Macroeconomia

Posição relativa do PIB per capita do Brasil entre as maiores economias do mundo

16 dez 2020

Recentemente, no artigo “Como o Brasil se situa entre as maiores economias do mundo no pós-Covid”, publicado no Blog do IBRE, mostramos os “rankings” das maiores economias do mundo, com base nos dados do FMI, sob duas métricas: nível do PIB (dólares em preços correntes) e também em dólares, preços correntes, PPP (paridade de poder de compra). Lá concluímos que “em função da queda de atividade econômica do Brasil, somada á forte desvalorização cambial, o Brasil deve perder três posições, e passar a ser a 12º maior economia do mundo em 2020, segundo as projeções do FMI, com base nos dados do PIB em dólar. Já ao se comparar o PIB em US$ PPP, o Brasil deve ser a oitava maior economia do mundo neste ano, ‘melhorando’ duas posições”.

No presente artigo, vamos dar continuidade á discussão anterior, mostrando a posição do Brasil, dentre as maiores economias do mundo, mas com base no PIB per capita de cada país. Para calcularmos o PIB per capita, primeiro calculamos o nível do PIB em US$, PPP, e depois dividimos esse PIB pelo tamanho da população.[1] Diferentemente do post anterior acima mencionado, para o cálculo do PIB, selecionamos, de forma arbitrária, um ano para servir de base (no caso, o ano escolhido foi 2000).[2] Para este ano selecionado, utilizamos o nível do PIB, em US$, PPP (preços correntes), e a partir desse ano, adicionamos as taxas reais de crescimento do PIB de cada país. Com isso, procuramos eliminar o efeito do câmbio ao longo dos anos, com a evolução do nível do PIB dependendo, exclusivamente, da variação da atividade econômica, em moeda local.

A projeção do PIB para 2020 para o Brasil é das expectativas de mercado, do boletim Focus (-4,4%)[3] e FMI para os demais países. O anexo contempla uma discussão mais detalhada sobre essa métrica do PIB em US$, PPP, preços constantes. 

O Gráfico 1 mostra o nível do PIB per capita brasileiro, em US$, PPP, preços constantes de 2000, e o quanto que o PIB per capita brasileiro representa do PIB per capita norte-americano.[4]

O Gráfico 1 mostra que o PIB per capita brasileiro, em US$, PPP, preços constantes de 2000, estava em volta de US$ 9 mil no começo dos anos 2000, chegou ao máximo de US$ 12,4 mil em 2013, e desde 2014, com a recessão brasileira, recuou até US$ 11,3 mil em 2016, último ano da recessão 2014/16. Com a recuperação posterior, lenta e gradual, cresceu pouco, para US$ 11,6 mil em 2019. Porém, voltou a cair com a recessão de 2020, em função da pandemia do covid-19, devendo encerrar o ano em US$ 11,0 mil.

Por sua vez, a proporção do PIB per capita brasileiro em relação ao dos EUA era de 24% em 2000, chegou ao máximo de 30,5% em 2013, e desde a crise brasileira vem recuando até praticamente voltar aos patamares do começo da década passada, de 25%.[5]

Levando em consideração as maiores economias do mundo, em tamanho do PIB (em US$ e US$, PPP, preços correntes e preços constantes),[6] mostramos na Tabela 1 o PIB per capita desses países (US$, PPP, preços constantes de 2000). Para 2020, na comparação com 2019, com base nas projeções do FMI para o PIB dos demais países e Focus/BCB para o Brasil, observa-se que França e Reino Unido perdem posição (passando de 4º para 6º e 5º para 7º, respectivamente), sendo ultrapassados por Coréia do Sul e Japão (mudando de 7º para 4º e de 6º para 5º). México e China também mudaram de lugar (passando de 10º para 11º e de 11º para 10º). O Brasil se mantém na 12º. posição, acima de Indonésia e Índia.      

A Tabela 1 também mostra, na última coluna, a taxa real de crescimento do PIB per capita prevista para 2020 na comparação com 2019. Com base nessas projeções, o PIB per capita brasileiro deve recuar 5,1%. É importante frisar que a queda da atividade econômica neste ano também é influenciada, além dos impactos da crise sanitária, nos estímulos, sobretudo os fiscais, que os governos dos países implementaram. Caso o Brasil não tivesse adotado as medidas de combate ao coronavírus, sobretudo o Auxílio Emergencial, que beneficiou quase 70 milhões de brasileiros, o tombo do PIB e do PIB per capita seria maior ainda. Dessa lista de 14 países, oito (Alemanha, Canadá, Coréia do Sul, Japão, França, Reino Unido, Itália e Índia) devem apresentar quedas maiores da renda per capita do que o Brasil neste ano.A Tabela 2, ainda considerando as maiores economias do mundo, mostra o PIB per capita dos países em proporção do PIB per capita norte-americano. Enquanto Alemanha e Canadá representam em 2020 respectivamente 79 e 75% do PIB per capita dos EUA, para o Brasil a proporção é de 25%. Rússia e China guardam uma longínqua distância em relação aos Estados Unidos, sendo, respectivamente, de apenas 43 e 32% seus valores, relativamente ao PIB per capita americano.

Em resumo, este artigo procurou continuar a análise feita no Blog do IBRE em “Como o Brasil se situa entre as maiores economias do mundo no pós-Covid”, mas com o foco no PIB per capita (US$, PPP, preços constantes de 2000) dessa vez. Dentre as 14 maiores economias do mundo, em tamanho do PIB, o Brasil tem o décimo-segundo maior PIB per capita, acima somente da Indonésia e da Índia, sendo apenas 25% do PIB per capita dos EUA.

ANEXO

Neste anexo, mostramos a outra métrica adotada para classificar as maiores economias do mundo, e analisar a posição relativa do Brasil, que foi adotada para o texto acima. Olhamos para o nível do PIB em US$, PPP, preços constantes de 2000, que serviu de base para o cálculo do PIB per capita no presente artigo. Para o cálculo do PIB, selecionamos, de forma arbitrária, o ano 2000 como base, e a partir desse ano, colocamos as taxas reais de crescimento do PIB (em R$, para o Brasil, e nas moedas locais dos demais países) para eliminar o efeito do câmbio ao longo dos anos.

O Gráfico A.1 mostra a evolução do nível do PIB do Brasil, em US$, PPP, em preços constantes de 2000. A fonte dos dados é o FMI, e para a taxa de crescimento para 2020 do Brasil, utilizamos a mediana das expectativas de mercado, segundo o Boletim Focus do Banco Central, de -4,4%.[7]

O Gráfico A.2 mostra a posição do Brasil dentre as maiores economias do mundo, em US$, PPP, em preços constantes de 2000. Para 2020, as projeções são do FMI (menos para o Brasil, que utilizamos a Focus/BCB). Pelo gráfico, observa-se que, em US$, PPP, preços constantes de 2000, a posição brasileira foi a sétima entre 2011 e 2016, passando para o oitavo lugar em 2017 e permanecendo assim até o ano passado, e mantendo essa posição em 2020, de acordo com as projeções. 

A Tabela A.1 mostra a classificação dos países, segundo a métrica de US$, PPP, preços constantes de 2000, em 2019 e para este ano, segundo as projeções do FMI e da Focus/BCB para o Brasil. As posições não se alteraram entre 2019 e as projeções para este ano. Dentre esses oito países, Índia, Japão e Alemanha têm projeções de quedas do PIB maiores do que o Brasil.

Essas mudanças de posição do Brasil ao longo da década atual foram fortemente influenciadas pelo fraco desempenho econômico dos últimos anos. O Brasil passou por uma recessão muito forte em 2014/16, uma recuperação lenta e gradual no triênio posterior, e deve ter uma queda próxima de 5% neste ano, em função da crise do coronavírus. Com isso, o Brasil terá a segunda década perdida dos últimos 40 anos,[8] com uma estagnação (crescimento médio real anual de 0,2% ao ano do PIB e recuo médio de 0,6% por ano do PIB per capita) entre 2011 e 2020, conforme mostra o Gráfico A.3. Dentre as maiores economias do mundo, presentes nas Tabelas 1 e 2 deste artigo, na década atual, o Brasil só terá um desempenho econômico melhor (“menos pior”) do que França e Itália, países desenvolvidos, e que devem apresentar o dobro de queda de atividade econômica neste ano, em comparação com o Brasil (-9,8%, -10,6% e -4,5% para o PIB, respectivamente),[9] conforme indicam o Gráfico A.4 (PIB) e Gráfico A.5 (PIB per capita).



Em resumo, ao se utilizar o nível do PIB em US$, PPP, preços constantes de 2000, o Brasil se mantém na oitava posição entre as maiores economias do mundo, tanto no ano passado quanto neste ano. E, sob as três métricas analisadas[10] no anexo deste texto e no artigo anterior, o Brasil, tanto em 2019 quanto em 2020, oscilou entre a 8º. e 12º. posição, dentre as maiores economias do mundo.[11]   


[1] Fontes da população e projeções para 2020: IBGE para o Brasil e FMI para os demais países.

[2] Pode-se escolher, de forma arbitrária, qualquer ano base. O ano 2000 nos parece apropriado, por ser um ano sem grandes turbulências, tanto no Brasil quanto no mundo, que poderiam, de alguma forma, enviesar os resultados. Por exemplo, se utilizássemos o nível projetado do PIB para 2020, um ano atípico, em função da crise do coronavírus, e, para o Brasil, também com a forte desvalorização cambial, poderia, de alguma forma, modificar a análise.

[3] Focus de 04/12/20.

[4] PIB per capita dos EUA também em US$, PPP, preços constantes de 2000.

[5] Ver também Balassiano (2020), “Empobrecimento Relativo do Brasil nas Últimas Décadas”, publicado no Portal da FGV em 04/08/20.

[6] Países contidos nas Tabelas 2 e 3 do artigo “Como o Brasil se situa entre as maiores economias do mundo no pós-Covid”, publicado no Blog do IBRE em 10/11/20, e na TabelasA.1 do anexo deste artigo.

[7] Focus de 04/12/20.

[8] A outra foi nos anos 1980, cujo PIB cresceu, em termos reais, 1,6% ao ano entre 1981 e 1990.

[9] Na média 2011-2019, portanto sem os impactos da crise deste ano, a média de crescimento do PIB do Brasil foi de 0,7%, melhor apenas do que a Itália (0,1%). A França cresceu 1,3% ao ano, em média, e o Japão, 1,0%, nos nove anos do período selecionado. No PIB per capita, na média 2011-19, o Brasil foi o último colocado, “empatado” com a Itália (-0,1%).

[10] Além da métrica do PIB em US$, PPP, preços constantes, presente neste artigo, US$, preços correntes e US$, PPP, preços correntes.

[11] 2019: 8º. = US$, preços constantes de 2000; 9º. = US$, preços correntes; 10º. = US$, PPP, preços correntes. 2020: 8º. = US$, PPP, preços correntes e preços constantes de 2000; e 12º. = US$, preços correntes.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Comentários

Servulo Correa
Humberto Modene...

Deixar Comentário

To prevent automated spam submissions leave this field empty.