Macroeconomia

Produtividade do trabalho apresenta queda de 0,7% no terceiro trimestre de 2019

6 dez 2019

A recente divulgação, por parte do IBGE, das Contas Nacionais Trimestrais e dos dados da Pnad Contínua, permitiu o cálculo do indicador trimestral de produtividade do trabalho do IBRE/FGV.[1] Os indicadores do terceiro trimestre de 2019 apontaram para uma lenta recuperação do nível de atividade econômica, com crescimento do valor adicionado de apenas 1% em relação ao terceiro trimestre do ano passado, e alta de 0,6% em relação ao segundo trimestre de 2019.[2] Por outro lado, as horas trabalhadas cresceram 1,7%, quando comparado com o terceiro trimestre de 2018.

Uma das formas de se analisar a dinâmica da produtividade é através do crescimento interanual da série. Neste caso, analisa-se a taxa de crescimento de um determinado trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado desta análise, para o agregado da economia, pode ser encontrado no Gráfico 1.

Gráfico 1: Taxa de crescimento da produtividade agregada
(por hora trabalhada - em % em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Brasil

Fonte: Elaboração do IBRE com base nas Contas Nacionais Trimestrais e Pnad Contínua - IBGE

Podemos notar que a produtividade agregada apresentou queda de 0,7% no terceiro trimestre de 2019, em comparação com o terceiro trimestre de 2018. Este resultado, embora apresente uma melhora em relação ao observado no segundo trimestre de 2019 (queda de 1,6%), que havia sido o pior desde o primeiro trimestre de 2016, ainda é muito negativo, consolidando o quadro de redução da produtividade em 2019.

A análise setorial nos permite verificar que o processo de deterioração observado no desempenho da produtividade ao longo dos últimos anos se espalhou por vários setores da economia. O Gráfico 2 mostra o comportamento da taxa de crescimento da produtividade por horas trabalhadas, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, para a agropecuária, indústria e serviços.

Gráfico 2: Taxa de crescimento da produtividade dos grandes setores
(por hora trabalhada - em % e em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Brasil

Fonte: Elaboração do IBRE com base nas Contas Nacionais Trimestrais e Pnad Contínua - IBGE

No terceiro trimestre de 2019 houve crescimento expressivo da produtividade por hora trabalhada na agropecuária, enquanto que na indústria e serviços a produtividade continuou a cair. Na agropecuária, por exemplo, entre o segundo e o terceiro trimestre de 2019, a produtividade por hora trabalhada passou de queda de 1,5% para alta de 4,6%.

A redução de 0,7% na produtividade da indústria fez com que o setor acumulasse a terceira retração consecutiva em 2019. Este desempenho negativo observado nos três primeiros trimestres de 2019 interrompeu uma sequência de doze trimestres consecutivos de elevação da produtividade da indústria.

A análise desagregada da indústria ajuda a entender melhor a dinâmica da produtividade no setor. O Gráfico 3 mostra o comportamento da taxa de crescimento da produtividade por hora trabalhada da indústria de transformação e da construção.

Gráfico 3: Taxa de crescimento da produtividade dos principais subsetores da indústria
(por hora trabalhada - em % e em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Brasil

Fonte: Elaboração do IBRE com base nas Contas Nacionais Trimestrais e Pnad Contínua - IBGE

Após o pequeno aumento de 0,2% no segundo trimestre de 2019, a produtividade da indústria de transformação apresentou uma forte queda de 2,3% no terceiro trimestre deste ano. Já na construção, houve um crescimento de 3,7% no terceiro trimestre de 2019, bem superior ao aumento de 1,7% observado no segundo trimestre deste ano, mostrando uma forte recuperação na produtividade deste setor.[3] Este desempenho da construção impediu que o resultado agregado da indústria fosse ainda pior.

No setor de serviços, a produtividade por hora trabalhada apresentou queda de 1,3% no terceiro trimestre de 2019, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Analisando seu desempenho desde 2014, podemos observar que, com este resultado negativo do terceiro trimestre, o setor de serviços acumula o vigésimo segundo trimestre consecutivo de queda da produtividade por hora trabalhada.

A análise desagregada do setor de serviços ajuda a entender os motivos pelos quais o crescimento da produtividade deste setor ficou em território negativo nos últimos anos. O Gráfico 4 mostra o comportamento da taxa de crescimento da produtividade por hora trabalhada do comércio, do setor de transporte e do setor de outros serviços.[4]

Gráfico 4: Taxa de crescimento da produtividade dos principais subsetores dos serviços
(por hora trabalhada - em % e em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Brasil

Fonte: Elaboração do IBRE com base nas Contas Nacionais Trimestrais e Pnad Contínua - IBGE

No terceiro trimestre de 2019, a produtividade do comércio cresceu 1,7%, quando comparada com o mesmo trimestre do ano anterior. Este resultado foi superior ao observado no segundo trimestre de 2019, quando a produtividade deste setor havia crescido 1%.

Transporte e outros serviços, no entanto, estão apresentando um desempenho bastante negativo, intensificando, assim, a piora da produtividade do setor de serviços. Com a queda de 6,8% no terceiro trimestre de 2019, a produtividade do setor de transporte já acumula seu quarto trimestre consecutivo de queda.

No setor de outros serviços, a situação é ainda mais crítica. Com exceção de um pequeno aumento no terceiro trimestre de 2016, o setor tem apresentado taxas negativas de crescimento desde o segundo trimestre de 2014. No terceiro trimestre de 2019, a queda no setor de outros serviços foi de 2,7%, um pouco menor que a observada no segundo trimestre de 2019 (-3%), mas ainda assim muito negativa.

Em resumo, a piora do desempenho da produtividade agregada em 2019 está relacionada principalmente ao setor de serviços, que concentra 71% das horas trabalhadas no país. Dentro do setor de serviços, os setores de transporte e outros serviços, que correspondem a 52% das horas do setor, têm sido os principais responsáveis pela queda da produtividade.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Este artigo foi originalmente publicado no site Observatório da Produtividade, lançado nesta quarta-feira (4) pelo FGV IBRE. 


[1] As medidas de produtividade agregada e setoriais foram construídas dividindo-se o valor adicionado obtido das Contas Nacionais Trimestrais pelo total de horas trabalhadas em todas as ocupações, obtido da PNAD Contínua. Em função das revisões feitas nos dados de Valor Adicionado, passando de alta de 1% em 2017 e 1,1% em 2018 para elevação de 1,3% em 2017 e em 2018, o crescimento da produtividade nestes dois anos foi revisado para 1,2% e 0,1%, respectivamente.

[2] O crescimento do PIB no terceiro trimestre de 2019 foi de 1,2% em relação ao terceiro trimestre de 2018, e de 0,6% em relação ao segundo trimestre de 2019. O PIB equivale à soma do valor adicionado com os impostos (líquidos de subsídios) sobre os produtos.

[3] A revisão da série de Valor Adicionado da construção civil, divulgada pelo IBGE, gerou uma forte revisão no crescimento da produtividade deste setor nos anos de 2017 e 2018, passando de queda de 0,6% para queda de 2,5% e alta de 0,4% para recuo de 0,9%, respectivamente.

[4] O setor de outros serviços inclui serviços de alojamento e alimentação, serviços prestados às empresas, educação privada, saúde privada, serviços prestados às famílias e serviços domésticos.

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