de 5,9% no ICH efetivo e de 5,8% no ICH habitual.
Passada a fase mais crítica da pandemia, os trabalhadores menos escolarizados voltaram para o mercado de trabalho, resultando numa queda de 3,3% no ICH efetivo e de 3,6% no ICH habitual entre o quarto trimestre de 2020 e o quarto trimestre de 2021. Podemos notar também que desde o final de 2021 ambas as medidas do ICH voltaram para sua tendência de crescimento observada no pré-pandemia.
Além da disrupção observada no mercado de trabalho, a pandemia de Covid-19 também provocou um forte descolamento entre o crescimento do valor adicionado e do estoque de capital em uso, que é outro fator de produção utilizado para o cálculo da PTF, tal como apresentado no Gráfico 2.5
Gráfico 2: Taxa de crescimento da produtividade agregada com base nas diferentes medidas do fator trabalho (por hora efetivamente trabalhada, por hora habitualmente trabalhada, e por população ocupada - em % em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Brasil
Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli. Elaboração FGV IBRE com base nos dados das Contas Nacionais Trimestrais e da Pnad Contínua (IBGE).
Apesar da volatilidade do estoque de capital em uso, seu crescimento e do valor adicionado sempre estiveram próximos até o quarto trimestre de 2019. No entanto, com o início da pandemia de Covid-19 no primeiro trimestre de 2020, esse quadro começou a mudar, em especial no segundo trimestre de 2020, com queda no estoque de capital em uso bem maior que a redução observada no valor adicionado. Esta discrepância está relacionada ao recuo no segundo trimestre, para níveis historicamente baixos, do nível de utilização da capacidade instalada (NUCI).6
A melhora do NUCI no terceiro trimestre de 2020 amenizou esta discrepância entre o crescimento do valor adicionado e o estoque de capital em uso. Ao longo de 2021, ambas as medidas apresentaram crescimento positivo, sendo o avanço do valor adicionado bem próximo do observado no estoque de capital em uso. Este padrão se manteve em 2022.
Nos três primeiros trimestres de 2023, o crescimento do valor adicionado foi maior que o do estoque de capital em uso. Já entre o quarto trimestre de 2023 e o terceiro de 2024 o estoque de capital em uso apresentou crescimento interanual maior que o observado no valor adicionado. Este padrão voltou a se repetir no segundo trimestre de 2025, período no qual houve crescimento interanual de 2,4% do valor adicionado e de 3,2% do estoque de capital em uso.
O Gráfico 3 mostra a taxa de crescimento da PTF em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, considerando as duas medidas de horas trabalhadas.
Gráfico 3: Taxa de crescimento da produtividade agregada com base nas diferentes medidas do fator trabalho (por hora efetivamente trabalhada, por hora habitualmente trabalhada, e por população ocupada - em % em relação ao trimestre imediatamente anterior) – Brasil.
Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli. Elaboração FGV IBRE com base nos dados das Contas Nacionais Trimestrais e da Pnad Contínua (IBGE).
Os fatos estilizados sobre a dinâmica da PTF no Brasil até o quarto trimestre de 2019 não dependem da métrica considerada. No entanto, os dados do Gráfico 3 mostram que em 2020, em especial no segundo trimestre, houve forte descolamento na PTF a partir das duas medidas, com elevação muito mais pronunciada da métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas, quando comparada com a medida que considera o total de horas habitualmente trabalhadas. Já no terceiro trimestre de 2020, notamos uma redução na discrepância entre o crescimento da PTF nas duas métricas, em função principalmente da desaceleração do crescimento do indicador que considera as horas efetivamente trabalhadas como medida do fator trabalho.7
Os dados revelam uma piora considerável no crescimento interanual da PTF desde o segundo trimestre de 2021, com quedas interanuais nas duas métricas.8 Em 2022, o quadro de queda interanual das medidas de PTF se manteve.9
Entre o primeiro e o terceiro trimestre de 2023, no entanto, houve uma reversão deste cenário de queda, com crescimento interanual nas duas métricas de PTF. Este quadro não se manteve no último trimestre de 2023, tendo em vista que ambas as medidas de PTF recuaram.10
As quedas interanuais nas medidas de PTF têm se mantido desde 2024.11 No segundo trimestre de 2025, por exemplo, houve queda interanual de 1,1% na PTF por hora efetivamente trabalha e de 1,4% na PTF por hora habitualmente trabalhada.
Outra forma de analisar a dinâmica dos indicadores de PTF é a partir das séries que descontam os efeitos sazonais de cada trimestre, ou seja, com base nas séries dessazonalizadas. O Gráfico 4 mostra a taxa de crescimento dos indicadores de PTF em relação ao trimestre imediatamente anterior.12
Acesse o texto completo no Observatório da Produtividade.
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