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Social

Soja deve explicar 20% do crescimento do PIB brasileiro em 2023

26 jun 2023

Em 2023, a expectativa de crescimento da produção nacional de soja é de 24,0%, o que levará a que pouco mais de 20% da alta do PIB este ano deva-se ao produto. E esse fato tem fortes implicações nas desigualdades regionais.

Muito já foi comentado sobre a influência da agropecuária para o expressivo crescimento do PIB brasileiro no 1º trimestre: na taxa trimestral interanual, observou-se crescimento de 4,0% do PIB. Em um exercício de contabilização do PIB excluindo o valor adicionado da atividade agropecuária, o crescimento da economia teria sido de apenas 2,7%. Para uma atividade que representa cerca de 7% do PIB, a contribuição de mais de 30% para o crescimento econômico ressalta a importância de se analisar detalhadamente esse setor. Como se verá diante, o resultado impressionante se explica pelo cultivo de soja, principalmente.

Este texto tem o objetivo de destrinchar a composição do valor adicionado da agropecuária nacional de forma a destacar a relevância da atividade de cultivo de soja nas regiões Sul e Centro-Oeste no desempenho do PIB de 2023. Isto é importante para mostrar que, além do desempenho econômico estar muito concentrado na atividade agropecuária, mesmo dentro desta atividade há também alta concentração da soja nestas duas regiões. Tal resultado acende o alerta para a fragilidade do crescimento da economia em 2023; com forte influência da agropecuária, e concentrado em duas regiões.

O DESEMPENHO DA SOJA 

A soja é o principal produto agrícola do Brasil, tendo ganhado grande relevância ao longo das últimas duas décadas. De acordo com dados da Produção Agrícola Municipal do IBGE (PAM), a soja representava 16% do valor da produção agrícola em 2000; em 2021 esse percentual chegou a 46%. Para 2022, estima-se que a participação tenha sido de 40%.

Em 2023, a expectativa de crescimento da produção de soja nacional é de 24,0%, segundo a LSPA referente ao mês de maio. De acordo com o perfil da colheita do Censo Agropecuário de 2005/2006, 93% da colheita de soja é realizada entre os meses de janeiro a abril, o que indica que a informação presente no relatório de maio da LSPA não deve divergir significativamente na divulgação efetiva da PAM.

Espera-se crescimento do valor adicionado da atividade agropecuária de 10,3% para 2023, de acordo com estimativa própria realizada com informações da LSPA, Pesquisas Trimestrais do Abate, do Leite e de Ovos, PAM e IPA. Mais de 80% desse resultado será devido a atividade de cultivo de soja. Em termos de contribuição, toda a atividade agropecuária deve contribuir com cerca de 0,7 p.p. para o PIB de 2023, sendo que, o valor adicionado apenas da atividade de cultivo de soja deve gerar contribuição em torno de 0,5 p.p.

De acordo com a última pesquisa Focus do Banco Central[1], a mediana das expectativas de crescimento para o PIB de 2023 está em 2,1%. Com base nisto, pode-se atribuir que pouco mais de 20% do crescimento da economia no ano deve ser diretamente explicado pela atividade de cultivo de soja. Além do resultado do PIB de 2023 ter grande influência da atividade agropecuária, nota-se também forte concentração dentro da atividade, com o cultivo de soja sendo o grande destaque.

A CONCENTRAÇÃO REGIONAL: REGIÕES SUL E CENTRO-OESTE 

A produção de soja nacional é bastante concentrada nas regiões Sul e Centro-Oeste, mais especificamente nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás, como pode ser observado na Figura 1.

Apesar disso, houve tendência de redução da participação dessas regiões na última década, como pode ser observado no Gráfico 2.

No contexto dessa clara tendência de redução da participação dessas regiões na produção de soja ao longo dos anos, destaca-se a forte perda de participação especificamente em 2022. Em apenas um ano, a participação declinou em cinco pontos percentuais (5 p.p.). As retrações da produção de soja no Rio Grande do Sul (-54,3%), Paraná (-38,6%) e Mato Grosso (-30,1%) explicam a perda de participação das regiões Sul e Centro-Oeste naquele ano, tendo em vista que metade da produção de soja dessa região estava nesses três estados, naquela época.

Em 2023, segundo a LSPA, há expectativa de aumento da participação dessas regiões para 76% da produção da soja nacional; patamar similar ao anterior a 2022. Para a maior parte dos estados que compõem as regiões Sul e Sudeste, a expectativa é que o crescimento seja tão expressivo que, além de compensar as fortes perdas observadas em 2022, leve a níveis recordes de produção de soja.

Na Tabela 1, é apresentada a expectativa de crescimento da produção de soja para 2023, de acordo com a divulgação de previsão de safra da LSPA referente a maio. Embora seja esperado aumento da produção de soja em todas as regiões do país, as magnitudes são muito distintas.

Tabela 1 - Taxa de crescimento esperado para a produção
de soja em 2023 - %

Brasil

24,0

     Norte

13,5

     Nordeste

2,3

     Sudeste

3,8

     Sul

61,8

     Centro-Oeste

19,7

                 Fonte: IBGE - LSPA de maio de 2023.

Por essa razão, a estimativa de crescimento do valor adicionado da agropecuária é tão discrepante entre as regiões brasileiras. No Gráfico 3 estão apresentadas as estimativas de crescimento do valor adicionado da agropecuária no Brasil e nas suas regiões em 2023. Pode-se observar que, enquanto a região Nordeste tem uma expectativa de crescimento de apenas 0,6% do valor adicionado da agropecuária, na região Sul esta taxa é de 27,1%. O forte crescimento de 10,3% esperado para a agropecuária nacional tende a mascarar essas diferenças regionais e dar a impressão de que a agropecuária está contribuindo fortemente para o desempenho econômico de todo o país da mesma forma; o que não é verdade.

Essas significativas diferenças são explicadas pela atividade de cultivo de soja. Do expressivo crescimento de 27,1% do valor adicionado da agropecuária no Sul, 25,9 p.p. deve-se ao cultivo de soja. No Centro-Oeste, 9,5 p.p. da expectativa de crescimento de 11,9% da agropecuária também se deve à atividade de cultivo de soja. Principalmente devido a essas duas regiões, o valor adicionado da agropecuária nacional deve crescer fortemente em 2023.

O Gráfico 4 mostra a composição do crescimento esperado para o valor adicionado da agropecuária nacional em 2023 por regiões. Nota-se que aproximadamente 90% desse crescimento é explicado pelas contribuições das regiões Sul e Centro-Oeste.

Devido a esses fatores, a contribuição da atividade agropecuária para o crescimento do PIB de 2023 diverge bastante, dependendo da região brasileira. O Gráfico 5 mostra que, no Brasil, estima-se que o valor adicionado da agropecuária irá contribuir em 0,7 p.p. para o crescimento do PIB de 2023; na região Sul a expectativa é que essa contribuição será mais que o triplo da nacional, enquanto na região Nordeste, será praticamente nula. Apenas com análise na agropecuária, já se nota que as regiões saem de contribuições muito diferentes para o PIB.

Além das diferenças de crescimento regionais, também há diferenças temporais. O Gráfico 6 apresenta estimativas de crescimento para a taxa trimestral interanual do valor adicionado da agropecuária para os trimestres de 2023. O primeiro trimestre já foi divulgado nas Contas Nacionais Trimestrais do IBGE (CNT). Para as estimativas calculadas para o próximo trimestre, a despeito da dificuldade de precisar esses resultados, destaca-se a tendência declinante para o desempenho agropecuário brasileiro ao longo do ano. O segundo trimestre ainda deve apresentar forte crescimento, embora abaixo do registrado no primeiro trimestre. No entanto, o terceiro e o quarto trimestre não contarão com o incremento da agropecuária para o PIB; pelo contrário, a contribuição do valor adicionado dessa atividade deve ser negativa no segundo semestre de 2023.

CONCLUSÃO

Estes resultados evidenciam que, embora a agropecuária tenha um desempenho relevante para a economia em 2023, o forte número esperado para o crescimento do valor adicionado dessa atividade não é observado da mesma forma dentro da própria atividade, nem nas regiões do país e nem mesmo em todos os trimestres do ano.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV


[1] Referente a 16 de junho.

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