Fatos estilizados sobre a evolução da produtividade do trabalho nas regiões brasileiras desde o início dos anos 2000
Após período de crescimento mais forte (2002-14), o cenário se deteriorou, em função do péssimo desempenho da produtividade entre anos de 2014 e 2019, causado pela perda de dinamismo econômico durante a recessão de 2014-2016.
Com o fim do bônus demográfico, a única forma de aumentar a renda per capita e gerar crescimento sustentável no Brasil nas próximas décadas será por meio da elevação da produtividade do trabalho. Por isso, discussões sobre o tema de produtividade ganham cada vez mais importância.
Diante da relevância do tema e com o objetivo de contribuir ainda mais para a discussão, o FGV IBRE lançou o site do Observatório da Produtividade Regis Bonelli[1], reunindo uma ampla base de dados sobre produtividade para a economia brasileira, além de estudos e análises, a fim de fornecer informações para uma maior compreensão do tema e contribuir para a formulação de políticas públicas que possam aumentar a produtividade e impulsionar o crescimento econômico.
Em particular, uma das motivações para o aprofundamento de estudos relacionados à produtividade é a perda de dinamismo da economia brasileira ao longo dos últimos anos, intensificada pela forte recessão pela qual o país passou entre 2014 e 2016, uma das mais longas e profundas da história, seguida da sua recuperação lenta e gradual nos anos subsequentes. Esse cenário ficou ainda mais grave com a fraca recuperação da produtividade após o choque da pandemia, fazendo com que a discussão sobre esse tema ganhasse ainda mais importância.
Diante desse contexto, temos analisado cuidadosamente a dinâmica da produtividade brasileira ao longo dos últimos anos. No entanto, ainda existem poucas análises no âmbito regional. Em função disso e com o objetivo de entender melhor a heterogeneidade regional, apresentamos neste artigo alguns fatos estilizados sobre a dinâmica da produtividade do trabalho nas regiões brasileiras desde o ano de 2002.
Em geral, a literatura de produtividade utiliza a população ocupada como medida de insumo do fator trabalho. No entanto, isso não leva em consideração a tendência observada em diversos países, inclusive no Brasil, de redução da jornada de trabalho. Em consequência disso, o crescimento do fator trabalho pode estar sendo superestimado quando se usa o número de pessoas ocupadas, o que, por sua vez, resulta em um cálculo subestimado do aumento da produtividade. Por essa razão, os resultados apresentados neste texto utilizarão, como insumo do fator trabalho, o total de horas trabalhadas na economia.[2]
Começaremos a análise apresentando a dinâmica regional da produtividade por hora trabalhada entre 2002 e 2020.
Gráfico 1: Evolução da produtividade por hora trabalhada
– Brasil e regiões brasileiras – R$ de 2020.[3]
Fonte: Elaboração FGV IBRE com dados das Contas Regionais, da Pnad e da Pnad Contínua.
Em primeiro lugar, cabe observar que iremos analisar separadamente o ano de 2020 pois, como veremos adiante, foi um ano marcado por uma profunda transformação no mercado de trabalho, em função da pandemia de Covid, o que fez com que a produtividade do trabalho apresentasse uma alta atípica em todas as regiões do país.
Leia aqui o artigo completo na versão digital do Boletim Macro de fevereiro/2023.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
[1] O site pode ser acessado através do link: https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade
[2] As medidas de produtividade utilizadas neste texto foram construídas dividindo-se o Valor Adicionado obtido das Contas Regionais e das Contas Nacionais pelo total de horas trabalhadas em todas as ocupações, obtido da PNAD e da PNAD Contínua. Em particular, na Pnad Contínua o IBGE disponibiliza duas medidas de horas trabalhadas, são elas: horas habitualmente trabalhadas e horas efetivamente trabalhadas. Desde 2012, consideramos a variável de horas efetivamente trabalhadas, que podem incluir reduções por motivo de doença, feriado, falta voluntária, atraso ou por outra razão, bem como aumentos por conta de pico de produção e compensação de horas não trabalhadas em outro período, como sendo a principal medida do fator trabalho. No entanto, na PNAD anual não são disponibilizadas informações para horas efetivamente trabalhadas. Diante disso, para os anos anteriores a 2012, retropolamos a série de horas efetivamente trabalhadas com base na variação das horas habitualmente trabalhadas, visto que, com exceção do período da pandemia, desde 2012 não há grandes diferenças entre o crescimento de ambas as medidas. Para mais detalhes sobre a metodologia de construção dos indicadores regionais de produtividade do trabalho acesse o Observatório da Produtividade Regis Bonelli, através do link a seguir: https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/nota_de_construcao_dos_indicadores_regionais_-_anual.pdf
[3] As séries históricas de produtividade por pessoal ocupado e por hora trabalhada para o agregado da economia e para os principais setores estão disponíveis no Observatório da Produtividade Regis Bonelli através do link: https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade/temas/categorias/pt-regional
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