Proporção de intermitentes e parciais: melhor esperar até que números fiquem menos voláteis
Passados um ano e dois meses da reforma trabalhista, voltamos a analisar a proporção de trabalhadores intermitentes e parciais em relação ao total do CAGED. Nossa motivação inicial para fazer esse acompanhamento foi reportagem da revista Carta Capital que, a nosso ver, exagerou a verdadeira relevância dos novos contratos trabalhistas. Como escrevemos no último post sobre esse tema (ver aqui), a maneira mais prudente de analisar tais dados seria esperar pelo menos dois anos da reforma, para assim ter uma visão mais fidedigna da importância desses novos contratos trabalhistas.
Como esperado, a proporção dos intermitentes e parciais tem flutuado bastante ao longo do tempo, em virtude da grande volatilidade mensal dos dados do CAGED. É justamente por essa elevada volatilidade que consideramos problemáticos os números trazidos pela revista Carta Capital. Ao utilizar o período de nove meses imediatamente posteriores à reforma, os números trazidos pela revista captaram um período em que não só as vagas em geral criadas foram muito pequenas, como também havia uma grande demanda por esses novos contratos.
Passados três meses da nossa última análise, conseguimos, através da divulgação de novos dados do CAGED, obter uma visão mais ampliada dessa dinâmica. Podemos observar que os meses de outubro e novembro do ano passado apresentaram grande geração de postos de trabalho, movimento que é típico do saldo do CAGED, contribuindo para uma diminuição da proporção de parciais e intermitentes. Por exemplo, a proporção desses novos contratos de trabalho chegou a alcançar apenas 16,8% em novembro do ano passado.
Porém, para dezembro de 2018, como esperado, houve um aumento dessa proporção de intermitentes e parciais, visto que é um mês que normalmente apresenta uma destruição expressiva de empregos (Tabela 1). Especificamente, a proporção de intermitentes e parciais cresceu substancialmente entre novembro e dezembro do ano passado, chegando a atingir o expressivo valor de 91,3% no último de 2018. Após o aumento passageiro em dezembro do ano passado, acreditamos que a proporção de intermitentes e parciais deve voltar a cair novamente a partir de janeiro de 2019.
Os resultados apresentados aqui reforçam nosso argumento de que, por conta da alta volatilidade dos dados do CAGED, somente em outubro de 2019, mês em que a reforma irá completar exatos dois anos de existência, é que teremos um número mais apropriado para entender a verdadeira relevância dos contratos intermitentes e parciais.
Tabela 1 - Admitidos (Adm.), Desligados (Desl.) e Saldo de empregos formais |
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Tempo decorrido desde a reforma trabalhista |
Trabalho intermitente e parcial (em milhares de trabalhadores) |
Total (em milhares de trabalhadores) |
Proporção dos intermitentes e parciais com relação ao total (em %) |
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Adm. |
Desl. |
Saldo |
Adm. |
Desl. |
Saldo |
Adm. |
Deslig. |
Saldo |
|
Oito meses desde a reforma trabalhista (nov/17 a jun/18) |
65,5 |
-30,1 |
35,4 |
9.672,3 |
-9.669,1 |
3,2 |
0,7% |
0,3% |
1097,6% |
Nove meses desde reforma trabalhista (nov/17 a jul/18) |
75,1 |
-35,5 |
39,6 |
10.891,5 |
-10.841,0 |
50,5 |
0,7% |
0,3% |
78,4% |
Dez meses desde a reforma trabalhista (nov/17 a ago/18)* |
88,4 |
-41,7 |
46,8 |
12.244,9 |
-12.084,0 |
161,0 |
0,7% |
0,3% |
29,1% |
Onze meses desde a reforma trabalhista (nov/17 a set/18)* |
100,0 |
-46,9 |
53,0 |
13.479,5 |
-13.181,2 |
298,3 |
0,7% |
0,4% |
17,8% |
Um ano desde a reforma trabalhista (nov/17 a out/18)* |
113,5 |
-53,4 |
60,1 |
14.759,0 |
14.403,0 |
356,0 |
0,8% |
-0,4% |
16,9% |
Um ano e um mês desde a reforma trabalhista (nov/17 a nov/18)* |
129,5 |
-59,8 |
69,7 |
15.948,4 |
15.533,7 |
414,7 |
0,8% |
-0,4% |
16,8% |
Um ano e dois meses desde a reforma trabalhista (nov/17 a dez/18)* |
142,8 |
-69,5 |
73,3 |
16.909,6 |
-16.829,3 |
80,2 |
0,8% |
0,4% |
91,3% |
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CAGED |
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*Dados de ago/18 e set/18 só foram divulgados após a publicação do artigo da revista Carta Capital |
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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