Após elevação atípica em 2020, PTF apresenta forte queda em 2021
Embora a dinâmica da PTF seja correlacionada com a dinâmica da produtividade do trabalho, a PTF cresceu menos que a produtividade por hora trabalhada entre 1981 e 2021. Neste período, a PTF cresceu 0,3% a.a., e a produtividade por hora trabalhada cresceu de 0,6% a.a.
Com o fim do bônus demográfico, a única forma de aumentar a renda per capita do Brasil nas próximas décadas será por meio da elevação da produtividade do trabalhador. Por isso, discussões sobre o tema da produtividade ganham cada vez mais importância no meio acadêmico e entre os formuladores de política econômica.
Uma das medidas amplamente utilizadas é a produtividade do trabalho, que consiste no Valor Adicionado gerado por trabalhador ou por hora trabalhada. Esta variável, no entanto, não permite avaliar o grau de eficiência com que são utilizados os recursos produtivos. Um indicador que permite esta análise é a produtividade total dos fatores (PTF), que leva em consideração não somente a produtividade da mão-de-obra, mas também a eficiência do uso de capital.
Vários pesquisadores construíram indicadores de PTF para a economia brasileira, mas muitas vezes os dados não estão disponíveis para um público mais amplo ou a metodologia utilizada em sua construção não é descrita em detalhe.[1] Para suprir essas lacunas, o FGV IBRE passou a disponibilizar no site do Observatório da Produtividade Regis Bonelli indicadores anuais da PTF desde o início da década de 1980.
Neste sentido, este relatório tem o objetivo de analisar a evolução anual da PTF no Brasil desde 1981, com ênfase em seu comportamento desde 2020.[2] O Gráfico 1 mostra a evolução da PTF e da produtividade por hora trabalhada, de modo a permitir uma análise das diferenças existentes entre as duas medidas.[3]
Gráfico 1: Evolução da PTF e da produtividade por hora trabalhada. Brasil. (1981=100)
Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli. Elaboração do FGV IBRE com base
nas Contas Nacionais, Pnad, Pnad Contínua e Sondagem da Indústria do FGV/IBRE
O Gráfico 1 mostra que, embora o comportamento da PTF seja correlacionado com a dinâmica da produtividade do trabalho, a PTF cresceu menos que a produtividade por hora trabalhada entre 1981 e 2021. Enquanto a PTF cresceu 0,3% ao ano (a.a.) neste período, a produtividade por hora trabalhada apresentou avanço de 0,6% a.a., como mostra a Tabela 1.
Tabela 1: Crescimento da PTF e da produtividade por hora trabalhada (em % ao ano).
Brasil – períodos selecionados
Períodos |
PTF (H) |
Produtividade por Hora Trabalhada |
1981-1990 |
-0,6% |
-0,5% |
1990-2000 |
0,5% |
0,7% |
2000-2010 |
1,5% |
1,6% |
2010-2021 |
-0,2% |
0,5% |
2010-2014 |
0,4% |
1,2% |
2014-2019 |
-0,5% |
-0,3% |
2014-2021 |
-0,6% |
0,1% |
1981-2021 |
0,3% |
0,6% |
Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli. Elaboração do FGV IBRE
com base nas Contas Nacionais, Pnad, Pnad Contínua e Sondagem da Indústria do FGV/IBRE.
Com exceção do período 2010-2021, a PTF teve crescimento próximo da produtividade por hora trabalhada nas últimas décadas. Por exemplo, entre 1981 e 1990, enquanto a PTF apresentou queda de 0,6% a.a., a produtividade por hora trabalhada recuou 0,5% a.a. Na década de 1990 houve uma recuperação, com crescimento da PTF e da produtividade por hora trabalhada de 0,5% a.a. e 0,7% a.a., respectivamente. Nos anos 2000 a PTF teve forte aceleração para uma taxa de crescimento de 1,5%, muito próxima da elevação anual da produtividade do trabalho (1,6% a.a.). Já no período 2010-2021 houve um descolamento entre as duas variáveis, com aumento da produtividade por hora trabalhada de 0,5% a.a. e queda da PTF de 0,2% a.a.
Analisando-se este último período em mais detalhe, e considerando o crescimento das séries até o ano de 2019, podemos notar que parte significativa desta discrepância se concentrou entre os anos de 2010 a 2014, quando a produtividade por hora trabalhada cresceu em média 1,2% a.a. e a PTF aumentou apenas 0,4% a.a. A recessão que durou de 2014 a 2016 teve impacto negativo tanto na PTF quanto na produtividade por hora trabalhada. Em particular, entre 2014 e 2019, a PTF recuou 0,5% a.a., e a produtividade do trabalho teve redução de 0,3% a.a.
No entanto, ao incluirmos os anos de 2020 e 2021 na análise, podemos notar outra discrepância entre o crescimento da produtividade do trabalho e da PTF no subperíodo que vai de 2014 a 2021, em função do aumento mais acentuado da produtividade por hora trabalhada em 2020, apesar da forte queda em 2021. Em particular, após elevação de 12,1% em 2020, a produtividade por hora trabalhada recuou 8,3% em 2021.[4] Já a PTF, que havia avançado 6,1% em 2020, apresentou uma queda de 7,1% no ano passado.[5] No entanto, o comportamento da produtividade ao longo da pandemia precisa ser interpretado com cautela pois pode ter sido afetado pelas profundas mudanças que ocorreram na economia, como veremos adiante.
De modo a entendermos a importância da PTF para o crescimento da economia brasileira, a Tabela 2 apresenta uma decomposição[6] do crescimento do valor adicionado desde 1981 na contribuição de três componentes: estoque de capital em uso, horas trabalhadas[7] e PTF.
A análise completa contendo a decomposição do crescimento do valor adicionado pode ser acessada no site do Observatório da Produtividade Regis Bonelli.
[1] Para uma discussão sobre várias medidas de PTF para a economia brasileira, ver Veloso et. al (2013).
[2] Para maiores detalhes sobre a metodologia de cálculo da PTF, acesse a “Nota Metodológica dos Indicadores Anuais de Produtividade Total dos Fatores no Brasil desde a Década de 1980”, proposta por Veloso, Matos e Peruchetti (2020a) e disponível no Observatório da Produtividade Regis Bonelli através do link: https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade/artigos/nota-metodologica-dos-indicadores-anuais-de-produtividade-total
[3] Em geral, a literatura de produtividade do trabalho no Brasil utiliza a população ocupada como medida deste insumo. No entanto, isso não leva em consideração a tendência observada em diversos países, inclusive no Brasil, de redução da jornada de trabalho. Em consequência, o crescimento do fator trabalho pode estar sendo superestimado quando se usa o número de pessoas empregadas, o que por sua vez resulta em um cálculo subestimado da produtividade. Em função disso, utilizaremos as horas totais trabalhadas no cálculo das medidas de produtividade apresentadas neste relatório. Com o intuito de analisar as diferenças entre as medidas de PTF calculadas com base em medidas distintas do fator trabalho, apresentamos no apêndice os resultados que consideram o número de pessoas ocupadas como medida do fator trabalho utilizado no cálculo do indicador. Para uma análise detalhada da evolução da produtividade por hora trabalhada desde 1981, ver Veloso, Matos, Barbosa Filho e Peruchetti (2021), disponível no site do Observatório da Produtividade Regis Bonelli através do seguinte link: https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/relatorio_anual_pt_-_2021_-_final.pdf
[4] Para uma análise mais detalhada do comportamento da produtividade do trabalho desde 2020, acesse: https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/indicadores_trimestrais_de_produtividade_do_trabalho_-_4t2021_-_final.pdf
[5] Para uma análise mais detalhada do comportamento da PTF desde 2020, acesse: https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/indicadores_trimestrais_de_ptf_-_4t2021_-_final.pdf
[6] Por se tratar de uma decomposição, os termos referentes ao estoque de capital em uso e às horas trabalhadas são ponderados pelas respectivas participações na função de produção.
[7] O IBGE disponibiliza duas medidas de horas trabalhadas na Pnad Contínua: horas habitualmente trabalhadas e horas efetivamente trabalhadas. Desde 2012, utilizamos como medida do fator trabalho a variável de horas efetivamente trabalhadas, que podem incluir reduções por motivo de doença, feriado, falta voluntária, atraso ou por outra razão, bem como aumentos por conta de pico de produção e compensação de horas não trabalhadas em outro período. No entanto, na PNAD anual não são disponibilizadas informações para horas efetivamente trabalhadas. Diante disso, para os anos anteriores a 2012, retropolamos a série de horas efetivamente trabalhadas, com base na variação das horas habitualmente trabalhadas, visto que de 2012 a 2019 não há grandes diferenças entre o crescimento de ambas as medidas de horas trabalhadas. Para mais detalhes, acesse a nota de construção dos indicadores de horas trabalhadas e pessoal ocupado no link a seguir: https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/nota_de_construcao_dos_dados_de_emprego_e_horas_trabalhadas_-_final.pdf
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