O hiato do produto caiu no quarto trimestre de 2022, para +0,4%
O hiato do produto, que se tornou positivo no 2º tri (0,5%), cresceu para 1,8% no 3º tri e caiu no 4º tri para 0,4%. A partir do 4º tri de 2014, o aumento do produto potencial teve forte desaceleração e se mantém estagnado.
Neste texto foram atualizadas, para o quarto trimestre de 2022, as informações referentes ao hiato do PIB. Observa-se que o hiato do produto se tornou negativo a partir do primeiro trimestre de 2015 e assim permaneceu até o primeiro trimestre de 2022, quando, a partir do segundo trimestre, se tornou positivo (+0,5%). Isso se deveu ao crescimento do produto efetivo ter sido de 1,1%, enquanto o produto potencial caiu 0,1%. No terceiro trimestre, o produto efetivo cresceu 0,3%, enquanto o produto potencial caiu 0,9%; no quarto trimestre o produto efetivo caiu e o potencial cresceu 0,9%, conforme o Gráfico 1 ilustra. Ou seja, nos últimos dez anos ocorreu algo inédito ao longo de quatro décadas: um produto potencial praticamente estagnado desde 2014 e, em seguida, com tendência declinante a partir do quarto trimestre de 2019.
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI). Elaboração própria
Observa-se no Gráfico 2 que a PTF apresentou tendência declinante na segunda metade da década de 1980 e início da década de 90, fato que pode ser associado às diversas crises econômicas vivenciadas no Brasil nesse período. Desde então, a tendência da PTF foi ascendente até 2011, tendo passado sem maiores dificuldades pela crise de 2008-2009. A partir de 2012, a trajetória se reverteu, com declínio do nível da PTF que se prolongou até o quarto trimestre de 2015. A partir de 2017, a PTF voltou a crescer, mas essa trajetória ascendente foi interrompida com a chegada da pandemia, em 2020. No entanto, logo no 3º trimestre de 2020, a PTF cresceu e alcançou o seu maior nível na série histórica. A partir do 3º trimestre de 2021, porém, ela volta a declinar e segue, até o momento, com essa tendência.
Fonte: informações primárias do IBGE e elaboração própria
O Gráfico 3 apresenta as informações da evolução da utilização do capital e do trabalho em percentual dos seus potenciais. Ao longo dos últimos 40 anos, foi frequente a sobreutilização do capital e a subutilização do fator trabalho. Algumas particularidades merecem ser destacadas: o fator capital foi, na quase totalidade do tempo, sobreutilizado, à exceção dos dois primeiros anos da década de 90, da recessão de 2014-16 e do ano de 2020, durante a pandemia. A partir daí, o fator capital volta a ficar sobreutilizado. O fator trabalho na década de 80 andou próximo à utilização plena e foi sobreutilizado em alguns anos desse período, e até o quarto trimestre de 1991; em seguida, foi subutilizado até 2013, quando a sua utilização cresceu, ficando com plena utilização até o segundo trimestre de 2015. A partir daí, volta a ficar subutilizado até o momento atual, com alguns períodos de melhoria com os incentivos à manutenção do emprego durante a pandemia. A partir do final de 2020, o fator trabalho volta a ficar subutilizado.
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria
O hiato do produto por atividade econômica
Indústria
Conforme ilustrado no Gráfico 4, o hiato do produto industrial (extrativa mineral, transformação e construção) tem sido sistematicamente negativo nos últimos 24 anos. E isso ocorre devido à estagnação do produto efetivo e a despeito da estagnação do produto potencial, que parou de crescer a partir de 2012.
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria
A produtividade total dos fatores (PTF) da indústria (Gráfico 5) passou por uma longa queda, com altos e baixos de 1998 até o início de 2015, voltando a crescer até o início da pandemia. A partir daí voltou a cair.
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria
Serviços[1]
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria
A atividade de serviços, conforme ilustrado no Gráfico 6 acima, voltou a apresentar hiato negativo depois de ter tido um hiato positivo no terceiro trimestre. E isso ocorreu a despeito de o produto potencial ter permanecido estagnado. De fato, o produto potencial de serviços está estagnado desde 2014, e o produto efetivo tem se recuperado no período recente.
Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria.
A produtividade total dos fatores da atividade de serviços (Gráfico 7) teve queda intensa e contínua desde 1998 até o último trimestre de 2016, e voltou a crescer até o período pandêmico, quando retorna a trajetória de queda.
[1] A Atividade de Serviços, neste trabalho, compreende as atividades de comércio, transportes, serviços de informação e outros serviços; exclui, portanto, intermediação financeira, serviços imobiliários e administração pública.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
Comentários
Deixar Comentário