Macroeconomia

Torcendo por um PIB mais fraco?

28 mai 2018

Na quarta-feira, 30/5, desta semana será divulgado o PIB do primeiro trimestre de 2018. A expectativa do Boletim Macro é de um crescimento de 0,2% em relação ao trimestre anterior e de 1,4% em relação ao mesmo período do ano passado.

Além das incertezas inerentes a qualquer divulgação do PIB, no primeiro trimestre de 2018 temos mais um componente a ser monitorado:  uma instabilidade da variação do PIB na margem, resultado direto da metodologia de ajuste sazonal utilizada pelo IBGE. Por exemplo, uma variação de 1,4% AsA corresponde a um crescimento de 0,2% TsT, enquanto que um crescimento inferior de 1,3% AsA se traduz em um crescimento superior de 0,5% TsT, como podemos ver pelo gráfico abaixo.

Taxa de crescimento trimestral do PIB: com ajuste sazonal (TsT) e sem ajuste sazonal (AsA)


Fonte: IBRE/FGV

A metodologia oficial de ajuste sazonal das Contas Nacionais faz uso do programa X-13 ARIMA, gratuitamente disponibilizado pelo Census Bureau. O programa decompõe a série encadeada original do PIB em três componentes: tendência, componente sazonal e componente irregular. Para o cálculo da tendência da série, utiliza-se uma estimativa inicial dada pela média móvel centrada da série original, o que cria um problema nas pontas da série, onde faltam elementos para computar a média. A solução para isso é estimar os pontos que faltam por meio de um modelo ARIMA, por isso os dados mais recentes da série estão sujeitos a maiores revisões. Além disso, a metodologia do IBGE permite que o programa escolha automaticamente o melhor modelo ARIMA para estimar os pontos futuros da série, e é deste aspecto que podem surgir inconsistências em relação à variação ano contra ano. [1]

Outro aspecto que pode gerar instabilidade nas estimativas é o fato de que se considera, além dos efeitos sazonais, tratamento específico para o efeito calendário, identificação de outliers e correção de dias úteis para feriados móveis, que também são escolhidos automaticamente pelo programa e foram outro motivo para a divergência observada no gráfico abaixo.

Dessa forma, eventualmente podemos ter um PIB bem mais fraco no primeiro trimestre – por exemplo, um crescimento de 1,1% em relação ao ano passado e não 1,4% como esperado –, mas, ao mesmo tempo, uma expansão de 0,4% na margem.....

Será que temos que torcer por um PIB mais fraco?

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.


[1] Ao considerar variações de 1,5% e 1,4% AsA, o programa escolhe um ARIMA (2,1,2)(0,1,1) para prever os dados faltantes para a média móvel na ponta, enquanto ao considerar crescimento entre 1,3% e 0,8% AsA, o modelo escolhido é um ARIMA (2,1,0)(0,1,1).

 

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VAGNER BESSA
Daiane Marcolino
VAGNER BESSA
Daiane Marcolino
Gilberto Borça Jr.

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