Trabalho

Retrato do empreendedorismo no Brasil

23 out 2025

Dados da Sondagem do Mercado de Trabalho do IBRE FGV revelam que boa parte dos empreendedores tem seu negócio como principal fonte de renda. As dificuldades mais citadas foram a carga tributária, o acesso ao crédito e a burocracia. 

1. Introdução

O mercado de trabalho brasileiro passou por profundas transformações ao longo dos últimos anos. Um movimento que chama a atenção foi a expansão do empreendedorismo, que se intensificou durante a pandemia, e embora tenha perdido fôlego desde o final de 2021, ainda se mostra relevante no mercado de trabalho. O empreendedorismo pode movimentar a economia e gerar empregos, desempenhando assim, papel importantíssimo no desenvolvimento econômico e social de um país.

Diante da relevância do tema, procuramos neste texto mapear o perfil do empreendedor brasileiro, bem como entender os motivos pelos quais as pessoas optam por empreender, além de identificar os principais desafios enfrentados pelos empreendedores no Brasil.

A análise do perfil do empreendedor brasileiro é elaborada com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua (PNADC) do IBGE, e principal pesquisa sobre mercado de trabalho brasileiro, que além de ter abrangência nacional, disponibiliza informações relevantes tanto para o mercado de trabalho formal quanto para o informal.

Apesar der ser uma pesquisa bastante abrangente, a PNADC apresenta algumas lacunas importantes ao não abordar perguntas que permitiriam aprofundar algumas análises. Pensando em desenvolver análises complementares, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) desenvolveu a Sondagem do Mercado de Trabalho (SMT), pesquisa que aprofunda o conhecimento sobre o tema do empreendedorismo com a divulgação de estudos complementares. Diante disso, buscamos ampliar a análise realizada com resultados da PNADC, captando pontos relevantes sobre o empreendedorismo no Brasil.

Além desta introdução, o texto conta com mais três seções. Na segunda seção, a partir dos dados da PNADC, analisaremos o perfil do empreendedor no Brasil. Na terceira seção, exploraremos os resultados da SMT. E por fim, na última seção apresentaremos as principais conclusões do estudo.

2. Evolução e perfil sociodemográfico do empreendedor brasileiro

2.1 Evolução

Segundo o IBGE, os empreendedores são pessoas, necessariamente donos de negócios, que buscam gerar renda por meio da criação ou expansão de alguma atividade econômica, identificando e explorando novos produtos, processos e mercados.[1]

A análise feita nesta seção será elaborada com base nos microdados da PNADC, do IBGE. Embora a pesquisa não apresente nenhum conceito sobre o que seria um empreendedor, podemos obter uma proxy do número de empreendedores a partir da variável VD4009 que diz respeito à posição na ocupação e categoria do emprego do trabalho principal da semana de referência para pessoas de 14 anos ou mais de idade.

Neste estudo, seguiremos a definição elaborada pelo SEBRAE[2], e consideraremos os donos de negócios como sendo aqueles que trabalham por conta própria ou que são empregadores. Por definição, os trabalhadores que trabalham por conta própria são pessoas que declaram trabalhar explorando o seu próprio empreendimento, sozinha ou com sócio, sem ter empregado e contando, ou não, com a ajuda de trabalhador familiar auxiliar. Já os empregadores são pessoas que declaram trabalhar explorando o seu próprio empreendimento, com pelo menos um empregado.[3]

No Gráfico 1 apresentamos a evolução do número de donos de negócios no Brasil, bem como a participação deles no total da ocupação (total do pessoal que se declara ocupado) ao longo dos últimos anos.

Gráfico 1: Evolução do Número de Donos de Negócios no Brasil

Fonte: Elaboração própria com dados da PNADC.

Os dados do Gráfico 1a mostram um forte crescimento no número de donos de negócios no Brasil desde 2012. Entre o primeiro trimestre de 2012 e o quarto de 2019, o número de donos de negócios passou de 23,5 milhões para 28,3 milhões de pessoas. Este contingente recuou fortemente no segundo trimestre de 2020, mas, passada fase mais crítica da pandemia, houve novo crescimento de modo que no final de 2021 o número de donos de negócios passou para 29,3 milhões de pessoas.

Após este crescimento, ocorrido entre meados de 2020 e final de 2021, o número de donos de negócios ficou praticamente estável, atingindo no segundo trimestre de 2025 algo em torno de 30 milhões de pessoas. Em particular, no segundo trimestre de 2025, o total de donos de negócios no Brasil representou cerca de 29,3% (Gráfico 1b) do total da população ocupada, valor abaixo do observado no terceiro trimestre de 2021 (31,5%) mas próximo ao observado no pré-pandemia (30,2%), mostrando uma perda de participação entre as ocupações, mesmo com a reversão observada nos períodos recentes.

Embora o aumento do empreendedorismo possa ter várias consequências positivas para o mercado de trabalho e para a economia, uma grande parcela desses trabalhadores não possui proteção social ou registro formal como empresa. No segundo trimestre de 2025, por exemplo, apenas 34,4% donos de negócios possuíam registro no Cadastro Nacional de Pessoa jurídica (CNPJ). Além disso, neste trimestre, 60,3% dos donos de negócios não contribuíam para um instituto de previdência. Os números mostram que, embora essa forma de organização do trabalho tenha avançado no país, a falta de vínculos formais deste grupo com o Estado evidencia um elevado grau de vulnerabilidade.

Na próxima subseção apresentaremos o perfil sociodemográfico dos donos de negócio no Brasil.

2.2 Perfil sociodemográfico dos donos de negócio

Antes de explorarmos o perfil sociodemográfico dos donos de negócio no Brasil, é importante destacar que por ser majoritariamente formado por pessoas que trabalham por conta própria, ele se aproxima do observado neste grupo específico. No segundo trimestre de 2025, por exemplo, 85,9% do total de donos de negócios trabalhava por conta própria[4].

O Gráfico 2 mostra a distribuição regional dos donos de negócios no segundo trimestre de 2025.

Gráfico 2: Distribuição regional dos donos de negócios no segundo trimestre de 2025

Fonte: Elaboração própria com dados da PNADC.

Os dados do Gráfico 2 mostram que 43,9% dos donos de negócios no Brasil estão na região Sudeste. Já as regiões Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste concentram cerca de 23,5%, 15,9%, 8,9% e 7,8%, respectivamente, dos empreendedores.

Analisando separadamente cada um dos grupos que compõem o total de donos de negócio, nota-se que a distribuição regional é bastante semelhante, embora haja pequena diferença nos percentuais alocados em cada região. Dentre os que trabalham por conta própria, 44,3% estão na região Sudeste, 24% estão na região Nordeste, 15,2% estão na região Sul, 9,0% na região Norte e 7,4% no Centro Oeste. Já entre os empregadores, 41,6% estão na região Sudeste, 20,2% estão na região Nordeste, 20,5% estão na região Sul, 7,7% na região Norte e 9,9% no Centro Oeste.

Uma outra ótica importante, analisada no Gráfico 3, é a distribuição dos donos de negócios por sexo.

Gráfico 3: Distribuição por sexo dos donos de negócios no segundo trimestre de 2025

Fonte: Elaboração própria com dados da PNADC.

Os números mostram que os donos de negócios são majoritariamente homens (65,6%). No caso dos que trabalham por conta própria, 65,0% são homens e 35,0% são mulheres. Já dentre os que são empregadores, 69,2% são homens e 30,8% são mulheres.

O Gráfico 4, analisaremos a distribuição etária dos donos de negócios no Brasil.

Gráfico 4: Distribuição etária dos donos de negócios no segundo trimestre de 2025

Fonte: Elaboração própria com dados da PNADC.

A idade média dos donos de negócios no Brasil é de 44 anos. A distribuição etária mostra que 16,6% dos donos de negócios têm 29 anos ou menos, 24,2% entre 30 e 39 anos, 25,1% registram idade entre 40 e 49 anos e 34,1% possuem 50 anos de idade ou mais.

Em média, os empregadores (46 anos) são mais velhos que os trabalhadores que trabalham por conta própria (44 anos). No que diz respeito à composição etária, 37,6% dos empregadores possuem 50 anos ou mais, 28,8% possem idade entre 40 e 49 anos, 24,5% possuem idade entre 30 e 39 anos e apenas 9,2% possuem menos de 30 anos. Já dentre os que trabalham por conta própria, 33,6% possuem 50 anos ou mais, 24,4% possem idade entre 40 e 49 anos, 24,2% possuem idade entre 30 e 39 anos e 17,8% possuem menos de 30 anos.
O Gráfico 5, apresenta o perfil educacional dos donos de negócio no Brasil. 

Gráfico 5: Distribuição educacional dos donos de negócios no segundo trimestre de 2025

Fonte: Elaboração própria com dados da PNADC.

A escolaridade média dos donos de negócio no Brasil foi de 10,8 anos de estudo no período. Os dados mostram que 21,5% dos donos de negócio possuem ensino superior completo, 40,0% possuem ensino médio completo ou superior incompleto, 13,7% possuem fundamental completo e médio incompleto e 24,8% não possuem instrução ou possuem fundamental incompleto.

Ao longo dos últimos anos houve uma mudança significativa no perfil educacional dos donos de negócio no Brasil. No Primeiro trimestre de 2012, por exemplo, apenas 10,3% dos donos de negócio possuíam ensino superior completo, 25,6% possuíam ensino médio completo ou superior incompleto, 16,7% possuíam fundamental completo e médio incompleto e 47,4% não tinham instrução ou possuíam fundamental incompleto. Esta melhora também ocorreu em cada um dos grupos que compõem o total de donos de negócio.

Analisando de forma separada, podemos notar que no segundo trimestre de 2025 a escolaridade média do empregador (12,6 anos de estudo) foi maior que a do trabalhador por conta própria (10,5 anos de estudo). Isto fica evidente quando analisamos a composição educacional destes grupos.

Dentre os empregadores, 39,3% possuem ensino superior completo, 38,8% possuem ensino médio completo ou superior incompleto, 9,2% possuem fundamental completo e médio incompleto e 12,7% não possuem instrução ou possuem fundamental incompleto.

Já dentre os que trabalham por conta própria, somente 18,6% possuem ensino superior completo, 40,2% possuem ensino médio completo ou superior incompleto, 14,5% possuem fundamental completo e médio incompleto e 26,7% não possuem instrução ou possuem fundamental incompleto.

3. Empreendedorismo sob ótica dos dados da Sondagem do Mercado de Trabalho do IBRE FGV

Para aprofundar o tema, o FGV IBRE adicionou, ao longo do segundo trimestre de 2025, questões sobre o tema empreendedorismo na SMT. O objetivo da pesquisa foi complementar as informações que são observadas em bases de dados públicos (como mostrado anteriormente) e preencher lacunas sobre o tema. Foram consultadas 5.442 pessoas ao longo do trimestre, em todo território nacional.

A pesquisa buscou entender temas dos empreendedores brasileiros, como a motivação para empreender; se o empreendimento é sua principal fonte de renda; se os empreendedores são formalizados; dificuldades para formalizar; como divulga seu próprio empreendimento e quais as dificuldades para empreender no Brasil.

Vale ressaltar algumas diferenças em relação aos dados observados na seção anterior. A classificação se o trabalhador é um empreendedor foi feita pelo próprio respondente (autodeclaração). Além disso, a PNADC classifica os trabalhadores que são donos de negócio como atividade principal, a SMT considera como atividade principal e/ou secundária.

O primeiro resultado encontrado, apresentado no Gráfico 6, diz respeito a essa divisão entre trabalho principal ou secundário. Para 70,4% dos empreendedores, essa atividade é sua principal fonte de renda, com 29,6% respondendo que possui outra forma de rendimento principal.

Gráfico 6: O empreendimento é a principal fonte de rendimento do trabalhador empreendedor

Fonte: Sondagem do Mercado de Trabalho do FGV IBRE.

Em seguida, os empreendedores responderam sobre a motivação. O quesito buscava entender qual foi a principal motivação para abrir seu próprio negócio. As respostas não mostraram uma preponderância na motivação, não tendo nenhuma que passasse dos 25%, mostrando equilíbrio entre as opções listadas. A principal motivação assinalada foi “desejo de independência”, apontada por 22,2% dos respondentes, sugerindo que as pessoas têm buscado um formato de trabalho onde elas possam ter mais comando. Em seguida, as duas opções mais citadas foram “necessidade de ter uma renda extra” (18,3%) e “estava desempregado e precisava de algum rendimento” (17,5%), mostrando que a necessidade também é um fator relevante. O resultado mostrado abaixo sugere um certo balanceamento entre empreendedores por vontade própria e por necessidade.

Gráfico 7: Principal motivação para empreender

Fonte: Sondagem do Mercado de Trabalho do FGV IBRE.

Outro ponto levantado pela pesquisa foram os canais de divulgação do empreendimento. Os empreendedores podiam marcar mais de uma opção, por isso, as alternativas somam mais de 100%. Dois canais chamam a atenção por serem um meio de divulgação apontado por mais da metade dos respondentes: “boca a boca/ indicação” (58,8%) e “redes sociais” (52,5%). Outro destaque mencionado foram os aplicativos de mensagens, que chegaram a perto de um quarto dos respondentes. Esse resultado reforça a relevância de canais digitais para o crescimento do empreendimento.

Gráfico 8: Canais de divulgação do empreendimento

Fonte: FGV IBRE.

Em seguida, a pesquisa buscou identificar as principais dificuldades para a formalização. O primeiro fator mais citado foi o “alto custo dos impostos” (39,5%), seguido da “burocracia” (20,2%). Outros fatores como “medo de perder benefícios sociais” ou “meu tipo de negócio não compensa ser formalizado” não foram muito mencionados. Chama a atenção também que 10,1% afirmam não ter informação suficiente sobre como formalizar.

Gráfico 9: Dificuldades para formalização


Fonte:
FGV IBRE.

Por fim, a pesquisa buscou entender quais eram as maiores dificuldades para quem deseja ter o próprio negócio no Brasil. Esse quesito foi coletado para todos os respondentes da pesquisa, e mostra algumas diferenças entre as percepções de quem empreende e dos que não empreendem. Os dois fatores mais citados foram: “dificuldade de acesso ao crédito” (36,5%) e “alta carga tributária” (36,0%). Mas a ordem se inverte quando se olha apenas para os que já empreendem atualmente. Burocracia excessiva foi o terceiro fator mencionado como problema para empreender, e de novo com valor mais elevado para os que possuem algum negócio atualmente. Custo do crédito e falta de treinamento e capacitação vem em seguida, sugerindo que ainda existe uma chance de nova rodada de expansão do aumento do empreendedorismo no país, caso essas dificuldades sejam atenuadas.

Gráfico 10: Dificuldades para empreender

Fonte: FGV IBRE.

4. Conclusão

O empreendedorismo movimenta a economia e gera empregos desempenhando um papel importantíssimo no desenvolvimento econômico e social de um país. No Brasil, os dados mostram um forte crescimento no número de donos de negócios no Brasil entre 2012 até e 2019. Este contingente recuou fortemente no segundo trimestre de 2020, mas, passada fase mais crítica da pandemia, houve novo crescimento no final de 2021, quando o número de donos de negócios passou para quase 30 milhões de pessoas.  Após este aumento, o número de donos de negócios tem ficado praticamente estável.

Adicionalmente, a partir do perfil sociodemográfico vimos que os donos de negócios estão concentrados majoritariamente no Sudeste, são homens, com idade média de 44 anos (mais da metade possuem mais de 40 anos) e com escolaridade média de quase 11 anos de estudo (majoritariamente concentrado no grupo com ensino médio completo e superior incompleto).

Os dados da Sondagem do Mercado de Trabalho do IBRE FGV revelam que boa parte dos empreendedores tem seu negócio como principal fonte de renda, reforçando a relevância da categoria no país. A motivação para se tornar um empreendedor passa por diversos fatores, mas os respondentes mostram que a busca por flexibilidade e necessidade de uma renda extra são os mais comuns entre eles. Ainda assim, a SMT mostra que existem diversas dificuldades observadas pelos empreendedores, dentre as quais as mais citadas foram a carga tributária, acesso ao crédito e a burocracia.

Os resultados deste estudo mostram que o tema possui certa complexidade e busca trazer novas estatísticas para complementar as análises atuais. Embora tenha perdido fôlego desde o final de 2022 a atividade empreendedora no Brasil ainda é muito relevante, e segundo a proxy elaborada, é uma realidade para cerca de 29,3% do emprego no Brasil. No entanto, chama a atenção que uma grande parcela desses trabalhadores não possui proteção social ou registro formal como empresa, e apontam na Sondagem do Mercado de Trabalho que existem dificuldades para se formalizar e manter seu empreendimento funcionando.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.


[1] Saiba mais no link: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101969.pdf

[2] Para mais detalhes acesse o link a seguir: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/empreendedorismo-inform...

[3] Para mais detalhes acesse: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv102172_notas_tecni...

[4] Com exceção do perfil educacional, não houve mudança de padrão em relação aos demais aspectos sociodemográficos. Em função disso, optamos por avaliar o perfil sociodemográfico apenas para o período mais recente.

Deixar Comentário

To prevent automated spam submissions leave this field empty.
Ensino