Blog do IBRE

Parcela de empresas de construção no Brasil que usam Building Information Modeling (BIM) atingiu 20,6% em março de 2024, ante apenas 9,2% em março de 2018. BIM Forum Brasil, lançado em 2018, é relevante para o avanço do BIM.

Há exatos seis ano publicamos aqui neste blog pela primeira vez o resultado dos quesitos especiais da Sondagem da Construção sobre a utilização do BIM pelas empresas da construção.

O Building Information Modeling (BIM) é uma ferramenta de digitalização do processo produtivo do setor, que, em sua versão completa, integra todas as fases, desde a elaboração do projeto, a orçamentação, o planejamento da obra, podendo alcançar até o pós-obra, ou seja, a fase de uso, operação e manutenção da edificação.

Essa digitalização traz inúmeras vantagens, pois, ao integrar as diversas fases, contribui para a redução significativa de erros comuns entre a fase de projetos e a produção propriamente dita. A eliminação desses erros reduz custos e a geração de resíduos. Assim, além de contribuir para aumentar a sustentabilidade do negócio, o BIM gera enormes ganhos de produtividade. 

Mas o BIM também exige grandes investimentos, tanto para a aquisição da ferramenta em si (software), quanto para treinamento das pessoas envolvidas nessas diversas fases, o que vai desde os projetistas, os gestores da construção, abrangendo a mão de obra mais qualificada e até aquela que está diretamente no canteiro. Portanto, é uma ferramenta que exige uma mudança de mentalidade dos gestores em relação à modernização e à adoção de inovações e que tem repercussões em todo o empreendimento. Tudo isso, a despeito dos grandes ganhos que sua utilização traz, torna-se um grande empecilho a sua disseminação no setor.

Em março de 2024, os quesitos referentes ao uso do BIM voltaram a ser aplicados na Sondagem da Construção. Dessa vez, houve um aumento significativo de empresas que já fazem uso da ferramenta: o percentual alcançou 20,6%. Entre as empresas de Edificações Residenciais, chega a 37,2%.

Sondagem da Construção: A empresa utiliza o BIM?
Março de 2024

 Fonte: FGV IBRE

A Análise de Projeto é a fase com maior uso do BIM, seguida pelas fases de Orçamento e Planejamento. A maior parte das empresas que assinalou Outros Motivos mencionou não ter interesse ou a não aplicabilidade da ferramenta para seu negócio.

Sondagem da Construção: Em quais fases dos empreendimentos
o BIM é utilizado - Março de 2024

Fonte: FGV IBRE

Sobre os motivos de a empresa não fazer uso da ferramenta, o percentual de desconhecimento permanece bastante elevado (30,7%), assim como as indicações para falta de demanda (33,5%).

Sondagem da Construção: Motivos para não utilizar o BIM, % de assinalações*
Março de 2024

* Pergunta com mais de uma resposta
Fonte: FGV IBRE

Na primeira pesquisa, realizada em março de 2018, apenas 9,2% das empresas mencionaram usar a ferramenta em alguma etapa do processo. A pesquisa seguinte, aplicada em setembro do mesmo ano mostrou que o percentual de empresas usando o BIM se mantinha inferior a 10%. Assim como em 2024, a maioria (47,2%) utilizava a tecnologia na fase de análise de projetos, enquanto os demais 25,3% e 27,5% indicaram o planejamento e a orçamentação, respectivamente.

A Sondagem realizada em março de 2019 mostrou que o percentual de empresas utilizando a ferramenta permanecia em 9,5%. Sobre os motivos para não fazerem uso do BIM, 39,6% mencionaram desconhecer a tecnologia, enquanto 18% apontaram a falta de demanda.

2024 deve ser um ano de crescimento para o setor, alavancado pelos investimentos de infraestrutura e do Minha Casa Minha Vida. Mas a retomada setorial ainda não se mostra disseminada: a falta de mão de obra qualificada para muitas empresas se contrapõe à falta de demanda para outras. De todo modo, para realizar o investimento em tecnologia, as empresas precisam de um horizonte de crescimento mais longo, que justifique a mudança, que envolve toda a empresa.

Desde 2018, o setor ainda não conseguiu engatar um ciclo de crescimento contínuo. Assim, a falta de previsibilidade da demanda do setor permanece como uma questão relevante na hora de realizar investimentos em tecnologia e modernização.

A reforma tributária em curso atualmente representa mais insegurança, pois ainda não se sabe qual será a alíquota que incidirá sobre a construção e os impactos nas margens e na demanda futura.

Por sua vez, o elevado percentual de desconhecimento da tecnologia surpreende. Mesmo que esse desconhecimento seja do respondente da pesquisa, ele mostra que não existe nessas empresas uma ação mais abrangente engajando todos. Afinal, a adoção do BIM exige qualificação e treinamento envolvendo pessoas de várias áreas do processo de produção. E existem muitos conteúdos gratuitos disponíveis online para informação básica sobre o tema.

De todo modo, apesar dos obstáculos, houve um avanço importante no uso do BIM nesses seis anos. Para isso contribuiu a ação institucional do setor público e das entidades setoriais.

Sondagem da Construção: A empresa utiliza o BIM?

Vale lembrar que no final de 2018 surgiu o BIM Forum Brasil, por iniciativa de especialistas que participaram da elaboração da Estratégia BIM Br, que se consolidou como entidade multissetorial relevante para o avanço do uso do BIM no país. Nesses seis anos, o Governo Federal publicou os Decretos da Estratégia Nacional de Disseminação do BIM. Foram executadas, em parceria com o setor privado, ações relacionadas ao tema no âmbito do Projeto ConstruaBrasil.

O Projeto ConstruaBrasil iniciou suas atividades em 2020, com 4 metas relacionadas ao BIM no eixo Digitalização, que resultaram na geração de modelos para ensino de BIM nas Universidades, estudos de apoio à implantação de BIM no setor público, e disponibilização de conteúdos gratuitos para capacitação dos interessados.

Paralelamente, as entidades setoriais como CBIC, ABRAMAT, ASBEA, SindusCon-SP, entre outras, realizaram diversos eventos para divulgação e formação de pessoal.

O aumento do uso do BIM mostra os efeitos positivos dessa ação pública e privada. Por outro lado, a Sondagem de março revela que o desafio para uma disseminação mais ampla ainda é grande.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.