Produtividade

A produtividade da indústria de transformação por atividades econômicas

17 set 2024

No período de apreciação cambial, produtividade subiu, indicando esforço competitivo da indústria da transformação  sinal claro de que apreciação beneficiou a IT, que pôde adquirir máquinas e equipamentos a preços reduzidos.

É fato aceito que a participação da Indústria de Transformação (IT) no PIB,[1] que mede o grau de desindustrialização, que chegou a representar, em 1985, 35,9% do valor adicionado (PIB), na comparação a preços correntes, declinou a partir daí chegando a 13,8% em 1998; teve uma efêmera recuperação para 17,8% em 2004 e voltou a declinar chegando às menores participações da série histórica em 2020 e 2021, com apenas 11,2% e 11,3% de participação, respectivamente. A preços constantes chegou a 20%, nos mesmos anos referidos, indicando que os preços da indústria cresceram mais do que o deflator do PIB no período da industrialização mais intensa. Seja qual for a ótica, entretanto, o cenário é de forte perda de participação da indústria no PIB do país; a preços constantes a participação da indústria no PIB é hoje de apenas 12,4%.[2]

É ainda aceito que a produtividade da IT tem declinado desde 1999 até 2021, embora se estabilizando a partir de 2015, conforme mostrado no Gráfico 5. Esse declínio foi bastante expressivo, de tal forma que o valor da produtividade em 2021 é apenas 84% do valor de 2000.

Em artigo recente (ainda preliminar), Bacha, et all[3] salientam esse desempenho medíocre e propõem uma investigação mais detalhada do que ocorreu com a produtividade, já que este problema seria o maior responsável pela desindustrialização brasileira, conforme mencionado acima.

Neste texto, vamos investigar o resultado da produtividade da Indústria de Transformação conforme estimada com as informações das Tabelas de Recursos e Usos (TRU). Isto será feito em dois períodos, tendo em vista alterações metodológicas: o primeiro período será de 1995 a 1999 (tenha acesso aos dados aqui) e o segundo período de 2000 a 2021 (tenha acesso aos dados aqui).

  1. Período 1995 a 1999

Para este período foi escolhido usar a Tabela de Recursos e Usos N43 (TRU N43) da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, que contém desagregação de 43 atividades, sendo 28 referentes à IT.[4]

Observa-se no Gráfico 2 que a produtividade do período tem duas trajetórias bem distintas: a preços de 1999, cresce 10,1% de 1995 a 1998 e depois cai 7,3%, sendo seu valor pouco abaixo daquele do ano de 1996.

Na comparação de todo o período, a IT cresce 2,1%, sendo que a soma das variações positivas e negativas resulta num crescimento de 2,5%.

No gráfico, 3 observa-se que, dos 28 subsetores desagregados, 9 têm variação negativa, destacando-se: material elétrico, equipamentos eletrônicos, produtos farmacêuticos, artigos do vestuário,  e fabricação de calçados.

No Gráfico 4, mostra-se a correlação da evolução da taxa anual de variação da produtividade da IT com cada um dos seus subsetores A maioria dos subsetores contribuiu para a evolução positiva da IT, embora 6  deles tenham contribuído negativamente, amenizando o crescimento.

Mesmo considerando que é necessária uma investigação mais profunda, fica claro que, no período de apreciação cambial, em que a IT teria sido mais prejudicada, a produtividade subiu, indicando um claro esforço para ser competitiva com o resto do mundo; isso é um sinal evidente de que tal ocorrência foi benéfica para a IT, que eventualmente pôde adquirir máquinas e equipamentos a preços reduzidos.

  1. Período 2000 – 2021

Para esse, período foi escolhido usar a TRU N51, que contém desagregação de 51 atividades, sendo 29 referentes à IT.

Observa-se no Gráfico 5 que a produtividade da IT do período, a preços de 2021, tem clara trajetória de queda: inicialmente chega em 2021 caindo 15% em relação a 2000; se estabiliza e volta a cair até seu ponto mais baixo em 2021, que é apenas 82% do valor de 2000.

No Gráfico 6, observa-se que, dos 29 subsetores da IT, 19 deles têm variação negativa no período e apenas10 têm variação positiva, com destaque para máquinas de escritório, tintas e perfumaria. No Gráfico 7, esse resultado é corroborado pelo resultado da soma das variações anuais, mostrando que a variação do período não é algo fortuito da comparação entre os extremos,

No Gráfico 8, mostra-se a correlação da evolução da taxa anual de variação da produtividade da IT com cada um dos seus subsetores. A maioria dos subsetores contribuiu diretamente para a evolução negativa da IT embora 4 deles (jornais, revistas e discos; produtos farmacêuticos; perfumaria, higiene e limpeza; artigos de plástico) tenham contribuído em direção contrária, amenizando a queda.

  1. CONCLUSÃO

A catástrofe da IT tem sido um fenômeno puxado por todos os seus subsetores, não se tratando de um resultado isolado de alguns setores.

APÊNDICE

  1. SUBSETORES DA IT DA TRU N43, REFERENTES AOS ANOS DE 1995-1999
  1. Minerais não-metálicos
  2. Siderurgia
  3. Metalurgia de não-ferrosos
  4. Outros metalúrgicos
  5. Máquinas e tratores
  6. Material elétrico
  7. Equipamentos eletrônicos
  8. Automóveis, caminhões e ônibus
  9. Outros veículos e peças
  10. Madeira e mobiliário"
  11. Papel e gráfica
  12. Indústria da borracha
  13. Elementos químicos"
  14. Refino do petróleo
  15. Químicos diversos
  16. Farmacêutica e de perfumaria
  17. Artigos de plástico
  18. Indústria têxtil
  19. Artigos do vestuário
  20. Fabricação de calçados
  21. Indústria do café
  22. Beneficiamento de produtos vegetais
  23. Abate de animais
  24. Indústria de laticínios
  25. Indústria de açúcar"
  26. Fabricação de óleos vegetais
  27. Outros produtos alimentares
  28. Indústrias diversas
  1.  SUBSETORES DA IT DA N51 REFERENTES AOS ANOS DE 2000-2021

1. Alimentos e Bebidas

2. Produtos do fumo

3. Têxteis

4. Artigos do vestuário e acessórios

5. Artefatos de couro e calçados

6. Produtos de madeira - exclusive móveis

7. Celulose e produtos de papel

8. Jornais revistas discos

9. Refino de petróleo e coque

10. Álcool

11. Produtos químicos

12. Fabricação de resina e elastômeros

13. Produtos farmacêuticos

14. Defensivos agrícolas

15. Perfumaria higiene e limpeza

16. Tintas vernizes esmaltes e lacas

17. Produtos e preparados químicos diversos

18. Artigos de borracha e plástico

19. Cimento e outros produtos de minerais não-metálicos

20. Fabricação de aço e derivados

21. Metalurgia de metais não-ferrosos

22. Produtos de metal - exclusive máquinas e equipamentos

23. Máquinas e equipamentos inclusive manutenção e reparos

24. Eletrodomésticos e material eletrônico

25. Máquinas para escritório aparelhos e material eletrônico

26. Automóveis camionetas caminhões e ônibus

27. Peças e acessórios para veículos automotores

28. Outros equipamentos de transporte

29. Móveis e produtos das indústrias diversas

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 


[1] Nestas comparações, a despeito de nos referirmos a PIB, estamos falando de Valor Adicionado total a preções básicos, ou seja, exclui os impostos sobre produtos.

[2] Ver CONSIDERA, Claudio e TRECE, Juliana “À Beira da Extinção, IBRE/FGV, Texto para Discussão no. 13, 2023,

[3] BACHA, Edmar L., TERZIANI, Vitor S., CONSIDERA, Claudio M., GUIMARÂES, Eduardo G., “Why Did Brazil Deindustrialize So Much? An Empirical Investigation” acessível no blog ao Instituto Casa das Garças

[4] Devido a problemas metodológicos com a série de pessoal ocupado no período de 1994-1990 não é possível utilizar as informações desse período.

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