Setor Externo
Economia Regional

As transações comerciais entre as regiões do Brasil e o resto do mundo

23 out 2025

Aproximadamente metade das transações comerciais do Brasil, no ano de 2018, sejam aquelas com outros países ou as transações interestaduais, foram do Sudeste (barra verde); e, as da região Sul (barra azul) representaram percentual próximo a 20%.

Introdução

Neste texto, analisa-se a relevância das transações comerciais entre as regiões brasileiras, seus estados e o resto do mundo. A maior parte da análise refere-se ao ano de 2018. Isto deve-se ao fato de as Tabelas de Recursos e Usos por Unidades da Federação (TRU-UF) terem sido divulgadas pelo IBGE unicamente para este ano[1].

Apesar da defasagem da TRU-UF, o objetivo deste texto é ampliar a compreensão sobre a composição estrutural das economias de cada região e de cada unidade da Federação, no tocante a transações com outras regiões, estados, e o resto do mundo, o que tende a ser relativamente estável no curto prazo. Os dados da Tabela de Recursos e Usos nacional (TRU), disponível até 2022, corroboram esta estabilidade ao mostrar percentuais semelhantes da participação da importação e da exportação na economia quando comparados ao longo dos anos. Por exemplo, as importações do Brasil representaram 8% do total da oferta a preços básicos[2] do país, em 2018, percentual semelhante aos 9% registrados em 2022. Já as exportações do país representaram 7% da demanda total, em 2018 e 9% desta em 2022.

Este trabalho dá continuidade à análise sobre a corrente de comércio regional iniciada em textos anteriores (“O Comércio Exterior do Brasil -1997-2024” e “O Comércio Exterior por Regiões e Estados Brasileiros 1997-2024”), publicados neste blog.

Considerando-se a extensão do trabalho completo, decidiu-se divulgá-lo semanalmente em seis partes: esta primeira, que é um resumo da análise para as cinco regiões do país e, outros cinco textos, com foco em cada região e seus estados. Futuramente, estes textos serão compilados e disponibilizados como Texto para Discussão no site do Portal do IBRE.

Dentre diversas possibilidades, as TRU-UF mensuram as importações que cada região, ou estado, fizeram, sejam de origem em outros estados ou regiões do país, ou do resto do mundo; e, as exportações que realizaram para outras regiões, estados, ou para o resto do mundo. A identificação das transações não apenas referentes ao comércio internacional, mas aquelas que ocorrem entre as unidades da Federação, é bastante importante e merece ser realçada, o que só é possível com a existência de uma TRU-UF.

A relevância dessa análise reside no fato de que, embora uma região ou unidade da Federação possa ter pequena participação nas importações e/ou exportações, comparada com o Brasil, na análise estrutural de sua economia, o comércio com outras regiões e com o resto do mundo podem ser extremamente relevantes.

Pelo Gráfico 1, nota-se que cerca de metade das transações comerciais do Brasil, em 2018, sejam aquelas com outros países ou as interestaduais, foram do Sudeste (barra verde); e, as da região Sul (barra azul) representaram percentual próximo a 20%.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Apesar da menor participação, de modo geral, das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste nas transações comerciais do Brasil com outros países, nota-se, conforme apresentado no Gráfico 2, que as participações da importação para o total da oferta regional e das exportações na demanda total são semelhantes entre as regiões. No caso das importações, observa-se, inclusive, que elas tiveram peso um pouco maior na oferta do Norte (barra azul escuro) e Nordeste (barra laranja), por exemplo, do que no Sudeste (barra verde escuro).

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

A menor representatividade das transações comerciais nacionais, quer sejam referentes à participação das importações na oferta doméstica, ou à participação das exportações no total demandado na economia, deve-se ao fato de essas se referirem apenas às transações comerciais com outros países, enquanto no caso das transações comerciais regionais, há relevante parcela referente às trocas interestaduais.

Outro ponto de destaque, a partir do exposto no Gráfico 2, é a menor participação das importações na oferta do Sudeste (barra verde escuro), e das exportações (barra laranja) na demanda do Nordeste. No primeiro caso, isto deve-se ao fato de o Sudeste ser a principal região exportadora líquida do país, sendo a única região a ter saldo positivo nas exportações líquidas nas transações interestaduais, como detalhado na Tabela 1.

Tabela 1 – Exportações líquidas (X-M) por regiões em 2018

 Em Milhões de Reais

                              Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Por fim, para reforçar a importância da análise do comércio das regiões e unidades da Federação do país com outros países, evidencia-se o fato de as exportações terem peso bem maior para a geração do PIB regional do que para o PIB nacional, fato este explicado, conforme anteriormente comentado, pela existência das transações interestaduais, enquanto para o Brasil só são contabilizadas as transações com outros países.

No Gráfico 3, apresenta-se o peso das exportações no PIB do país e no das regiões, em 2018. O total das exportações representou 14,6% do PIB nacional. No caso das regiões, em que se deve considerar o somatório das exportações para outros países e, também, para outras unidades da Federação, esse percentual superou os 40%, sendo o menor deles 40,5% (32,6% + 7,9%) no Nordeste e, o maior, 61,0% (42,6% + 18,4%) no Norte.

Fonte: IBGE – TRU-UF. Elaboração própria.

Com base nesses resultados, nota-se a importância de se analisar especificamente as pautas de cada estado tanto referente às transações internacionais quanto em relação às com outras unidades da Federação, que possuem impacto ainda mais expressivo em suas economias. Nos próximos textos, específicos para cada região, iremos concentrar nossa análise em quatro grupos de produtos, sendo três com características mais comercializáveis: (i) característicos da agropecuária; (ii) característicos da extrativa; (iii); característicos da transformação e (iv) outros produtos; que são compostos, majoritariamente, por produtos característicos de serviços, que possuem menor grau de comercialização.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Notas:

[1] Segundo o IBGE, a TRU-UF são estatísticas experimentais, desenvolvidas para avaliação da relevância da informação para a sociedade, sendo dados em fase de testes.

 

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