Macroeconomia

Alto desemprego no Brasil: Comparações internacionais

9 abr 2019

Como já amplamente divulgado e do conhecimento de todos, a recessão que o país passou foi muito forte, possivelmente levando à pior década de crescimento econômico dos últimos 120 anos. Nos últimos quatro anos, o PIB brasileiro recuou 1,2% ao ano, em termos reais, algo sem precedentes na história do país. Na comparação internacional, no biênio de crescimento negativo (2015 e 2016), mais de 90% dos países apresentaram um desempenho econômico melhor do que o Brasil. E a variável econômica mais sensível para a população, a taxa de desemprego, atualmente está em 12,4%, com mais de 13 milhões de desempregados.

A Tabela 1 mostra a taxa de desemprego em 2018 de dez países da América Latina, que correspondem a mais de 90% do PIB latino-americano. Segundo os dados da Bloomberg, o Brasil é o que apresentou a maior taxa de desemprego desse grupo.

Nos últimos cinco anos (três anos de recessão[1] – 14/16 – e dois anos de recuperação lenta e gradual da economia – 17/18), a taxa de desemprego brasileira foi maior do que a média da taxa de desemprego do mundo, dos países emergentes e da América Latina e Caribe,[2] segundo os dados do FMI contidos na Tabela 2.[3]

O Gráfico 1 mostra como a taxa de desemprego está bastante alta em comparação ao resto do mundo. No Gráfico 1, há a evolução da taxa de desemprego desde 1980 (quando se inicia a série do FMI) para as médias do mundo, emergentes e AL+Caribe, e para o Brasil, com os dados retropolados pelo IBRE/FGV desde o início da década de 1990, e da Pnad Contínua do IBGE desde 2012. No Jornal da Globonews – Edição das 10h de sexta-feira, 05/04/19, há uma matéria sobre comparações internacionais da taxa de desemprego. 

O Gráfico 2 mostra como realmente a taxa de desemprego é a última variável tanto a entrar quanto a sair da crise. No segundo trimestre de 2014, quando começou a recessão, a taxa de desemprego estava em 6,8%, tendo fechado o ano em 6,5%. Hoje em dia, mais de dois anos desde a saída da recessão, a taxa de desemprego está em 12,4%, um nível bastante desconfortável ainda.

Não tem muito jeito: para haver um aumento do emprego, e consequentemente diminuição do desemprego, a economia precisa reagir mais. Mas as projeções do IBRE, em linha com as expectativas de mercado, são de um crescimento do PIB próximo de 2,0% este ano. O Gráfico 3 é bastante ilustrativo, pois mostra a relação entre a atividade econômica (medida pelo PIB acumulado em 4 trimestres) e a geração líquida de vagas do CAGED. Pode-se observar que, para uma maior geração de vagas de empregos formais, a economia precisa crescer de forma mais sustentada.

Como todos sabem, o grande problema macroeconômico do Brasil hoje em dia é o fiscal. Após 16 anos de superávit primário (1998-2013), a partir de 2014 o país passou a apresentar déficit primário. Já são cinco anos consecutivos em que o país gasta mais do que arrecada, excluindo os juros. Com isso, a dívida bruta (em proporção do PIB) subiu fortemente. A média da dívida entre 2006 e 2013 foi de 55%, e, a partir de 2014, a dívida cresceu até chegar aos 77% atualmente. Por isso que a reforma da previdência é tão importante para o futuro do país, já que as despesas previdenciárias correspondem à grande parte das despesas primárias da União, sendo isso também um problema dos Estados e Municípios.

A Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia divulgou um relatório “Efeito da reforma da previdência no crescimento do PIB” com dois cenários para diversas variáveis macroeconômicas: com reforma da previdência e sem reforma. No primeiro cenário, de acordo com as projeções da SPE/ME, em 2023, o Brasil vai crescer 3,3%; com uma taxa de desemprego em 8,0%; dívida bruta próxima dos 75% do PIB; e uma taxa básica de juros de 5,6%, pouco menor do que a atual (6,5%, que é o nível mínimo histórico). No cenário oposto, o Brasil voltaria a apresentar uma queda do PIB já em 2021, e em 2023 apresentaria um recuo do PIB de 1,8%; com uma taxa de desemprego em 15,0%; dívida bruta maior do que 100% do PIB; e uma taxa básica de juros quase três vezes maior do que a atual, passando dos 18,0%. O Gráfico 4 mostra a evolução da taxa de desemprego nos dois cenários, além de um básico.

Portanto, reverter esse grave problema fiscal é de fundamental importância para manter, de forma sustentada, a inflação controlada e os juros baixos nos próximos anos, além de gerar mais crescimento e criação de empregos no país.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 


[1] De acordo com o Codace, a recessão durou do segundo trimestre de 2014 até o quarto trimestre de 2016.

[2] Médias simples dos países das amostras (mundo, emergentes e AL+Caribe).

[3] Para 2018, os dados são projeções do FMI.

Comentários

Leidiane
Bene

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