Padrões ocupacionais do mercado de trabalho brasileiro
Em 9 anos, houve alta de “trabalhadores dos serviços e vendedores dos comércios e mercados” e recuo de “ocupações elementares”. No 2º tri/21, mais de 50% dos trabalhadores eram de serviços/comércios (18,2 mi), ocupações elementares (14,2 mi) ou operários/artesãos (11,6 mi).
Buscando analisar o mercado de trabalho sob a perspectiva das ocupações, investigamos a evolução do emprego por grandes grupos ocupacionais (GG) entre o 1º trimestre de 2012 e 2º trimestre de 2021. Vale ressaltar que será dada maior ênfase até o 4º trimestre de 2019 para evitar inferir padrões com base em períodos atípicos que podem conter efeitos transitórios, como foi o caso da pandemia da Covid que ocorreu entre os anos 2020 e 2021.
Além disso, analisamos em que medida as heterogeneidades educacionais dos trabalhadores ajudam a compreender os padrões ocupacionais existentes. Os dados são provenientes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC). A Figura 1 apresenta a evolução das participações dos grupos ocupacionais. Quanto mais larga a faixa, maior a quantidade de trabalhadores no grupo e, consequentemente, maior a sua participação no emprego total.
A quantidade de trabalhadores em “Ocupações Elementares” caiu de 18,2 milhões para 16 milhões, reduzindo sua participação de 20,8% para 16,9% entre o primeiro trimestre de 2012 e quarto trimestre de 2019 (Figura 1A). Por outro lado, o número de trabalhadores dos “Serviços e Vendedores dos Comércios e Mercados” tem crescido consistentemente ao longo dos anos, principalmente a partir de 2015, comportando 22 milhões de pessoas e representando 23,3% da população ocupada no 4º trimestre de 2019. A quantidade de “Trabalhadores Qualificados, Operários e Artesãos da Construção, das Artes Mecânicas e Outros Ofícios” permaneceu relativamente estável no período, totalizando 12 milhões de pessoas e uma participação em torno de 13.3%.
Dos 87,6 milhões de pessoas ocupadas no 1º trimestre de 2012, mais da metade (53%) trabalhava em i) “Ocupações Elementares” ou como ii) “Trabalhadores dos Serviços, Vendedores dos Comércios e Mercados” e iii) “Trabalhadores Qualificados, Operários e Artesãos da Construção, das Artes Mecânicas e Outros Ofícios”. Esse percentual tem variado pouco ao longo do tempo. No 4º trimestre de 2019, por exemplo, dos 94,5 milhões de pessoas ocupadas, cerca de 51,6 milhões (53%) ainda continuavam em um desses grupos. Esses grupos englobam ocupações consideradas simples, de baixa produtividade e com remunerações médias mais baixas do que os demais grupos. Os menos escolarizados tendem a estar concentrados nessas ocupações.
Por outro lado, uma pequena parcela dos trabalhadores estava alocada em ocupações que requerem uma maior instrução e que tendem a apresentar as melhores oportunidades salariais, tais como “Diretores e Gerentes” (4.4%) e “Profissionais das Ciências e Intelectuais” (11.3%). Vale ressaltar que o grupo “Profissionais das Ciências e Intelectuais” aumentou sua participação em 2 p.p, no período, comportando 10,6 milhões de trabalhadores.
Figura 1 – Evolução das participações dos grandes grupos ocupacionais do Brasil
no 1º trimestre de 2012 a 2º trimestre de 2021 - BR
O incremento de 6,9 milhões na população ocupada entre 2012.T1 e 2019.T4 ocorreu principalmente pela expansão dos “Trabalhadores dos Serviços e Vendedores dos Comércios e Mercados”. Esse grupo é composto por cozinheiros, garçons e atendentes de bar, cabelereiros, vendedores de rua e postos de mercado, comerciantes, dentre outros. Em “Ocupações Elementares” estão os trabalhadores domésticos, de limpeza, ajudantes de preparação de alimento, lavadores de veículos, janelas e limpeza manuais, ambulantes dos serviços e afins, coletores de lixo, dentre outros.
Observa-se que a remuneração média dos grupos ocupacionais possui níveis distintos, com ocupações que exigem mais qualificação oferecendo melhores salários. Trabalhadores das “Ocupações Elementares”, por exemplo, têm apresentado o menor rendimento médio ao longo do tempo. No 4º trimestre de 2019, o rendimento médio habitual desse grupo (R$ 1.119) era distante, inclusive, do segundo e terceiro GG com menores rendimentos, que foram os “Trabalhadores Qualificados da Agropecuária, Florestais, da Caça e da Pesca” (R$ 1.652) e os “Trabalhadores dos Serviços, Vendedores dos Comércios e Mercados” (R$ 1.773). Já os “Diretores e Gerentes” e “Profissionais das Ciências Intelectuais” foram os GG com os maiores salários médios, com R$ 7.088 e R$ 5.757, respectivamente.
De acordo com as Figuras 1B e 1C, os trabalhadores formais estão distribuidos de forma menos desigual entre os dez grupos ocupacionais do que os informais e as participações dos GG 1 a 4 são bem maiores entre os formais do que os informais. Por exemplo, entre os trabalhadores formais, 12,8% eram “Trabalhadores do Apoio Administrativo”, 14,2% eram “Profissionais das Ciências e Intelectuais” e 7,1%s eram “Diretores e Gerentes” no 4º trimestre de 2019. Entre os informais essas participações foram de 3%, 8,1% e 1,5%, respectivamente.
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