Macroeconomia

Hiato no terceiro trimestre de 2020 é de -6,7%

7 dez 2020

O hiato do produto, ilustrado no Gráfico 1, se reduziu substancialmente dos -14,2% do segundo trimestre, valor mais negativo da série histórica, para -6,7% no terceiro trimestre, com o arrefecimento do isolamento social, com impacto no setor de serviços e nas atividades industriais.

É importante ressaltar que um dos aspectos de confiabilidade no cálculo do nosso hiato é de que a adição de uma informação adicional à série não provoca alteração substancial no cálculo do hiato dos períodos anteriores.

É interessante notar que o hiato do produto foi positivo desde o segundo trimestre de 2006 até o início de 2014, com pequena queda na crise de 2008-09.


 Fonte: Várias, Elaboração dos autores

O Gráfico 2 mostra a evolução do crescimento econômico brasileiro por períodos escolhidos e a contribuição de cada fator de produção e da produtividade total dos fatores (PTF). Durante todo o período de 1984.3 até 2020.3 a economia cresceu em média 2,5% anuais, com contribuição dos fatores trabalho (1,1 pp), do fator capital (1,0 pp), e apenas 0,2 pp da PTF. Desagregando o período em décadas, vê-se que:

  •  De 1984.3 até 1990, a maior contribuição foi do fator capital (2,0 pp), com o trabalho contribuindo menos (1,6 pp) e a PTF contribuindo negativamente (-0,3 pp);
  • Nas duas décadas seguintes, todos os fatores contribuíram positivamente e o destaque da PTF se deu nesse período, tendo alcançado sua maior contribuição durante a década de 2001-2010;
  • Na década atual, os fatores trabalho e capital contribuíram positivamente, mas a PTF volta a contribuir negativamente. Nesse período o produto potencial cresceu graças, principalmente, à contribuição do fator trabalho que excedeu, em muito, a sua contribuição ao produto efetivo.
  • Registre-se que nossas estimativas não indicam qualquer pressão do mercado de trabalho durante a década que finda, tendo o fator trabalho contribuído para o produto potencial bem acima do que contribuiu para o produto efetivo.


 Fonte: Várias, Elaboração dos autores

Como pode ser visto no Gráfico 3, que mostra a evolução da PTF, ela cresceu de 1983.1 até 1987.1 e caiu bastante até 1990.4, quando começa a crescer fortemente até 2011.2. Como já referido, a contribuição da PTF ao forte crescimento econômico do período 2001-2010 foi substancial (1,0 pp), embora o capital e o trabalho tenham contribuído um pouco mais (ambos com 1,3 pp).

No período recente (2011 a 2020.3), de fraco crescimento do PIB (0,7% a.a. em média), a PTF voltou a contribuir negativamente (-0,2 pp), oscilando em queda durante o período da recessão, e posterior crescimento até a recessão da pandemia, quando desaba.


Fonte: Várias, Elaboração dos autores

É notável que o baixo crescimento da economia brasileira segue bastante ancorado no fator trabalho e isso é uma questão preocupante. Com o fim do bônus demográfico espera-se diminuição da contribuição desse insumo ao crescimento, lembrando que as economias mais ricas não possuem seu crescimento sustentado em trabalho.

Analisando o hiato do produto da indústria é possível ver que a atividade se encontra ainda mais afastada do potencial do que a economia como um todo. O hiato dessa atividade foi de -7,1% no terceiro trimestre, após ter registrado -15,3% no trimestre anterior, devido à pandemia.


Fonte: Várais, elaboração dos autores

O hiato do produto do setor de serviços no terceiro trimestre foi de -4,4%; apesar da alta correlação com o hiato do PIB, a série anda em um nível mais acima, tendo registrado um hiato de -13% no segundo trimestre.


Fonte: Várias, Elaboração dos autores


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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