Ocupações em ascensão e em declínio no Brasil
As ocupações que mais têm crescido no Brasil nos últimos anos são as relacionadas aos serviços, tais como “outros vendedores” (16,3% a.a.) e “vendedores de rua e postos de mercado” (11% a.a.). Embora “dirigentes de TI” e “especialistas em base de dados” estejam entre as dez que mais cresceram, ainda temos uma parcela muito pequena de trabalhadores em ocupações de TI.
O crescimento exponencial das tecnologias digitais, combinado com o rápido desenvolvimento e implantação da robótica, inteligência artificial (IA) e novas plataformas tecnológicas, está acelerando o ritmo das mudanças no mercado de trabalho. Esses fenômenos, por sua vez, geram mudanças nas ocupações e nas demandas por habilidades.
Nos países desenvolvidos as ocupações compostas principalmente por tarefas repetitivas estão cada vez mais sendo automatizadas, e a demanda por trabalhadores nessas ocupações está diminuindo. Em contraste, as ocupações que requerem tarefas não repetitivas e, portanto, não facilmente automatizadas, estão crescendo ao longo do tempo (OCDE 2018).
Estudos indicam que o declínio de algumas ocupações tenderá a ser compensado pelo surgimento e crescimento de outras ocupações do “futuro”. De acordo com o World Economic Forum (2020), os empregadores esperam que até 2025, as funções cada vez mais redundantes caiam de 15,4% da força de trabalho para 9% e que as profissões emergentes cresçam de 7,8% para 13,5%. O relatório também destaca que, mundialmente, há uma demanda crescente dos empregadores por Analistas e Cientistas de Dados, Especialistas em IA, Engenheiros de Robótica, Desenvolvedores de Software e Aplicativos, Especialistas em Automação de Processos e Analistas de Segurança da Informação.
Buscando compreender quais são as principais transformações ocupacionais que o mercado de trabalho brasileiro tem vivenciado nos últimos anos e analisar se as tendências de ascensão e declínio das ocupações no Brasil estão em consonância com as dos países desenvolvidos, empregamos uma abordagem similar à de Amaral et al. (2018). Utilizando os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar Contínua (PNADC) entre os anos de 2012 e 2019, estimamos, a partir de uma tendência linear, quais ocupações mais cresceram e declinaram no Brasil (total, formais e informais) e nas cinco regiões ao longo desse período.
A análise das ocupações em ascensão e em declínio proposta no nosso estudo revelou pelo menos quatro tendências no Brasil: 1) crescimento das ocupações relacionadas a tecnologia intensiva, tais como dirigentes de serviços de TI e comunicações (9,9% a.a.) e especialistas em base de dados e em redes de computadores (9,8% a.a.); 2) aumento de ocupações “centradas nas pessoas”; 3) declínio de funções administrativas e técnicas associadas às funções repetitivas e operacionais e 4) expansão dos empregos relacionados aos serviços, tais como outros vendedores (16,3% a.a.) e vendedores de rua e postos de mercado (11,0% a.a.).
As três primeiras tendências observadas são compatíveis com as evidências internacionais, em particular com os resultados de Amaral et al. (2018), que apontam que funções com uso intensivo de tecnologia estão entre as principais ocupações emergentes em diversos países, incluindo o Brasil[1]. Segundo o World Economic Forum (2020), o conjunto de profissões emergentes refletirá a importância contínua da interação humana na nova economia, com o aumento da demanda por empregos na economia do cuidado; funções em marketing, vendas e produção de conteúdo. A quarta tendência está muito relacionada às características da economia e do mercado de trabalho brasileiro, em que o setor de serviços se destaca. Essa tendência também ocorre em todas as regiões.
Embora essas tendências tenham sido observadas no Brasil, é necessário destacar que as ocupações relacionadas a TI ainda representam uma parcela muito pequena do total de empregos. Por outro lado, as ocupações de serviços, como vendedores, comerciantes, cabelereiros e cozinheiros comportam uma grande quantidade de trabalhadores e têm apresentado incrementos consideráveis ao longo dos anos, algumas delas com taxas de crescimento superiores às verificadas em ocupações de TI.
Esses achados sugerem que as mudanças na força de trabalho e nas ocupações ocasionadas pelos rápidos avanços nas tecnologias digitais tenderão a acontecer em um ritmo mais lento no Brasil do que nos países desenvolvidos. Isso se deve às características próprias do mercado de trabalho brasileiro, que possui uma força de trabalho com baixa nível educacional e um grande contingente de pessoas atuando informalmente, principalmente no setor de serviços.
[1] O estudo inclui a Austrália, França, Reino Unido, Índia, Argentina, Brasil, Chile, México e África do Sul.
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