Padrões ocupacionais do mercado de trabalho brasileiro

26 nov 2021

Em 9 anos, houve alta de “trabalhadores dos serviços e vendedores dos comércios e mercados” e recuo de “ocupações elementares”. No 2º tri/21, mais de 50% dos trabalhadores eram de serviços/comércios (18,2 mi), ocupações elementares (14,2 mi) ou operários/artesãos (11,6 mi).

Buscando analisar o mercado de trabalho sob a perspectiva das ocupações, investigamos a evolução do emprego por grandes grupos ocupacionais (GG) entre o 1º trimestre de 2012 e 2º trimestre de 2021. Vale ressaltar que será dada maior ênfase até o 4º trimestre de 2019 para evitar inferir padrões com base em períodos atípicos que podem conter efeitos transitórios, como foi o caso da pandemia da Covid que ocorreu entre os anos 2020 e 2021.

Além disso, analisamos em que medida as heterogeneidades educacionais dos trabalhadores ajudam a compreender os padrões ocupacionais existentes. Os dados são provenientes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC). A Figura 1 apresenta a evolução das participações dos grupos ocupacionais. Quanto mais larga a faixa, maior a quantidade de trabalhadores no grupo e, consequentemente, maior a sua participação no emprego total.

A quantidade de trabalhadores em “Ocupações Elementares” caiu de 18,2 milhões para 16 milhões, reduzindo sua participação de 20,8% para 16,9% entre o primeiro trimestre de 2012 e quarto trimestre de 2019 (Figura 1A). Por outro lado, o número de trabalhadores dos “Serviços e Vendedores dos Comércios e Mercados” tem crescido consistentemente ao longo dos anos, principalmente a partir de 2015, comportando 22 milhões de pessoas e representando 23,3% da população ocupada no 4º trimestre de 2019. A quantidade de “Trabalhadores Qualificados, Operários e Artesãos da Construção, das Artes Mecânicas e Outros Ofícios” permaneceu relativamente estável no período, totalizando 12 milhões de pessoas e uma participação em torno de 13.3%.

Dos 87,6 milhões de pessoas ocupadas no 1º trimestre de 2012, mais da metade (53%) trabalhava em i) “Ocupações Elementares” ou como ii) “Trabalhadores dos Serviços, Vendedores dos Comércios e Mercados” e iii) “Trabalhadores Qualificados, Operários e Artesãos da Construção, das Artes Mecânicas e Outros Ofícios”. Esse percentual tem variado pouco ao longo do tempo. No 4º trimestre de 2019, por exemplo, dos 94,5 milhões de pessoas ocupadas, cerca de 51,6 milhões (53%) ainda continuavam em um desses grupos. Esses grupos englobam ocupações consideradas simples, de baixa produtividade e com remunerações médias mais baixas do que os demais grupos. Os menos escolarizados tendem a estar concentrados nessas ocupações.

Por outro lado, uma pequena parcela dos trabalhadores estava alocada em ocupações que requerem uma maior instrução e que tendem a apresentar as melhores oportunidades salariais, tais como “Diretores e Gerentes” (4.4%) e “Profissionais das Ciências e Intelectuais” (11.3%). Vale ressaltar que o grupo “Profissionais das Ciências e Intelectuais” aumentou sua participação em 2 p.p, no período, comportando 10,6 milhões de trabalhadores.

Figura 1 – Evolução das participações dos grandes grupos ocupacionais do Brasil
no 1º trimestre de 2012 a 2º trimestre de 2021 - BR

O incremento de 6,9 milhões na população ocupada entre 2012.T1 e 2019.T4 ocorreu principalmente pela expansão dos “Trabalhadores dos Serviços e Vendedores dos Comércios e Mercados”. Esse grupo é composto por cozinheiros, garçons e atendentes de bar, cabelereiros, vendedores de rua e postos de mercado, comerciantes, dentre outros. Em “Ocupações Elementares” estão os trabalhadores domésticos, de limpeza, ajudantes de preparação de alimento, lavadores de veículos, janelas e limpeza manuais, ambulantes dos serviços e afins, coletores de lixo, dentre outros.

Observa-se que a remuneração média dos grupos ocupacionais possui níveis distintos, com ocupações que exigem mais qualificação oferecendo melhores salários. Trabalhadores das “Ocupações Elementares”, por exemplo, têm apresentado o menor rendimento médio ao longo do tempo. No 4º trimestre de 2019, o rendimento médio habitual desse grupo (R$ 1.119) era distante, inclusive, do segundo e terceiro GG com menores rendimentos, que foram os “Trabalhadores Qualificados da Agropecuária, Florestais, da Caça e da Pesca” (R$ 1.652) e os “Trabalhadores dos Serviços, Vendedores dos Comércios e Mercados” (R$ 1.773).  Já os “Diretores e Gerentes” e “Profissionais das Ciências Intelectuais” foram os GG com os maiores salários médios, com R$ 7.088 e R$ 5.757, respectivamente.

De acordo com as Figuras 1B e 1C, os trabalhadores formais estão distribuidos de forma menos desigual entre os dez grupos ocupacionais do que os informais e as participações dos GG 1 a 4 são bem maiores entre os formais do que os informais. Por exemplo, entre os trabalhadores formais, 12,8% eram “Trabalhadores do Apoio Administrativo”, 14,2% eram “Profissionais das Ciências e Intelectuais” e 7,1%s  eram “Diretores e Gerentes” no 4º trimestre de 2019. Entre os informais essas participações foram de 3%, 8,1% e 1,5%, respectivamente.

Acesse o artigo completo contendo todos os resultados da análise sobre os Padrões ocupacionais do mercado de trabalho brasileiro através do site do Observatório da Produtividade Regis Bonelli.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

 

 

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