Saldo de empregos em março frustra expectativas e reforça sinais de desaceleração

Março de 2025 registrou um saldo muito abaixo das expectativas. Todos os setores apresentaram queda em relação a mar/2024, exceto a agropecuária (+4,4%). O comércio teve o pior desempenho dentre os setores analisados.
Nesta edição, analisamos o desempenho do mercado de trabalho formal, conforme ilustrado no Gráfico 1, com base nos dados mais recentes do Novo CAGED, referentes a março de 2025. O saldo de empregos ficou bem abaixo das expectativas do mercado, que projetava a criação de 200 mil vagas. O resultado, embora positivo em termos absolutos, foi bastante modesto, com uma geração líquida de apenas 71.576 postos de trabalho. Esse saldo resultou de 2.234.662 admissões e 2.163.086 desligamentos, representando uma queda de 70,8% em relação ao saldo de março de 2024 (245.395 vagas) e de 63,3% em comparação com março de 2023 (194.893 vagas). Esse desempenho configurou o segundo pior mês de março desde o início do Novo CAGED, superando apenas março de 2020 (-294.985 vagas), período marcado pelo início da pandemia de COVID-19. Em relação a fevereiro de 2025, quando foram criadas 437.111 vagas, a redução foi expressiva, atingindo 83,6%.
No acumulado do primeiro trimestre de 2025, o saldo alcançou 654.503 postos de trabalho formal, resultado de 7.138.587 admissões e 6.484.084 desligamentos. Esse número representa uma queda de 9,8% em relação ao mesmo período de 2024 (725.973 vagas), mas ainda é 21,8% superior ao registrado em 2023 (537.461 vagas) e 5,6% acima do acumulado de 2022 (620.070 vagas). Por outro lado, o resultado foi 18,8% inferior ao observado no primeiro trimestre de 2021 (806.375 vagas), ano marcado pela recuperação pós-pandemia.
Gráfico 1: Admissões, demissões e saldos. Saldo Mensal –2020 a 2025 – Brasil.
Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados do Novo CAGED. Dados com ajustes declarados até março de 2025.
Sob a perspectiva setorial, Tabela 1, o setor de serviços manteve a liderança na geração de empregos formais, porém apresentou uma queda expressiva no saldo, passando de 148.467 em março de 2024 para 52.459 em março de 2025, uma retração de 64,7%. Já o comércio, que havia registrado saldo positivo no ano anterior, apresentou reversão e encerrou março de 2025 com saldo negativo de -10.310, uma variação de -126,7%. A indústria e a construção civil também apresentaram retração, com quedas de 63,5% e 22,2%, respectivamente. Apenas a agropecuária teve leve melhora de 4,4%, apesar de continuar com saldo negativo.
No acumulado do primeiro trimestre, o setor de serviços, responsável pela maior parte das vagas, teve queda de 13,7%, enquanto o comércio apresentou a maior retração proporcional (-172,1%). A agropecuária foi o único setor a crescer no acumulado (+152,1%), mas ainda representa uma fatia menor do total. Em resumo, a tabela evidencia uma piora generalizada no ritmo de geração de empregos formais no país, com destaque para o aprofundamento do saldo negativo no comércio e a desaceleração expressiva nos serviços.
Tabela 1 - Saldo Mensal e Acumulado – Por Setor de Atividade. Brasil.
Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados do Novo CAGED. Dados com ajustes declarados até março de 2025. O total considera os saldos não identificados.
Diante da retração observada em praticamente todos os setores da economia, com exceção da agropecuária, torna-se relevante aprofundar a análise, examinando de forma mais desagregada quais segmentos foram mais impactados pela queda do saldo de empregos formais. A Tabela 2 mostra que as maiores quedas percentuais no saldo de empregos ocorreram em seções tradicionalmente relevantes para o mercado de trabalho brasileiro, como alojamento e alimentação (-215,6%), comércio e reparação de veículos (-126,7%) e atividades administrativas e serviços complementares (-101,2%), todos registrando saldos negativos em março de 2025.
Tabela 2: Top 10 Seções de Atividade com Maior Redução Percentual do Saldo entre Mar/24 e Mar/25. Brasil.
Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados do Novo CAGED. Dados com ajustes declarados até março de 2025. O total considera os saldos não identificados.
O subtotal dessas dez seções responde por uma redução de 88,2% no saldo, contribuindo de forma decisiva para a queda de 70,8% observada no total nacional. A maioria dos setores analisados passou de saldos elevados em 2024 para patamares muito inferiores em 2025, evidenciando não apenas a intensidade da retração, mas também o alcance generalizado da desaceleração no mercado de trabalho formal, com impactos especialmente severos nas áreas de comércio, serviços e indústria.
A Tabela 3 evidencia que, na comparação mensal entre março de 2024 e março de 2025, todos os níveis educacionais apresentaram queda no saldo de empregos formais, com destaque para a categoria de Ensino Fundamental Completo ou Ensino Médio Incompleto, que liderou a retração com uma variação negativa de 74,2%. O grupo com Ensino Superior Completo ou mais também registrou forte queda (-72,2%), seguido por Ensino Médio Completo ou Superior Incompleto (-66,5%). Mesmo entre os trabalhadores com Ensino Fundamental Incompleto, tradicionalmente com saldos negativos, houve aprofundamento das perdas, passando de -7.297 para -9.057 no período analisado (-24,1%).
No acumulado do primeiro trimestre de 2025, o cenário é um pouco menos homogêneo: apenas o grupo com Ensino Fundamental Incompleto apresentou variação positiva em relação ao mesmo período de 2024, com crescimento de 115,6% no saldo de empregos. Os demais níveis educacionais mantiveram saldos positivos, mas com retração em relação ao ano anterior, especialmente para trabalhadores com Ensino Superior Completo ou mais (-20,5%) e Ensino Médio Completo ou Superior Incompleto (-12,5%). Esses dados sugerem que a retração do mercado de trabalho formal afetou de forma mais intensa os grupos com maior escolaridade.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva das autoras, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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