Macroeconomia

Com o avanço da pandemia do coronavírus, produtividade do trabalho recua 1% no primeiro trimestre de 2020

12 jun 2020

A recente divulgação, por parte do IBGE, das Contas Nacionais Trimestrais e dos dados da Pnad Contínua, permitiu o cálculo do indicador trimestral de produtividade do trabalho do IBRE/FGV.[1] Os indicadores do primeiro trimestre de 2020 apontaram para uma forte redução do nível de atividade econômica, com queda do valor adicionado de 0,2% em relação ao primeiro trimestre de 2019 e de 1,6% em relação ao quarto trimestre de 2019.[2] As horas trabalhadas apresentaram forte desaceleração no primeiro trimestre de 2020, com aumento de apenas 0,8% em relação ao primeiro trimestre de 2019.[3]

Esta desaceleração da atividade econômica e do mercado de trabalho no primeiro trimestre de 2020 está relacionada à eclosão da pandemia do coronavírus, que tem elevado de forma extraordinária o nível de incerteza em relação ao desempenho da economia.[4]

Uma das formas de se analisar a dinâmica da produtividade é através do crescimento interanual da série. Neste caso, analisa-se a taxa de crescimento de um determinado trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado desta análise, para o agregado da economia, pode ser encontrado no Gráfico 1.

Gráfico 1: Taxa de crescimento da produtividade agregada
(por hora trabalhada - em % em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Brasil

Fonte: Elaboração do IBRE com base nas Contas Nacionais Trimestrais e Pnad Contínua - IBGE

Podemos notar que a produtividade agregada apresentou queda de 1% no primeiro trimestre de 2020, em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. Este resultado, que apresenta uma piora em relação ao crescimento observado no quarto trimestre de 2019 (-0,6%), consolida o quadro de redução de produtividade observado nos últimos trimestres.

A análise setorial permite verificar que o processo de deterioração observado no desempenho da produtividade ao longo dos últimos anos se espalhou por vários setores da economia. Para entendermos a dinâmica setorial do crescimento da produtividade por hora trabalhada, leia o texto completo no Observatório da Produtividade Regis Bonelli.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 


[1]As medidas de produtividade agregada e setoriais foram construídas dividindo-se o valor adicionado obtido das Contas Nacionais Trimestrais pelo total de horas habitualmente trabalhadas em todas as ocupações, obtido da Pnad Contínua, que corresponde ao produto da jornada média pelo número de pessoas ocupadas. As horas habitualmente trabalhadas devem ter como referência uma semana em que não haja situações excepcionais que alterem a duração rotineira do trabalho (doença, férias, feriado, horas extraordinárias, redução de horário etc.), ou seja, uma semana típica de trabalho. No primeiro trimestre de 2020, com o avanço da pandemia do coronavírus e a redução da jornada de trabalho de grande número de trabalhadores formais e informais, houve um descolamento entre as horas habitualmente trabalhadas e as efetivamente trabalhadas, que incluem a redução de jornada por conta da pandemia. Os dados mostram que no primeiro trimestre de 2020 houve um aumento de 0,8% nas horas habitualmente trabalhadas e uma redução de 3,2% das horas efetivamente trabalhadas em relação ao primeiro trimestre de 2019. Resolvemos manter o uso de horas habituais na construção de nossas medidas de produtividade por dois motivos. Primeiro, devido à sua grande volatilidade, a medida de horas efetivas pode não estar capturando a contribuição média das horas trabalhadas ao longo do primeiro trimestre. Em segundo lugar, embora os indicadores trimestrais de produtividade sejam construídos com base nos dados de horas trabalhadas da Pnad Contínua, a série histórica de horas trabalhadas utilizada em nossos cálculos de produtividade é ancorada nas informações anuais da Pnad, que não disponibiliza dados de horas efetivamente trabalhadas. Logo, diante da necessidade de construirmos séries históricas e devido à alta volatilidade do dado de horas efetivamente trabalhadas no Brasil, optamos por manter, para o cálculo de produtividade do trabalho, o conceito de horas habitualmente trabalhadas. Com o aprofundamento da pandemia do coronavírus no segundo trimestre de 2020, acreditamos que as horas habitualmente trabalhadas também sofram forte redução.

[2]A queda do PIB no primeiro trimestre de 2020 foi de 0,3% em relação ao primeiro trimestre de 2019 e de 1,5% em relação ao quarto trimestre de 2019. O PIB equivale à soma do valor adicionado com os impostos (líquidos de subsídios) sobre os produtos.

[3] No quarto trimestre de 2019 as horas trabalhadas tiveram crescimento de 2,2% em relação ao mesmo período do ano anterior.

[4] Publicamos recentemente no Observatório da Produtividade Regis Bonelli um texto mostrando os primeiros impactos da crise do coronavírus no mercado de trabalho. Para acessar o artigo, entre no link: https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/mercado_de_trabalho_ja_comeca_a_sentir_os_primeiros_impactos_da_pandemia_do_coronavirus.pdf

 

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