Hiato do produto no primeiro trimestre de 2023 se torna negativo (-0,9%)
No 1º tri de 2023, hiato do produto voltou a terreno negativo (-0,9%): crescimento do produto efetivo (2,9%) foi inferior ao do produto potencial (5,1%). Ou seja, após um longo período de baixo crescimento, o PIB potencial cresce fortemente.
O HIATO DO PIB
Neste texto foram atualizadas, para o primeiro trimestre de 2023, as informações referentes ao hiato do PIB (neste link encontra-se o Excel das séries na qual se baseou este artigo).
Observa-se que o hiato do produto se tornou negativo a partir do primeiro trimestre de 2015 e assim permaneceu até o primeiro trimestre de 2022, quando a partir do segundo trimestre se tornou positivo (+0,5%). Isto se deveu ao crescimento do produto efetivo ter sido de +0,8% enquanto o produto potencial cresceu apenas +0,3%. No terceiro e quarto trimestre de 2022 o hiato continuou positivo graças ao crescimento do produto efetivo (0,3%) enquanto o produto potencial cai 0,5%. No primeiro trimestre de 2023 o produto efetivo cresce 2,9% e o potencial cresce 5,1%, conforme o Gráfico 1 ilustra. Ou seja, após um longo período de baixo crescimento que inclui taxas negativas de variação trimestral, desde 2014, o PIB potencial cresce continuamente, graças ao forte crescimento da PTF. Isto se deveu, principalmente, ao forte e surpreendente crescimento do produto efetivo neste primeiro trimestre de 2023.
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI). Elaboração própria.
Observa-se, no Gráfico 2, que a PTF apresentou tendência declinante na segunda metade da década de 1980 e início da década de 1990, fato que pode ser associado as diversas crises econômicas vivenciadas no Brasil neste período. Desde então, a tendência da PTF foi ascendente até 2011, tendo passado sem maiores dificuldades pela crise de 2008-2009. A partir de 2012 a trajetória se reverteu com declínio do nível da PTF que se prolongou até o quarto trimestre de 2015. A partir de 2017 o indicador volta a crescer, mas essa trajetória ascendente foi interrompida com a chegada da pandemia, em 2020. No entanto, logo no 3º trimestre de 2020 a PTF cresceu e alcançou o seu maior nível na série histórica. Contudo, a partir do 3º trimestre de 2021 ela volta a declinar, tendência que se observa até o quarto trimestre de 2022. Neste primeiro trimestre de 2023 apresenta crescimento acentuado, interrompendo a trajetória de queda.
Fonte: informações primárias do IBGE e elaboração própria
Ao se observar o Gráfico 3, abaixo, quando o resultado foca no longo prazo com a taxa acumulada de 4 trimestres, a PTF continua no campo negativo apesar do forte crescimento deste primeiro trimestre.
Fonte: informações primárias do IBGE e elaboração própria
Um outro olhar possível é o da decomposição do crescimento potencial, conforme apresentado no no Gráfico 4, abaixo. Observa-se que o bom desempenho da PTF neste primeiro trimestre de 2023 não significou contribuição positiva para o produto potencial; de fato, a contribuição foi principalmente do trabalho e do capital.
O Gráfico 5 apresenta as informações da evolução da utilização do capital e do trabalho em percentual dos seus potenciais. Ao longo dos últimos 40 anos, foi frequente a sobre utilização do uso de capital e a subutilização do fator trabalho. Algumas particularidades merecem ser destacadas: o fator capital foi, na quase totalidade do tempo, sobre utilizado, à exceção dos dois primeiros anos da década de 1990, durante a recessão de 2014-16 e no ano de 2020 durante a pandemia. A partir daí o fator capital volta a ficar sobre utilizado.
O fator trabalho na década de 1980 andou próximo à utilização plena e foi sobre utilizado em alguns anos desse período até o quarto trimestre de 1991; em seguida foi subutilizado no restante do período até 2013 quando a sua utilização cresce ficando com plena utilização até o segundo trimestre de 2015 quando volta a ficar subutilizado até atualmente, com alguns períodos de melhoria com os incentivos à manutenção do emprego durante a pandemia. A partir do final de 2020 o fator trabalho volta a ficar subutilizado.
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria.
O HIATO DO PRODUTO POR ATIVIDADE ECONÔMICA
Indústria
Conforme ilustrado no Gráfico 6, o hiato do produto industrial (aqui restrito as atividades de extrativa mineral, transformação e construção) tem sido sistematicamente negativo nos últimos 25 anos. E isso ocorre devido à redução do produto potencial (desde o segundo trimestre de 2013) e sua estagnação (desde o quarto trimestre de 2016). O produto efetivo sofre redução a partir do quarto trimestre de 2014 e fica praticamente estagnado a partir do quarto trimestre de 2016.
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria.
A Produtividade Total dos Fatores da indústria (Gráfico 7) passou por um longo período em tendência de queda, apesar de alguns altos e baixos de 1998 até o início de 2015, revertendo e voltando a crescer até o início da pandemia em 2020Q3. A partir daí voltou a cair, se recupera a partir do quarto trimestre de 2021 e, atualmente, gravita em índices próximos aos de 2012.
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria.
A produtividade do Trabalho, na quase totalidade dos trimestres, desde 1999, esteve abaixo da unidade, enquanto a do Capital foi superior a unidade no período inicial da série. A partir de 2008 tornou-se menor do que 1 em quase todos os trimestres (Gráfico 8).
O Gráfico 9 ilustra a utilização do capital e do trabalho em relação aos seus potenciais. A maior parte do período desde 1998 capital e trabalho estiveram entorno dos seus máximos de utilização. Entretanto, a partir de 2014 ambos passaram a ser bastante subutilizados e a partir de 2021 voltam a ficar mais próximos da utilização máxima.
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria.
Serviços
A Atividade de Serviços, neste trabalho, compreende as atividades de comércio, transportes, serviços de informação e outros serviços; exclui, portanto, intermediação financeira, serviços imobiliários e administração pública.
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria.
Conforme ilustrado no Gráfico 10, acima, a atividade de Serviços voltou a apresentar hiato negativo depois de ter tido um trimestre de hiato positivo em 2022Q3. E isto ocorreu à despeito de o produto potencial ter continuado estagnado até 2020. De fato, o produto potencial de Serviços ficou estagnado desde 2014, se recuperando a partir a partir do terceiro trimestre de 2020, enquanto e o produto efetivo tem se recuperado desde 2020 até o período recente.
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria.
A produtividade total dos fatores da atividade de serviços (Gráfico 11) teve queda intensa e contínua desde 1998 até o último trimestre de 2016, voltando a crescer até o período pandêmico quando retorna a trajetória de queda.
Por sua vez, ao se observar as produtividades dos fatores em separado verifica-se no Gráfico 11 que a produtividade do capital cai e fica estagnada a partir de 2014, enquanto a produtividade do trabalho está estagnada desde o início da série.
CONCLUSÃO
Em conclusão, os dados analisados revelam que o hiato do produto continuou em queda no primeiro trimestre de 2023, atingindo um valor negativo de -0,9%. Isso ocorreu devido ao crescimento do produto efetivo (2,9%) ter sido inferior ao crescimento do produto potencial (5,1%).
A decomposição do crescimento potencial revela que, apesar do bom desempenho da PTF, a contribuição principal para o produto potencial foi proveniente do trabalho e do capital. O uso do capital tem sido predominantemente sobre utilizado ao longo dos últimos 40 anos, com exceção de alguns períodos de recessão e a pandemia de 2020. Já o fator trabalho tem sido subutilizado na maior parte desse período, com alguns momentos de melhoria durante a pandemia.
No setor industrial, o hiato do produto tem sido consistentemente negativo nos últimos 25 anos, devido à redução e estagnação do produto potencial. A produtividade total dos fatores da indústria passou por um período de queda, seguido por um crescimento até a pandemia, mas atualmente está em níveis próximos aos de 2012. A produtividade do trabalho tem sido consistentemente inferior à unidade, enquanto a do capital teve uma queda após 2008.
No setor de serviços, o hiato do produto voltou a ser negativo no primeiro trimestre de 2023, apesar da recuperação do produto potencial desde 2020. A produtividade total dos fatores apresentou uma queda intensa e contínua até o final de 2016, seguida por um crescimento e posterior reversão durante a pandemia.
Em suma, os dados indicam um cenário de queda no hiato do produto no primeiro trimestre de 2023, refletindo desafios na utilização plena do potencial econômico. A recuperação da economia depende não apenas do crescimento da PTF, mas também da utilização eficiente do trabalho e do capital.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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