A nova década perdida brasileira e o resto do mundo – resultados per capita
O Brasil passou por uma profunda recessão entre 2014 e 2016, o que, de acordo com o Codace, mostrou-se o período com o pior biênio de crescimento econômico dos últimos 120 anos. Após a recessão, a recuperação nos três anos posteriores se arrastou com resultados medíocres. Adicionalmente, ocorreram outros choques negativos nesses anos, tais como a greve dos caminhoneiros em 2018, o desastre de Brumadinho, a crise argentina e a incerteza internacional, com a guerra comercial entre EUA e China, em 2019,[1] que tiraram alguns pontos percentuais do crescimento brasileiro. E, em 2020, veio a pandemia da Covid-19, paralisando a economia brasileira e mundial. O resultado final desse conjunto de desastres foi para o Brasil, mais uma década perdida na economia.
Ao se olhar para o crescimento do PIB per capita, o Brasil apresentou o pior desempenho dos últimos 120 anos, “empatando” com os anos 80, conhecidos como década perdida, com um recuo médio de 0,6% do PIB per capita, por ano (Gráfico 1).[2]
Numa comparação internacional, ao se olhar para as taxas de crescimento do PIB per capita (em moeda local),[3] 82% (156, numa amostra de 191) dos países do mundo apresentaram um desempenho melhor do que o Brasil na década passada (2011-20).
O Gráfico 2 mostra as taxas médias reais de crescimento do PIB per capita entre os anos de 2011 e 2020[4] para um conjunto de 13 países, que correspondem a 60,0% do PIB mundial.[5] A amostra contém os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), países da América Latina que geralmente são comparados com o Brasil (Chile, Colômbia, México e Peru) e quatro países desenvolvidos selecionados (EUA, Reino Unido, Japão e Alemanha). O Brasil foi o “segundo pior país”, à frente apenas da África do Sul. No extremo oposto, de melhores desempenhos, estão China e Índia com as taxas de crescimento mais robustas.
Em resumo, na década 2011-20, o PIB per capita brasileiro recuou, em média, 0,6% ao ano, mesma queda dos anos 80, conhecidos como década perdida. O Brasil ficou atrás de 82% dos países do mundo no crescimento da renda per capita nesse período. É preciso vacinar logo a maior parte da população, para acabar a pandemia, e a economia poder voltar a normalidade, dando continuidade a agenda de reformas. Ou seja, é preciso a diminuição das incertezas políticas, econômicas e sanitárias para o Brasil poder voltar a crescer e não ter mais uma década perdida.
ANEXO
Neste anexo os países são agregados em três grupos (Mundo, Economias Emergentes e América Latina e Caribe) e comparados com o Brasil. Nota-se, no Gráfico A-1 abaixo, que o PIB per capita (US$, PPP) das economias emergentes cresceu, por ano, 2,5% na década 2011-20. O PIB da América Latina recuou 0,6% por ano, em média, resultado bastante influenciado pelo peso médio do PIB do Brasil no PIB da AL que foi de 1/3 na década passada, portanto com bastante impacto no agregado latino-americano. Em US$, PPP, o recuo médio do PIB per capita brasileiro foi de 0,2% ao ano, um pouco menor do que a queda em R$ que foi de -0,6%. É possível, então, calcular um “PIB per capita mundial”, ponderado pelo peso das economias emergentes e avançadas, chegando-se no resultado de um crescimento médio anual para o Mundo de 0,4% na década 2011-20.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
[1] Segundo estimativas do Banco Central, os três eventos tiraram 0,67 p.p. do PIB de 2019. Ou seja, ao invés da taxa de crescimento do PIB ser de 1,1%, seria de 1,8%.
[2] De acordo com o IBGE, o PIB do Brasil recuou, em termos reais, 4,1% em 2020, e -4,8% para o PIB per capita.
[3] Nível do PIB per capita = nível do PIB, em preços constantes e moeda local, dividido pela população.
[4] Para 2020, o dado do Brasil é o efetivo, divulgado pelo IBGE. Para os demais países, projeções do FMI de outubro de 2020.
[5] PIB em US$, PPP.
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