Somente 16% dos países do mundo devem voltar em 2021 ao nível do PIB per capita pré-pandemia
Continuando a discussão do post “Posição relativa do PIB per capita do Brasil entre as maiores economias do mundo”, publicado no Blog do IBRE, sobre PIB per capita no mundo, este artigo tem como objetivo mostrar como deve ser a recuperação em 2021 do nível do PIB per capita (mundial, das economias emergentes, avançadas e da América Latina), segundo as projeções do FMI.
Fixando o ano de 2019, pré-crise do coronavírus, como base 100, se o nível em 2021 tiver passado dos 100, o país já terá recuperado totalmente as perdas da recessão de 2020. Caso contrário, ainda vai precisar recuperar-se das perdas. Para calcularmos o PIB per capita de cada um dos grupos acima mencionados, fixamos o nível do PIB, em US$/PPP de 2019 (preços correntes) como 100, e, para 2020 e 2021, projetamos as taxas reais de crescimento do PIB de cada grupo. Com isso, procuramos eliminar o efeito do câmbio ao longo dos anos, com a evolução do nível do PIB dependendo, exclusivamente, da variação real da atividade econômica, em moeda local. Após isso, dividimos o PIB (US$/PPP, preços constantes) pelo tamanho da população de cada grupo.
O Gráfico 1 mostra esse exercício para o nível do PIB per capita do mundo, das economias avançadas, das emergentes e da América Latina (AL), segundo as projeções do FMI.[1] Nesse cenário, o PIB per capita das economias emergentes recupera totalmente em 2021 as perdas da recessão de 2020 (em 2021, seu nível fica 0,4% acima do nível de 2019,). No caso das economias avançadas, o PIB per capita ainda vai estar, em 2021, 2,7% abaixo do nível de 2019. Com isso, a média do PIB per capita mundial em 2021 ainda vai estar 1,4% abaixo do nível pré-recessão de 2020. E, para a AL, grupo que o Brasil pertence, a perda é ainda de 6,5%. Mas é bom frisar que mesmo a recuperação do PIB per capita das economias emergentes é reflexo praticamente só da China, que, segundo as projeções do FMI, deve ter em 2021 um PIB per capita 9,6% acima do nível de 2019.
No caso do Brasil, com base nas expectativas de mercado (mediana do Boletim Focus) para o PIB,[2] e fazendo o cálculo análogo do PIB per capita dos grupos, chega-se à conclusão de que o PIB per capita brasileiro também não deve recuperar em 2021 todas as perdas de 2020. Com as projeções de queda do PIB per capita de 5,1% em 2020 e crescimento de 3,0% em 2021, o nível do PIB per capita brasileiro deverá ser, em 2021, 2,3% abaixo do nível pré-crise do coronavírus.
Agora, fazendo esse mesmo cálculo para os quase 200 países do mundo individualmente, construímos o Gráfico 3. De acordo com esses dados, somente 30 países no mundo (16%, num total de 189) devem voltar, em 2021, ao mesmo nível do PIB per capita pré-coronavírus. Desse total, são 26 emergentes[3] (17%, de um total de 151) e quatro avançados[4] (11%, de 38 no total). Na América Latina e Caribe, somente a Guiana voltará em 2021 ao nível do PIB per capita pré-pandemia, dentre 33 países, no total. Esses 30 países têm um peso de 27,3% na economia mundial. Mas somente o peso da China é de 17,4%, e o dos demais juntos, 9,9%.[5]
Em resumo, este artigo procurou mostrar que a maior parte do mundo ainda não deve voltar em 2021 à mesma renda per capita de antes da crise de 2020. Tal recuperação deverá ficar para 2022. Isso reforça mais ainda a importância nos próximos meses da produção em larga escala e distribuição efetiva das vacinas já descobertas e das que ainda vão ser aprovadas para acelerar essa recuperação, pois somente com o fim da pandemia a economia brasileira e mundial vai poder se recuperar totalmente das perdas da recessão de 2020.
[1] Projeções de outubro de 2020.
[2] Focus de 08/01/20 (-4,4% para o PIB em 2020 e +3,4% para o PIB de 2021).
[3] Guiana, China, Vietnã, Myanmar, Turcomenistão, Ruanda, Sérvia, Moldova, Tajiquistão, Guiné, Brunei Darussalam, Côte d'Ivoire, Indonésia, Iraque, Tuvalu, Eritreia, Lao P.D.R., Uzbequistão, Egito, Gana, Bulgária, Quênia, Polônia, Camboja, Mongólia, Djibouti.
[4] Lituânia, Taiwan, Irlanda e Coréia.
[5] Peso do PIB em US$, PPP, preços correntes, no ano de 2019.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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